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As meninas-chapinha
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Foi em um salão caro de bairro chique e tradicional de São Paulo_ o único lugar aberto para fazer a unha no feriado. De repente chegou uma menina. E outra. E mais outra. Todas bonitinhas nos seus menos de 20 anos (bem menos). Todas fofas. Aí comecei a reparar que eles tinham o cabelo liso por cima e meio cacheado por baixo.
Todas as meninas do bairro tinham ido ao salão, que devem freqüentar toda semana, para alisar o cabelo. Todas as meninas entraram ali para saírem iguais.
Se eu tivesse menos de 20 e morasse naquele bairro, talvez também fosse uma mina chapinha ou escova. Tudo para não ser diferente do grupo. Tudo para ser diferente de mim mesma. Se bem que, na minha época de escola, fui lá e raspei o cabelo máquina 2 e logo ganhei o apelido de Maria Alcina. Era horrível ser xingada na rua. Mas era ótimo ter orgulho de ser quem eu sou.
Tinha algo muito de triste nas meninas chapinha. Elas são muito novas para perderem tanto tempo no cabeleireiro. Quer dizer, ninguém, eu acho, deve perder tempo demais no cabeleireiro, porque existe muita coisa boa pra fazer na vida. Ou muita coisa ruim. Mas muita coisa, enfim. Ainda mais com menos de 20. Ainda mais em um feriado.
As meninas chapinha chegam levadas por suas mães, que também têm o cabelo alisado. Uma é gorda e parece que tá meio em crise com o namorado. A outra é magrinha e da mesma classe dela. A mais velha já dirige e é meio blasé.
Mas saem todas iguais, com seus cabelos lisos que não são lisos coisa nenhuma! São é bem cacheados! Eu vi!. Depois de horas com um homem puxando seus cabelos com uma escova (aquilo deve doer) alisam seus fios que parecem lisos. Hello, meninas! Chega de escova progressiva e chapinha! Vez ou outra a gente precisa (ainda) queimar um sutiã metafórico.

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