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Mostrando postagens de agosto, 2007
Carlos Drummond de Andrade A língua girava no céu da boca. Girava! Eram duas bocas, no céu único. O sexo desprendera-se de sua fundação, errante imprimia-nos seus traços de cobre. Eu, ela, elaeu. Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu. A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava. Consumia-nos em piscina de aniquilamento. Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino, vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós. A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo, se restituíram à consciência. O sexo reintegrou-se. A vida repontou: a vida menor.
Camões Quem vê, Senhora, claro e manifesto O lindo ser de vossos olhos belos, Se não perder a vista só com vê-los, Já não paga o que deve a vosso gesto. Este me parecia preço honesto; Mas eu, por de vantagem merecê-los, Dei mais a vida e a alma por querê-los, Donde já me não fica mais de resto. Assim que a vida e alma e esperança, E tudo quanto tenho, tudo é vosso, E o proveito disso eu só o levo. Porque é tamanha bem-aventurança O dar-vos quanto tenho e quanto posso, Que quanto mais vos pago, mais vos devo.
As coisas Arnaldo Antunes As coisas têm peso, massa, volume, tamanho, tempo, forma, cor, posição, textura, duração, densidade, cheiro, valor, consistência, profundidade, contorno, temperatura, função, aparência, preço, destino, idade, sentido. As coisas não têm paz.
O que mais enfurece o vento são esses poetas invertebrados que o fazem rimar com lamento. Mário Quintana
Ana Cristina Cesar Pergunto aqui se sou louca Quem quer saberá dizer Pergunto mais, se sou sã E ainda mais, se sou eu Que uso o viés pra amar E finjo fingir que finjo Adorar o fingimento Fingindo que sou fingida Pergunto aqui meus senhores quem é a loura donzela que se chama Ana Cristina E que se diz ser alguém É um fenômeno mor
Alice Ruiz já não temo fantasmas invoco a todos que venham em bando povoar meus dias atormentar minhas noites entre tantos loucos e livres existe um que é doce e que me falta
Aldir Blanc A mulher e o toureiro têm em comum o cheiro de sangue no esmero da roupa têm em comum a graça com que transpassam a besta com a capa e a espada têm em comum o estro poético do gesto antes da morte, os olhos de martírio o homem-fera babuja a bainha da Valquíria quando o infinito lavra no lacre seu sinete: a besta expira, atônita diante da verônica de Manolete
Carta aos mortos Affonso Romano de Sant’Anna Amigos, nada mudou em essência. Os salários mal dão para os gastos, as guerras não terminaram e há vírus novos e terríveis, embora o avanço da medicina. Volta e meia um vizinho tomba morto por questão de amor. Há filmes interessantes, é verdade, e como sempre, mulheres portentosas nos seduzem com suas bocas e pernas, mas em matéria de amor não inventamos nenhuma posição nova. Alguns cosmonautas ficam no espaço seis meses ou mais, testando a engrenagem e a solidão. Em cada olimpíada há recordes previstos e nos países, avanços e recuos sociais. Mas nenhum pássaro mudou seu canto com a modernidade. Reencenamos as mesmas tragédias gregas, relemos o Quixote, e a primavera chega pontualmente cada ano. Alguns hábitos, rios e florestas se perderam. Ninguém mais coloca cadeiras na calçada ou toma a fresca da tarde, mas temos máquinas velocíssimas que nos dispensam de pensar. Sobre o desaparecimento dos dinossauros e a formação das galáxias não avança
Confeito Adélia Prado Quero comer bolo de noiva, puro açúcar, puro amor carnal disfarçado de corações e sininhos: um branco, outro cor-de-rosa, um branco, outro cor-de-rosa.
O inferno é ser fodona do site 02 neurônio Este site é escrito por três mulheres fodonas. Sabe como é. A gente se vira sozinha, mano. Temos reuniões duras de negócios e colocamos o pau na mesa. Depois choramos, claro. Mas tomamos sozinhas o nosso banho quente e nosso calmante (seja ele qual for) depois e vamos em frente. Sabemos trocar a lâmpada. Tentamos arrumar sozinha nossos computadores. Quando não conseguimos, temos o telefone do homem do suporte e dinheiro para pagá-lo. Nós, as fodonas, não temos muitos ataques de ciúme, porque já fizemos muitos anos de análise, sabe como é. Por isso, entendemos que o problema dos outros é dos outros. Aprendemos a segurar a nossa onda e sofremos de ciúme um pouco. Sem compartilhar com o objeto do ciúme. Sim, porque as fodonas descobrem um dia que não é preciso falar tudo para o pretê, que a vida é nossa mesmo e que a gente está sozinha nessas. A gente é fodona. E fodona chora muito, mas ninguém nem vê, nem precisa ver. Porque quando a gente chora
Insuportável, bancando a musa. (foto tirada pelo Fer , ex-trompetista, atual fotógrafo e futuro sabe-se lá o que vem depois)
Sobre as fêmeas... De Xico Sá. A fêmea é mesmo um jogo de advinhação. Governar bem um desses seres colossais passa sobretudo pela nossa capacidade de correr à frente dos seus desejos. E realizá-los a contento. O macho que consegue a tal façanha se consagra para sempre no coração da sua Carmencita amada. Todas as fêmeas são naturalmente parecidas com aquela personagem do filme O Piano – não falam e querem que a gente cumpra todas as funções, todos os trabalhos de Hércules,que a gente adivinhe e seja o senhor de todas as demandas. Precisamos adivinhar mesmo, à vera, todas as horas. Se elas querem sexo naquela momento, se o sexo deve ser delicado ou mais selvagem, se está na hora de puxarmos os seus cabelos, se querem apenas um cafuné enquanto vêem Almodóvar ou nada mais... correr à floresta, cortar lenha e pôr à beira do fogão antes que venha a tempestade.Homem sensível e lenhador ao mesmo tempo. Adivinhar onde quer ser tocada e também a hora da chuva. Isso é o que querem as mulheres. O
Copiei do Legally Normal , que copiou de outro lugar . "... and then she told me that when life gets you lemons you have to make lemonade. i've always wanted to know who came up with that expression. and not because i ever thought it sounded cool. but she said this about life and i thought, you know what, fuck that. just because life gives you lemons, doesn't mean you have to accept the lemons. it doesn't mean you have to take them. and you sure as hell don't have to make lemonade just because everyone else is making lemonade. i thought, if life really gave me lemons, i'd throw them back and say, keep your fucking lemons. and then i'd go find me some oranges."
A Casa Materna Vinícius de Moraes Há, desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna. As grades do portão têm uma velha ferrugem e o trinco se encontra num lugar que só a mão filial conhece. O jardim pequeno parece mais verde e úmido que os demais, com suas palmas, tinhorões e samambaias, que a mão filial, fiel a um gesto de infância, desfolha ao longo da haste. É sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as mãos filiais se pousam sobre a mesa farta do almoço, repetindo uma antiga imagem. Há um tradicional silêncio em suas salas e um dorido repouso em suas poltronas. O assoalho encerado, sobre o qual ainda escorrega o fantasma da cachorrinha preta, guarda as mesmas manchas e o mesmo taco solto de outras primaveras. As coisas vivem como em preces, nos mesmos lugares onde as situaram as mãos maternas quando eram moças e lisas. Rostos irmãos se olham dos porta-retratos, a se amarem e compreenderem mudamente. O piano fechado, com uma longa tira de flanela sobre as t
Diário de uma paixão Ulisses Tavares (...) II Foi em Trindade nossa Primeira lua-de-mel. Com falta de vaga no hotel, Cerveja cara e tudo Pela primeira vez Nem sentimos os borrachudos. III Já consigo olhar para você E encontrar defeito. Uma espinha a mais na bunda, Um riso alto onde habitava o silêncio, Algo que não era o seu jeito. E temo nesses momentos Que minha paixão vire amor E depois amizade, Nobres sentimentos Mas muitos próximos da realidade. IV Nossa primeira briga. Te odeio, até nunca mais, Fico melhor sem você. Cada um usando seu aprendizado Para fugir da dor O macho afogando na bebida A fêmea nos braços das amigas. Ate o desejo queimar o orgulho, Esse sentir quase em vão, De dizer que fora você o resto é bagulho, E os dois brigando de novo Querendo ser o primeiro a pedir perdão. (...) VI Vou ser um grande cara Se conseguir levantar da cama E encarar de frente meus planos Meus objetivos minha ambição. Mas você é um detalhe grande demais Quase acordada do meu lado Para ser ig
William Shakespeare Shall I compare thee to a summer's day? Thou art more lovely and more temperate: Rough winds do shake the darling buds of May, And summer's lease hath all too short a date: Sometime too hot in the eye of heaven shines, And often is his gold complexion dimmed; And every fair from fair sometime declines, By chance, or nature's changing course untrimmed; But thy eternal summer shall not fade, Nor lose possession of that fair thou owest, Nor shall death brag thou wanderst in his shade, When in eternal lines to time thou growest; So long as men can breathe, or eyes can see, So long lives this, and this gives life to thee.
Paulo Leminski A tese segunda Evapora em pergunta Que entrega é tão louca Que toda espera é pouca Qual dos cinco mil sentidos Está livre de mal-entendidos?
Já não se encantarão meus olhos em teus olhos, já não se achará doce minha dor a teu lado. Mas por onde eu caminhe levarei teu olhar e para onde tu fores levarás minha dor. Fui teu, foste minha. Que mais? Juntos fizemos um desvio na rota por onde amor passou. Fui teu, foste minha. Tu serás de quem te ame, do que corte em teu horto aquilo que eu plantei. Eu me vou. Estou triste: mas eu sempre estou triste. Eu venho dos teus braços. Não sei para onde vou. ...Desde teu coração diz adeus um menino. E eu lhe digo adeus. Pablo Neruda
Ao coração que sofre - XXX Olavo Bilac Ao coração que sofre, separado Do teu, no exílio em que a chorar me vejo, Não basta o afeto simples e sagrado Com que das desventuras me protejo. Não me basta saber que sou amado, Nem só desejo o teu amor: desejo Ter nos braços teu corpo delicado, Ter na boca a doçura de teu beijo. E as justas ambições que me consomem Não me envergonham: pois maior baixeza Não há que a terra pelo céu trocar; E mais eleva o coração de um homem Ser de homem sempre e, na maior pureza, Ficar na terra e humanamente amar.
Não tenho paciência nenhuma com o Dida aqui de casa, mas dei um abraço apertado nele depois que li este texto: Ao Igor com amor - O melhor do ser humano Millôr Fernandes Magri andou perto, mas não tinha razão total quando afirmou que o cão é um ser humano como outro qualquer. Na afetividade e na lealdade o cão é muito mais do que qualquer ser humano. Igor, poodle de minha filha Paula, conseqüentemente meu, é uma paixão feita de ternura densa e permanente. Sem querer nada em troca, a não ser carinho, conversa e, mais do que tudo, presença. Seus olhos dizem sempre: "Por favor, não me deixa. Nem um minuto. Não sei viver sem você”. Logo depois que ganhamos o Toy poodle, olhando para ele um dia, e sabendo que cada ano da minha vida corresponde a aproximadamente sete da dele, veio-me incontida angústia: "Céus!, se eu viver mais dez anos, esse cão, essa graça, será mais velho do que eu". Urich Klever, zoólogo especializado em, e apaixonado por, cães, e Monika Klever, extraordin
A idade de casar Martha Medeiros O amor pode surgir de repente, em qualquer etapa da vida, é o que todos os livros, filmes, novelas, crônicas e poemas nos fazem crer. É a pura verdade. O amor não marca hora, surge quando menos se espera. No entanto, a sociedade cobra que todos, homens e mulheres, definam seus pares por volta dos 25 e 30 anos. É a chamada idade de casar. Faça uma enquete: a maioria das pessoas casa dentro dessa faixa etária, o que de certo modo é uma vitória, se lembrarmos que antigamente casava-se antes dos 18. Porém, não deixa de ser suspeito que tanta gente tenha encontrado o verdadeiro amor na mesma época. O grande amor pode surgir aos 15 anos. Um sentimento forte, irracional, com chances de durar para sempre. Mas aos 15 ainda estamos estudando. Não somos independentes, não podemos alugar um imóvel, dirigir um carro, viajar sem o consentimento dos pais. Aos 15 somos inexperientes, imaturos, temos muito o que aprender. Resultado: esse grande amor poderá ser vivido co