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Mostrando postagens de agosto, 2009
Jorge Amado e Zélia Gattai.
Clarice Lispector Se recebo um presente dado com carinho por pessoa de quem não gosto - como se chama o que sinto? Uma pessoa de quem não se gosta mais e que não gosta mais da gente - como se chama essa mágoa e esse rancor? Estar ocupada, e de repente parar por ter sido tomada por uma desocupação beata, milagrosa, sorridente e idiota - como se chama o que se sentiu? O único modo de chamar é perguntar: como se chama? Até hoje só consegui nomear com a própria pergunta. Qual é o nome? e é este o nome. *** Uma revolta Quando o amor é grande demais torna-se inútil: já não é mais aplicável, e nem a pessoa amada tem a capacidade de receber tanto. Fico perplexa como uma criança ao notar que mesmo no amor tem-se que ter bom senso e senso de medida. Ah, a vida dos sentimentos é extremamente burguesa.
"Amolo facas, tesouras, alicates de unha". O apitinho da infância, das tardes em casa e do cheiro de café vindo da cozinha. Amolador, eu te amo! (Fer, que postou esse vídeo porque sabia que eu ia ficar muito feliz, eu te amo também)!
Escultura Adalgisa Nery Eu já te amava pelas fotografias. Pelo teu ar triste e decadente dos vencidos, Pelo teu olhar vago e incerto Como o dos que não pararam no riso e na alegria. Te amava por todos os teus complexos de derrota, Pelo teu jeito contrastando com a glória dos atletas E até pela indecisão dos teus gestos sem pressa. Te falei um dia fora da fotografia Te amei com a mesma ternura Que há num carinho rodeado de silêncio E não sentiste quantas vezes Minhas mãos usaram meu pensamento, Afagando teus cabelos num êxtase imenso. E assim te amo, vendo em tua forma e teu olhar Toda uma existência trabalhada pela força e pela angústia Que a verdade da vida sempre pede E que interminavelmente tens que dar!...
Os bares de BH no "The New York Times" . Olha aí o Bar do Caixote!
Irmandade Octavio Paz Sou homem: duro pouco E é enorme a noite. Mas olho para cima: As estrelas escrevem. Sem entender, compreendo: Também fui escrito E neste mesmo instante Alguém me soletra.
Casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo. A mais linda, a mais amada, respeitada, cuidada... A mais bem comida. E a pessoa mais namorada do mundo e a mais casada. E a mais festas, viagens, jantares... Casa comigo que te faço a pessoa mais realizada profissionalmente. E a mais grávida e a mais mãe. E a pessoa mais as primeiras discussões. A pessoa mais novas brigas e as discussões de sempre. Casa comigo que te faço a pessoa mais separada do mundo. Te faço a pessoa mais solitária com um filho para criar do mundo. A pessoa mais foi ao fundo do poço e dá a volta por cima de todas. A mais reconstruiu sua vida. A mais conheceu uma nova pessoa, a mais se apaixonou novamente... Casa comigo que te faço a pessoa mais casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo. Michel Melamed (pela Marina W .).
Descartes Cacaso Não há no mundo nada mais bem distribuído do que a razão: até quem não tem tem um pouquinho Lar doce lar Cacaso Minha pátria é minha infância: por isso vivo no exílio
Fer, eu e o Tom estamos mandando um beijo. Ele diz que o amor dele é novo, mas é muito verdadeiro. Ao amor antigo Carlos Drummond de Andrade O amor antigo vive de si mesmo, não de cultivo alheio ou de presença. Nada exige nem pede. Nada espera, mas do destino vão nega a sentença. O amor antigo tem raízes fundas, feitas de sofrimento e de beleza. Por aquelas mergulha no infinito, e por estas suplanta a natureza. Se em toda parte o tempo desmorona aquilo que foi grande e deslumbrante, o antigo amor, porém, nunca fenece e a cada dia surge mais amante. Mais ardente, mas pobre de esperança. Mais triste? Não. Ele venceu a dor, e resplandece no seu canto obscuro, tanto mais velho quanto mais amor.
Pro William Castilho, que hoje me disse, com ar de pai: "você ainda não ultrapassou a curvatura que separa um modo de viver muito fluido, muito livre, do ponto em que a gente passa a se submeter às instituições, a ser mais fixo". Era uma espécie de bronca, mas eu achei bonito demais o que ele falou. Ps: o William não faz a menor idéia do que seja um blog, muito menos de que este blog aqui exista. Escolha Lya Luft Apesar do medo escolho a ousadia. Ao conforto das algemas, prefiro a dura liberdade. Vôo com meu par de asas tortas, sem o tédio da comprovação. Opto pela loucura, com um grão de realidade: meu ímpeto explode o ponto, arqueia a linha, traça contornos para os romper. Desculpem, mas devo dizer: eu quero o delírio.
Pablo Neruda Es así que te quiero, amor Así te quiero, amor, amor, así te amo, así como te vistes y como se levanta tu cabellera y como tu boca se sonríe, ligera como el agua del manantial sobre las piedras puras, así te quiero, amada. Al pan yo no le pido que me enseñe sino que no me falte durante cada día de la vida. Yo no sé nada de la luz, de dónde viene ni dónde va, yo sólo quiero que la luz alumbre, yo no pido a la noche explicaciones, yo la espero y me envuelve, y así tú, pan y luz y sombra eres. Has venido a mi vida con lo que tú traías, hecha de luz y pan y sombra te esperaba, y así te necesito, así te amo, y a cuantos quieran escuchar mañana lo que no les diré, que aquí lo lean, y retrocedan hoy porque es temprano para estos argumentos. Mañana sólo les daremos una hoja del árbol de nuestro amor, una hoja que caerá sobre la tierra como si la hubieran hecho nuestros labios, como un beso que cae desde nuestras alturas invencibles para mostrar el fuego y la ternura de un amor ver
A hóspede Guilherme de Almeida Não precisas bater quando chegares. Toma a chave de ferro que encontrares sobre o pilar, ao lado da cancela, e abre com ela a porta baixa, antiga e silenciosa. Entra. Aí tens a poltrona, o livro, a rosa, o cântaro de barro e o pão de trigo. O cão amigo pousará nos teus joelhos a cabeça. Deixa que a noite, vagarosa, desça. Cheiram à relva e sol, na arca e nos quartos, os linhos fartos, e cheira a lar o azeite da candeia. Dorme. Sonha. Desperta. Da colméia nasce a manhã de mel contra a janela. Fecha a cancela e vai. Há sol nos frutos dos pomares. Não olhes para trás quando tomares o caminho sonâmbulo que desce. Caminha - e esquece.
Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo... O pequeno príncipe, Saint Exupéry.
Nic, taí o texto todo pra você. Dois estudos João Cabral de Melo Neto 1 Tu és a antecipação do último filme que assistirei. Fazes calar os astros, os rádios e as multidões na praça pública. Eu te assisto imóvel e indiferente. A cada momento tu te voltas e lanças no meu encalço máquinas monstruosas que envenenam reservatórios sobre os quais ganhaste um domínio de morte. Trazes encerradas entre os dedos reservas formidáveis de dinamite e de fatos diversos. 2 Tu não representas as 24 horas de um dia, os fatos diversos, o livro e o jornal que leio neste momento. Tu os completas e os transcendes. Tu és absolutamente revolucionária e criminosa, porque sob o teu manto e sob os pássaros de teu chapéu desconheço a minha rua, o meu amigo e o meu cavalo de sela.
O coração perdoa, mas não esquece à toa... e eu não me esqueci. Bethânia é diva. Fera ferida Roberto Carlos / Erasmo Carlos Acabei com tudo, escapei com vida, tive as roupas e os sonhos rasgados na minha saída Mas saí ferido, sufocando o meu gemido, fui o alvo perfeito, muitas vezes no peito atingido Animal arisco domesticado esquece o risco, me deixei enganar e até me levar por você Eu sei, quanta tristeza eu tive, mas mesmo assim se vive morrendo aos poucos por amor Eu sei, o coração perdoa, mas não esquece à toa, e eu não me esqueci. Não vou mudar, esse caso não tem solução, sou fera ferida no corpo, na alma e no coração. Eu andei demais, não olhei pra trás, era solto em meus passos, bicho livre, sem rumo, sem laços Me senti sozinho, tropeçando em meu caminho, à procura de abrigo, uma ajuda, um lugar, um amigo Animal ferido, por instinto decidido, os meus rastros desfiz, tentativa infeliz de esquecer Eu sei que flores existiram, mas que não resistiram a vendavais constantes Eu sei q
Axé com cérebro. Reconvexo Caetano Veloso Eu sou a chuva que lança a areia do Saara sobre os automóveis de Roma Eu sou a sereia que dança, a destemida Iara, água e folha da Amazônia Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra, você não me pega, você nem chega a me ver Meu som te cega, careta, quem é você? Que não sentiu o suingue de Henri Salvador, que não seguiu o Olodum balançando o Pelô E que não riu com a risada de Andy Warhol, que não, que não e nem disse que não Eu sou um preto norte-americano forte com um brinco de ouro na orelha Eu sou a flor da primeira música, a mais velha, a mais nova espada e seu corte Sou o cheiro dos livros desesperados, sou Gitá Gogóia, seu olho me olha mas não me pode alcançar Não tenho escolha, careta, vou descartar Quem não rezou a novena de Dona Canô, quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor? Quem não amou a elegância sutil de Bobô, quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo.
Ponto de honra Maria Teresa Horta Não sou escrava de lamento nem tento ferida de enfeite nem uso a raiva que tenho como um alfange no peito Não talho o sangue nas pedras nem uso palavras de ódio e não quero anéis de aceite para enfeitar os meus olhos
Sei lá Paulo Leminski vai pela sombra, firme, o desejo desespero de voltar antes mesmo de ir-me antes de cometer o crime, me transformar em outro ou em outro transformar-me quem sabe obra de arte, talvez, sei lá, falso alarme, grito caindo no poço, neste pouco poço nada vejo nem ouço, mais mais mais cada vez menos poder isso, sinto, é tudo que posso, o tão pouco tudo que temos
Canção de amor da jovem louca Sylvia Plath Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer (Acho que te criei no interior da minha mente) Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis, Entra a galope a arbitrária escuridão: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama, Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade. (Acho que te criei no interior de minha mente) Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno: Retiram-se os serafins e os homens de Satã: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Imaginei que voltarias como prometeste Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome. (Acho que te criei no interior de minha mente) Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro: (Acho que te criei no interior de minha mente.)
Ok, acabou ele por hoje. Mas é que isso aqui é bom demais e ele fala do jeito mais legal sobre essa "vontade desesperada de ser americano", que eu odeio. Também não compro, Caetano.
Caetano rock'n roll - amo ele falando "você foi mó rata comigo". Ele é o cara. Rocks Caetano Veloso Tatuou um ganesh na coxa, chegou com a boca roxa de botox Exigindo rocks, animais, metais, letais, metais, eu não dei letra. Tu é gênia, gata, etc., mas cê foi mesmo rata demais Meu grito inimigo é: você foi mó rata comigo Você foi concreta e simplesmente rata comigo demais Rata comigo demais, rata comigo demais Rata.
Trilha sonora. Pra dançar e cantar alto. Não enche Caetano Veloso Me larga, não enche, você não entende nada e eu não vou te fazer entender Me encara de frente, é que você nunca quis ver, não vai querer, nem vai ver Meu lado, meu jeito, o que eu herdei de minha gente eu nunca posso perder Me larga, não enche, me deixa viver, me deixa viver, me deixa viver, me deixa viver... Cuidado, oxente! Está no meu querer poder fazer você desabar do salto, nem tente manter as coisas como estão porque não dá, não vai dar. Quadrada! Demente! A melodia do meu samba põe você no lugar Me larga, não enche, me deixa cantar, me deixa cantar, me deixa cantar, me deixa cantar... Eu vou clarificar a minha voz gritando nada mais de nós. Mando meu bando anunciar: vou me livrar de você... Harpia! Aranha! Sabedoria de rapina e de enredar, de enredar Perua! Piranha! Minha energia é que mantém você suspensa no ar Prá rua! se manda! Sai do meu sangue, sanguessuga que só sabe sugar Pirata! Malandra! Me deixa gozar, m
O macho e a modinha do xixi sentado Xico Sá Ih, rapaz, por essa a gente não esperava tão cedo. Mas vem da Suécia, pátria de todos os clichês do sexo loiro, uma lufada revolucionária capaz de virar de cabeça para baixo as nossas tristes existências. As gazelas daquele país passaram a obrigar os cavalheiros a mijar sentados. Postura que nos impõe um distanciamento brechtiano em relação ao nosso confidente-mor: agora escondido, mergulhado no vaso, encoberto pela barriga, ele sente que perdeu o arrastado e cansativo debate sobre a pontaria. Ele abaixa a cabeça, num quase mergulho suicida, existencialista perdido diante do trunfo da nova moral burguesa do Politicamente Correto. Que fazer? Saltamos, leninistas, abestalhados a buscar uma solução para essa onda que deve varrer o mundo. Aqui em SP, a cidade proibidona, o alcaide não demora por implantar a tal modinha. Claro que se trata de mais uma novidade do chamado projeto internacional para tentar forjar o dito prospecto do macho
Chico Buarque e Paula Toller juntos. Pros dois poderem suspirar, democraticamente. E a música ainda é A música. Dueto Chico Buarque Consta nos astros, nos signos, nos búzios, eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no evangelho, garantem os orixás: serás o meu amor, serás a minha paz Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas, eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais: serás o meu amor, serás a minha paz Mas se a ciência provar o contrário e se o calendário nos contrariar... mas se o destino insistir em nos separar Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas, os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos, profetas, sinopses, espelhos, conselhos, se dane o evangelho e todos os orixás: serás o meu amor, serás, amor, a minha paz Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela, está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz: serás o meu amor, serás a minha paz.
A gravação pela qual eu sou apaixonada é a original, do Martinho da Vila. Mas Ney Matogrosso e Pedro Luis são sempre ótimos. Aliás, essa música é sempre o máximo. Disritmia Martinho da Vila Eu quero me esconder debaixo dessa sua saia pra fugir do mundo pretendo também me embrenhar no emaranhado desses seus cabelos preciso transfundir seu sangue pro meu coração que é tão vagabundo me deixe te trazer num dengo pra num cafuné fazer os meus apelos. Eu quero ser exorcizado pela água benta desse olhar infindo que bom é ser fotografado, mas pelas retinas desses olhos lindos me deixe hipnotizado pra acabar de vez com essa disritmia. Vem logo, vem curar seu nego que chegou de porre lá da boemia.
Distância Nuno Júdice Entro no teu quarto, como se entrasse no mar. Um temporal de perguntas enrola os teus cabelos. Lanças-te contra as ondas de um sonho antigo, e abres a porta da varanda para te sentares à cadeira do oriente, apanhando o vento da tarde. «Não te levantes, digo, e deixa que os teus olhos se libertem de sombra, depois de uma noite de amor, para me abrigarem da luz estéril da madrugada.» Mudas de posição, como se me tivesses ouvido; e o teu corpo enche-se de palavras, como se fosses a taça da estrofe.
Coisa tua Alice Ruiz assim que vi você logo vi que ia dar coisa coisa feita pra durar, batendo duro no peito até eu acabar virando alguma coisa parecida com você parecia ter saído de alguma lembrança antiga que eu nunca tinha vivido, mas ia viver um dia alguma coisa perdida que eu nunca tinha tido alguma voz amiga esquecida no meu ouvido agora não tem mais jeito, carrego você no peito poema na camiseta com a tua assinatura já nem sei se é você mesmo ou se sou eu que virei alguma coisa tua. De tanto não poder dizer meus olhos deram de falar só falta você ouvir.
Transcrição da secretária eletrônica do meu celular: "Dri, é Suzana, sua sogra, mas antes de tudo sua amiga. Eu estou ligando pra te falar que você é um doce de pessoa, muito linda, muito alegre, muito inteligente, muito boa para o meu filho e pra todos nós. Você tem um blog que eu adoro ler, onde você coloca muitas coisas lindas. Nós sentimos muitas saudades de você e amamos você. Então, se você precisar de um carinho gigante , pode vir aqui que a gente te dá. Um beijo. Ah, uma outra coisa que eu acho um encanto em você é que você adora ajudar as pessoas. Outro beijo". Sim, é minha sogra. Sim, ela ligou só pra eu me sentir amada. Sim, podem morrer de inveja.
Mulheres de preto Eugénio de Andrade Há muito que são velhas, vestidas de preto até a alma. Contra o muro defendem-se do sol de pedra; ao lume furtam-se ao frio do mundo. Ainda têm nome? Ninguém pergunta, ninguém responde. A língua, pedra também.
Esse é pra Andréia (não sei se tem "i"), da Filarmônica. Que, como eu, chora com Tati Bernardi. E que mandou um presente fofo pro meu cabelo. E que tem o cabelo mais legal do mundo. Impune Tati Bernardi Ontem me perdi, como sempre acontece quando estou perto da sua casa, e fui cair na rua da farmácia, a rua atrás da sua. Ou da frente (é que todo o mundo parece ficar atrás da sua casa, seja a rua que for, seja lá o que isso quer dizer). Algo me carrega pra perto de você, um algo infinitamente pequeno e solitário frente ao imenso e diversificado não que carrego em relação a nós. Isso, de estar por perto e poder vê-lo, sempre me gela o coração e seca a boca, o que é uma besteira pois sem dramas ou dúvidas externadas seguimos com nossas vidas e, também num acordo silencioso e quase sem importância, decidimos manter uma amizade agradável e sem fins sexuais a cada doze ou nove ou dezessete ou onze ou quarenta e três dias. Não sei se era você, veja bem, te vejo a todos os instantes
Affonso Romano de Sant'Anna A primeira vez que entendi do mundo alguma coisa foi quando na infância cortei o rabo de uma lagartixa e ele continuou se mexendo. De lá pra cá fui percebendo que as coisas permanecem vivas e tortas que o amor não acaba assim que é difícil extirpar o mal pela raiz. A segunda vez que entendi do mundo alguma coisa foi quando na adolescência me arrancaram do lado esquerdo três certezas e eu tive que seguir em frente. De lá pra cá aprendi a achar no escuro o rumo e sou capaz de decifrar mensagens seja nas nuvens ou no grafite de qualquer muro.
Eu: "Fer, deixa eu ouvir mais uma vez. UMA. Juro. Só mais uma". Fer: "você disse isso uma hora atrás e esta música está tocando desde Los Angeles". Eu: "você pode ouvir qualquer música depois. QUALQUER UMA. Só mais uma vez. Prometo". Era junho de 2008. Era lua-de-mel. Era California. Era indo pra San Francisco. Era o Pacífico do nosso lado esquerdo. Era o CD que a minha irmã tinha gravado. Era a música mais linda e romântica do mundo. Era ele que tinha me mostrado, dizendo "eu tenho certeza que você vai amar essa". Não era a última vez que ela iria tocar, ele sabia. Mas, convenhamos, também não era a hora de negar um pedido desses. Pro Fer, que sempre soube quando me dizer "sim" no repeat : Michael Bublé, "Everything". You're a falling star, you're the get away car, you're the line in the sand when I go too far. You're the swimming pool on an August day, and you're the perfect thing to say. And you play it
Secret Garden, Bruce Springsteen. Do filme "Jerry Maguire". " I love him for the man he wants to be. And I love him for the man he almost is". She'll let you in her house If you come knockin' late at night She'll let you in her mouth If the words you say are right If you pay the price She'll let you deep inside But there's a secret garden she hides She'll let you in her car To go drivin' round She'll let you into the parts of herself That'll bring you down She'll let you in her heart If you got a hammer and a vise But into her secret garden, don't think twice You've gone a million miles How far'd you get To that place where you can't remember And you can't forget She'll lead you down a path There'll be tenderness in the air She'll let you come just far enough So you know she's really there She'll look at you and smile And her eyes will say She's got a secret garden Where everything y
Silêncio Tati Bernardi Disse pra mim. Nenhum pio. Não vou falar nada. Já que sou tão imprópria, inadequada, boba. Já que nunca basto e se tento me excedo. Já que não sei o que deveria ou exagero em querer saber o que não devo. Nunca entendo exatamente, nunca chego lá, nunca sou verdadeiramente aceita pela exigência propositalmente inalcançável. Meu riso incomoda. Meu choro mais ainda. Minha ajuda é pouca. Meu carinho é pena. Meu dengo é cobrança. Minha saudade é prisão. Minha preocupação chatice. Minha insegurança problema meu. Meu amor é demais. Minha agressividade insuportável. Meus elogios causam solidão. Minhas constatações boas matam o amor. As ruins matam o resto todo. Minhas críticas causam coisas terríveis. Minhas palavras cuidadas incomodam. Minhas palavras jogadas, mais ainda. Minhas opiniões sempre se alongam e cansam. Minhas histórias acabam sempre no egocentrismo ou preconceito. Meu sem fim dá logo vontade de encurtar. Minha construção, desconstrói. Meus convites quase nun
Ausência Sophia de Mello Breyner Num deserto sem água Numa noite sem lua Num país sem nome Ou numa terra nua Por maior que seja o desespero Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Ninguém venha me dar vida, que estou morrendo de amor, que estou feliz de morrer, que não tenho mal nem dor, que estou de sonho ferido, que não me quero curar, que estou deixando de ser, e não quero me encontrar, que estou dentro de um navio, que sei que vai naufragar, já não falo e ainda sorrio, porque está perto de mim o dono verde do mar que busquei desde o começo, e estava apenas no fim. Corações, por que chorais? Preparai meu arremesso para as algas e os corais. Fim ditoso, hora feliz: guardai meu amor sem preço, que só quis quem não me quis. Cecília Meireles
A carta que não foi mandada Vinícius de Moraes Paris, outono de 73 Estou no nosso bar mais uma vez E escrevo pra dizer Que é a mesma taça e a mesma luz Brilhando no champanhe em vários tons azuis No espelho em frente eu sou mais um freguês Um homem que já foi feliz, talvez E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor Saudades, certamente, de algum grande amor Mas ao vê-lo assim tão triste e só Sou eu que estou chorando Lágrimas iguais E, a vida é assim, o tempo passa E fica relembrando Canções do amor demais Sim, será mais um, mais um qualquer Que vem de vez em quando E olha para trás É, existe sempre uma mulher Pra se ficar pensando Nem sei... nem lembro mais
Apresentação da Filarmônica no parque (orgulho do Fer), seguida de risoto com espumante e amigos que eu adoro, em uma tarde linda de frio e sol. Só não foi mais Ilha de Caras porque duvido que lá tenha tanta gente interessante, divertida e delicada. Eu tenho muita sorte.
Amor. Juro. E eu achava que era impossível.
Chego em casa e encontro Fernando e Tom Jobim (marido e cachorro, respectivamente) na rede. Fer: "você perdeu, estávamos cantando a música da pata escavadeira". Eu: ... Fer: "a música que eu fiz pro Tom depois que ele começou a fazer buracos no nosso quintal". *** Mais tarde, no mesmo dia, Fer falando com Tom, que insiste em dar a pata pra ganhar o que quer: "vamos lá, seu espateador!".
As nossas madrugadas Maria Teresa Horta Desperta-me de noite o teu desejo na vaga dos teus dedos com que vergas o sono em que me deito pois suspeitas que com ele me visto e me defendo É raiva então ciúme a tua boca é dor e não queixume a tua espada é rede a tua língua em sua teia é vício as palavras com que falas E tomas-me de força não o sendo e deixo que o meu ventre se trespasse E queres-me de amor e dás-me o tempo a trégua a entrega e o disfarce E lembras os meus ombros docemente na dobra do lenços que desfazes na pressa de teres o que só sentes e possuires de mim o que não sabes Despertas-me de noite com o teu corpo tiras-me do sono onde resvalo e eu pouco a pouco vou repelindo a noite e tu dentro de mim vais descobrindo vales.
Menos a mim Ferreira Gullar Conheço a aurora com seu desatino Conheço o amanhecer com o seu tesouro Conheço as andorinhas sem destino Conheço rios sem desaguadouros Conheço o medo do princípio ao fim Conheço tudo, conheço tudo Menos a mim. Conheço o ódio e seus argumentos Conheço o mar e suas ventanias Conheço a esperança e seus tormentos Conheço o inferno e suas alegrias Conheço a perda do princípio ao fim Conheço tudo, conheço tudo Menos a mim. Mas depois que chegaste de algum céu Com teu corpo de sonho e margarida Pra afinal revelar-me quem sou eu Posso afirmar enfim Que não conheço nada desta vida Que não conheço nada, nada, nada Nem mesmo a mim.
Saúde Rita Lee Me cansei de lero-lero, dá licença mas eu vou sair do sério. Quero mais saúde, me cansei de escutar opiniões de como ter um mundo melhor mas ninguém sai de cima, nesse chove-não-molha, eu sei que agora eu vou é cuidar mais de mim. Como vai, tudo bem, apesar, contudo, todavia, mas, porém as águas vão rolar, não vou chorar se por acaso morrer do coração é sinal que amei demais - mas enquanto estou viva, cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz.