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Mostrando postagens de julho, 2010
Mesa Ana Martins Marques Mais importante que ter uma memória é ter uma mesa mais importante que já ter amado um dia é ter uma mesa sólida uma mesa que é como uma cama diurna com seu coração de árvore, de floresta é importante em matéria de amor não meter os pés pelas mãos mas mais importante é ter uma mesa porque uma mesa é uma espécie de chão que apoia os que ainda não caíram de vez.
Poema do fanático Murilo Mendes Não bebo álcool, não tomo ópio nem éter, Sou o embriagado de ti e por ti. Mil dedos me apontam na rua: Eis o homem que é fanático por uma mulher. Tua ternura e tua crueldade são iguais diante de mim Porque eu amo tudo o que vem de ti. Amo-te na tua miséria e na tua glória E te amaria mais ainda se sofresses muito mais. Caíste em fogo na minha vida de rebelado. Sou insensível ao tempo - porque tu existes. Eu sou fanático da tua pessoa, Da tua graça, do teu espírito, do aparelhamento da tua vida. Eu quisera formar uma unidade contigo E me extinguir violentamente contigo na febre da minha, da tua, da nossa poesia.
Pra Caroli, com um "obrigada" e um "eu te amo", por não desistir, por se preocupar, por me esperar, por me deixar estar longe e mesmo assim estar sempre perto. O amigo é aquele que tem todos os motivos para desistir de você e não desiste. Fabrício Carpinejar
Caminhão Tati Bernardi O mundo vê um passinho pra trás. Mas em algum lugar do cosmos, ouve-se um caminhão da Granero frear. Um barulho imenso, desengonçado, batem atrás, cercas arrancadas, quase cai no fim do mundo, móveis baratos despedaçados pela cidade. O tempo todo me dizendo menos. Menos. Pra aguentar, por favor. Pra ter alguma coisa, qualquer coisa. Duas semanas. Um mês. Menos. Menos dor, menos amor, menos ódio, menos vontade de fazer cortar. De sangrar pra fora pra poder ser menos. Por favor. Sorria como a moça da mesa ao lado, coloque um montinho de cabelo atrás da orelha, alongue um pouco o pescoço. Seu olhar está perdido porque pra poder estar naquela mesa ela foi matando pouco a pouco sua ferocidade. Mas ela toma chá e sorri. E você? Você mais uma vez vai voltar cheia de razão e sozinha. Cheia de tudo que não esquenta o pé. Cheia das facas enfincadas em volta do coração. Mas pensando “ainda falta o centro, ainda posso dar mais uma chance”. O tempo todo maquiando o caminhão,
(...) Se você pudesse ver agora, tão pequena, tão desesperada, tão apaixonada, você me diria tantas coisas horríveis de novo? Se você visse como flutuo pela casa sem conseguir pisar no chão porque dói demais você não estar aqui, você diria novamente que eu peso demais? (...) Você me disse e me olhou de formas terríveis mas o que sobrou colado em cada parte do dia e de mim é a maneira como você sorri levantando que nem criança o lábio superior direito e como eu gosto de você por isso e por tudo e mesmo quando é ruim e sempre quando é incrível e ainda e muito e por um bom tempo. Tati Bernardi
Provoca uma certa melancolia, uma tristeza decadente – seguramente literária— como certas canções de entre guerras ou páginas soltas de Drieu La Rochelle, ver um homem só, afastado e distante, no balcão de um bar com uma decoração cosmopolita. Nessa idade incerta, tão incerta como a luz ambiente, em que já não é jovem e contudo ainda não é velho mas traz nos seus olhos a marca da sua derrota quando com um gesto estudado acende um cigarro. Muitos copos e muitas camas, uma indubitável barriga mal dissimulada pela camisa, o tremor, não muito visível, da sua mão segurando um copo, fazem parte do naufrágio, da ressaca da vida. Um homem que espera sabe deus o quê e, inspirando o fumo, olha com declarada indiferença as garrafas à sua frente, os rostos reflectidos por um espelho, tudo com a particular irrealidade de uma fotografia. E causa, ainda mais triste, um fundo suspiro reprimido, ver no fundo desse copo – mágico caleidoscópio – que esse homem és irremediavelmente tu. Não resta então sen
Contigo, comigo Manuel Bandeira Como contigo Eu chego a mim! Como me trazes A esfera imensa Do mundo meu E toda a encerras Dentro de mim! Como contigo Eu chego a mim! Ah como pões Dentro de mim A flor, a estrela, O vento, o sol, A água, o sonho!... Como contigo Eu chego a mim!
Ganhei de presente do meu pai. There's no place like home. De pai pra filha Martinho da Vila Ô filhinha Se entrega ao estudo e se guia Minha filha Estuda, trabalha, se casa e procria Oi filhinha, oi filhinha Oi filhinha, oi filhinha Já não é mais um problema Uma experiência pré-nupcial A autosubsistência antes do casamento É que é fundamental Seja sempre feminina E jamais submissa, isto é, Sem nunca se esquecer menina Que homem é homem E mulher é mulher Se algum dia o divórcio chegar Não vais ter problemas Pra se adaptar Nem vais viver de pensão de marido E os teus filhos vão te admirar A liberdade é um sonho De quem permitiu se aprisionar
Pequeno glossário de pessoas insuportáveis Nina Lemos (02 Neurônio) O alegre demais Pessoa sempre feliz e animada. Esse tipo de gente acha que é G.O do mundo, que na verdade é um clube med. Eles interagem demais com as pessoas, muitas vezes para falar: “se anima!”. Pior é quando ele/ela encosta em você e tenta te fazer dançar no seu dia de mais mau humor. Definitivamente, não dá para ser alegre o tempo todo. E a vida não é uma aula de spinning. (...)
Pra mim, o momento mais legal da copa (e olha que eu amo futebol): A taça não foi a única a ser beijada pelo capitão neste domingo. Enquanto dava entrevista para a sua namorada, a repórter de TV Sara Carbonero, Casillas se emocionou ao falar da família. Ouviu um "não tem problema, vamos falar do jogo" e em seguida tascou um beijo na boca dela, saindo em seguida. Curiosamente, momentos antes, o goleiro se recusara a falar da polêmica que o perseguiu durante a Copa, já que ela esteve nos jogos da seleção espanhola e foi até acusada de tirar a concentração dele. (Site G1).
Carpinejar de novo, porque achei lindo: A verdadeira paz é muito barulhenta, é uma casa cheia das vozes dos filhos e de minha mulher.
Duplo sentido Carpinejar A sensualidade é a infância da vida adulta. Ou alguém ainda duvida que sexo é brincadeira? Uma palavra certa e a vontade não larga mais o pensamento. Quando a namorada sugere que é lasciva, eu não me contenho, junto imediatamente as pernas e fecho o tórax. Lasciva é uma palavra muito rápida, entra direto no sangue. Derrubo minhas defesas também diante de “assanhada” e “safada”. Um amigo não pode escutar lúbrica que abandona sua carreira. A audição se desespera com a realidade paralela dos vocábulos. Sou da turma do sexo falado. Não me permito pecar quieto. Saio para pescar na conversa. Gemer em silêncio somente na masturbação, tampouco partilho da crença da música ao fundo. Reivindico a gritaria, as frases doidas, o acinte animal. O ritmo vem unicamente da respiração e da falta dela. É um efeito colateral da minha geração. O carro foi o primeiro quarto, o sofá foi o primeiro hotel. Não encontrava tanto conforto para transar, necessitava arretar semanas e conven
Ana Martins Marques. O meu mais recente amor da vida inteira. Não consigo parar. Poema de amor Ana Martins Marques Este é um poema de amor por isso nele não poderá faltar a menção a alguma flor e por isso digo rosa ou lírio ou simplesmente rubro, rubro e espero as páginas imantarem-se de vermelho por isso digo febre e noite e fumo para dizer ansiedade e desperdício de sêmen e de horas e cigarros à janela acesos como estrelas com a noite numa ponta e nós consumindo-nos na outra este é definitivamente um poema de amor por isso nele devo dizer casa e olhos e neblina e não devo dizer que o amor é uma doença uma doença do pensamento uma desordem que põe tudo o mais em desordem uma perda que põe tudo a perder e porque é um poema de amor sob pena de ser devolvido como uma carta sem destinatário (e todos sabem que não se deve brincar com os correios) este poema deve dirigir-se a alguém porque
"quem nunca deu uns tapas na mulher? quem nunca ocultou um cadáver? vamos parar com essa hipocrisia!". Do Twitter do Milen , nosso Millôr particular.
Stuff no one told me.
Morto vivendo Carlos Drummond de Andrade Aquele morreu amando. Nem sentiu chegar a morte quando à vida se abraçava nem a morte o castigou. Enquanto beijava o amor a morte o foi transportando nos braços do amor gozoso sem desatar-se a cadeia de vida enganchada em vida. Aquele morreu? Quem sabe o que foi feito do amante alçado em coche de chamas ou carruagem de cinzas no ato pleno de amar? Não corrigiu a postura, não voltou aos intervalos de solitude na espera, não repetiu mais os gestos fora do rito amoroso. Morreu completo, no êxtase de estar no mundo e extramundo. Que sabe a morte do abraço paralizado na luz do quarto aberto ao amor e defeso a tudo mais? E se continua vivo e mais do que vivo amando sem paredes e sem ossos nos vazios espaciais, não sei como, não sei quem?