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Provoca uma certa melancolia,
uma tristeza decadente – seguramente literária—
como certas canções de entre guerras
ou páginas soltas de Drieu La Rochelle,
ver um homem só, afastado e distante,
no balcão de um bar com uma decoração cosmopolita.
Nessa idade incerta, tão incerta como a luz ambiente,
em que já não é jovem e contudo ainda não é velho
mas traz nos seus olhos a marca da sua derrota
quando com um gesto estudado acende um cigarro.
Muitos copos e muitas camas,
uma indubitável barriga mal dissimulada pela camisa,
o tremor, não muito visível, da sua mão segurando um copo,
fazem parte do naufrágio, da ressaca da vida.
Um homem que espera sabe deus o quê
e, inspirando o fumo, olha com declarada indiferença
as garrafas à sua frente, os rostos reflectidos por um espelho,
tudo com a particular irrealidade de uma fotografia.
E causa, ainda mais triste, um fundo suspiro reprimido,
ver no fundo desse copo – mágico caleidoscópio –
que esse homem és irremediavelmente tu.
Não resta então senão um sorriso céptico e distante
– aprendido muito cedo e útil anos mais tarde –,
e acabares a bebida de um só trago,
pagares a conta enquanto chamas um táxi
e dizeres-te adeus com palavras banais.

Juan Luis Panero

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Sex and the city . Nunca vi - nunca mesmo - e não gostei. Acho deprimente o bando de mulheres na faixa dos trinta (vejam bem: não estou falando de adolescentes!) que acreditam que Nova York é aqui, que se sentem modernetes porque lêem Nova (audácia!), que fazem tratados sobre o significado oculto do comportamento masculino e que - esta é a cereja do bolo - anunciam numa mesa de bar: "nossa, eu sou muito a Carrie" ou qualquer uma das personagens caricatas do seriado. É só um programinha de TV, meninas. De outro país, outra cultura, sobre mulheres que têm roupas e depressões fashion-bacaninhas (não, não precisa ter assistido pra saber do que se trata). Pelo amor de Deus. E depois a gente é obrigada a escutar que falta "homem interessante" no mundo.
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