Não é "estou postando um texto do Fer porque ele é meu marido". Na verdade, é "o Fer é meu marido porque escreve textos como o que estou postando agora".
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O maravilhoso e incompreensível universo das mulheres
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A lógica feminina é um ambiente impenetrável, inóspito, árido para nós, homens. O sucesso de um relacionamento ou da participação masculina em um relacionamento só pode se dar no momento em que essa pedra fundamental das interações intersexuais for compreendida e eternizada.
A lógica feminina é um ambiente impenetrável, inóspito, árido para nós, homens. O sucesso de um relacionamento ou da participação masculina em um relacionamento só pode se dar no momento em que essa pedra fundamental das interações intersexuais for compreendida e eternizada.
Como um motorista que, dia após dia, enfrenta novas estradas sem nunca percorrê-las duas vezes, o homem deve se orientar por uma única baliza: não pode criar expectativas ou construir padrões que o ajudem a compreender o que está pela frente.
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Cena 1
O homem, recém-casado, preocupa-se em organizar os itens que só ele pode resolver dentro da nova casa: instala pequenos equipamentos eletro-eletrônicos, usa sua nova furadeira, equilibra-se nos últimos degraus da escada de alumínio para evitar que a nova parceira o faça.
À mulher destinam-se as tarefas de cunho mais feminino - organização de armários, decoração, limpeza, cozinha.
(Torna-se pertinente, aqui, um questionamento sobre o por quê dessas tarefas estarem associadas ao universo das mulheres: terá sido por imposição social nas primeiras décadas posteriores à revolução industrial, por afinidade às habilidades físico-motoras das senhoras casadas ou pelo puro e simples acaso?)
Voltando à cena 1, após um dia de trabalho igualmente desgastante para ambas as partes, o seguinte diálogo acontece:
- Nos próximos dois dias, a limpeza do chão e as louças são responsabilidade sua, diz a mulher.
- Uai, por que?
- Porque hoje eu passei o dia lavando as roupas, limpando a sala e fiz a comida.- Tá, mas eu também passei o dia trabalhando, não parei hora nenhuma igual a você
Claro, claro, mas você fez as coisas que você gosta. E eu não...
Proferida essa frase, Martinho Lutero se contorce em sofrimento, amaldiçoando a eficiência católica em inflingir culpa e sofrimento no cardápio diário de milhões de pessoas em todo o mundo. Inútil dizer que ninguém mais poderia ter executado as tarefas que nosso marido executou, nem dizer que 80% da limpeza e da organização femininas são desnecessárias ao mundo masculino, ao passo que nenhuma das "prazerosas" tarefas empreendidas pelo homem poderia ser deixada de lado. E, afinal, qual é o problema em se ter prazer no que se faz? O homem deveria proibir sua esposa de cozinhar caso essa tarefa lhe apetecesse?
Preocupado em construir as bases de um relacionamento duradouro e ainda mais preocupado em não assumir o lugar típico do chefe de família dos anos 50, o parceiro vai, ao longo dos meses, aceitar cada vez mais funções, sem nunca conseguir rebater a acusação de que só faz o que gosta dentro da casa, esse grande pecado.
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Cena 2
Outro casal em seu primeiro ano de casamento, sem diarista que lhes alivie a dura rotina de manter a casa limpa, roupas lavadas, louças brilhando e muito bom humor. Determinam que a pia seria responsabilidade dela nos dias ímpares, dele nos dias pares.Dia ímpar: ele prepara uma salada e um grelhado para o jantar.
Dia par: ela decide fazer souflé de espinafre de entrada, lasanha à bolonhesa como prato principal e, de sobremesa, mousse. Experimenta 97% dos utensílios que o casal ganhou dos parentes e amigos no casamento, incluindo o fantástico secador de alface, o mixer elétrico para preparar 35ml de molho e um jogo de refratários importado.
Três horas mais tarde, com as mãos enrugadas e a roupa suja de detergente, ele escuta: "você demora demais pra lavar louça, meu bem". Ao registrar sua insatisfação com a desigualdade no volume de louças, consegue o passaporte para um debate sobre o relacionamento.
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Cena 3
Deitada de bruços, com as duas mãos em posição de esfinge, ela diz: faça o que achar certo. Ele, mezzo convicto de que conhece bem o comportamento de sua mulher, fica mezzo tranquilo e se prepara para executar a tarefa, trazendo consigo as ferramentas necessárias. Sente, porém, um desequilíbrio da Força.
Observa de soslaio a feição da esposa, que aparenta indiferença. Ela segue serena, confiante de ter deixado clara sua sugestão impositiva. Lê uma revista, arruma o cabelo e finge ignorar a presença de uma furadeira, escada e caixa de ferramentas no chão da sala.
Trinta minutos depois, já com o serviço executado, a casa é preenchida por uma simpática nuvem cinza. Fazer o que achava certo nesse caso, decretou a mulher a posteriori, não incluía levar a cabo a tarefa. "Faça o que achar certo" significa na lógica feminia, quase sempre, "faça o que eu acho certo, mas que insisto em não lhe dizer".
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Epílogo para garantir a continuidade do meu casamento
Acho as mulheres adoráveis, deliciosas, fundamentais. A minha, mais do que todas. A imprevisibilidade feminina torna o dia-a-dia mais divertido, inesperado e desafiante. A lógica simplista e preguiçosa do homem - mesmo que eu a adote com frequência - deixa o mundo mais sujo e grosseiro. O contraponto feminino evita que papéis, documentos e embalagens usadas se acumulem na mesa da sala por meses.
Estou casado há quase um ano. Nunca estive tão feliz com minha escolha, com minha companheira e com minha vida. A Dri dormindo em meu peito vale qualquer falta de lógica do mundo.
Comentários
Bjs cariocas e lacanianos,
Carol