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«De que é que estás a rir?»
«Descobri o que tu és para mim.»
Ela fica à espera e ele deixa-a esperar. Sai da cama e vai buscar um maço de cigarros. Dá um à Zana e acende-lho, sem tirar nenhum para ele.
Ela estende-se em cima da cama e ele, que estava nu, mete-se outra vez entre os lençóis.
«Às vezes», diz ele, «quando jogo poker tenho a intuição de guardar uma só carta e pedir quatro. Mesmo que as cinco recebidas sejam uma hipótese de sequência ou full-hand, ou isso.»
«E então?»
Ele ri-se novamente.
«Tu és essa única carta que eu guardo. Contra toda a lógica do jogo.»
Ela vira-se na cama para o olhar de frente. O decote do roupão mostra-lhe o seio direito, porque Zana está inteiramente nua debaixo do roupão. Nos olhos dela acontece o mesmo milagre que da outra vez: vê-los é como se alguém, espreitando do alto da torre de saltos de uma piscina, descobre de repente e estupefacto que esta não tem água no seu fundo. Quem se atirar de cabeça descerá como um raio até ao centro da Terra.

Nuno Bragança em "A Noite e o Riso"

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Sex and the city . Nunca vi - nunca mesmo - e não gostei. Acho deprimente o bando de mulheres na faixa dos trinta (vejam bem: não estou falando de adolescentes!) que acreditam que Nova York é aqui, que se sentem modernetes porque lêem Nova (audácia!), que fazem tratados sobre o significado oculto do comportamento masculino e que - esta é a cereja do bolo - anunciam numa mesa de bar: "nossa, eu sou muito a Carrie" ou qualquer uma das personagens caricatas do seriado. É só um programinha de TV, meninas. De outro país, outra cultura, sobre mulheres que têm roupas e depressões fashion-bacaninhas (não, não precisa ter assistido pra saber do que se trata). Pelo amor de Deus. E depois a gente é obrigada a escutar que falta "homem interessante" no mundo.
"Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça, para o total". Tem Lacan pra estudar, mas G. Rosa não tá deixando.
Ganhei um presentão . Nenhuma data especial. Presente de amigo, mesmo. Muitos corações, Nando. Que bom que eu conheci você. E q ue bom que as coisas andam tão certas nesta vida tão doida.