A dor como afrodisíaco
Martha Medeiros
O cara atende todas as suas vontades. Vive ligando, gravando fitas, chamando para uns programas bacanas e dizendo tudo aquilo que é muito bem-vindo: te adoro, te acho linda, não me imagino longe de ti. Está tudo muito bem, mas seu coração continua batendo devagar. Aí surge outro cara. Ele fica com você um dia e desaparece no outro. Telefona num sábado e some no domingo. Diz que curte você mas quer aproveitar a vida. Você escuta, então, um barulho que parece a bateria da escola de samba da Imperatriz Leopoldinense invadindo seu quarto, mas é seu coração. Dá para ouvi-lo bater daqui.
Que raio de mecanismo é esse que faz com que a gente se ligue em quem não nos dá bola? Não é prerrogativa feminina, vale para ambos os sexos.
Conheço muito cara que lambe o chão que pisa a menina que faz jogo duro. Será que, faltando quatro semanas para o ano 2000, ainda não caducou aquela regra que diz que homens e mulheres difíceis é que são valorizados?
Eu estou com o Jota Quest: um dia feliz às vezes é muito raro, então vamos saudar tudo o que for extremamente fácil. Que bom poder amar e ser amado na mesma sintonia e com a mesma intensidade. Xô, dificuldade.
Pena que o ser humano é extremamente difícil. Cultivamos um lado masoquista que se revela quando menos precisamos dele. Temos uma necessidade congênita de enfrentar desafios. A conquista nos interessa mais que a vitória. Nem pensar em sair do jogo. A gente não sossega enquanto aquele idiota não perceber o quanto somos maravilhosas e indispensáveis. Quando ele (ou ela) finalmente descobrir que está apaixonado por nós e se entregar, aí sim poderemos relaxar. E partir pra outra.
Essa é a má notícia: sofrer por amor é afrodisíaco. Agora a boa notícia: afrodisíaco para adolescentes. Como ninguém estaciona nos 17 anos, a tendência é mais tarde, com mais experiência de vida e menos tempo a perder, homens e mulheres passarem a se valorizar mais e a querer ao seu lado só aqueles que estão dispostos a compartilhar bons momentos. É claro que a maturidade também tem uma quedinha por desafios, mas a auto-estima impede que esta quedinha, que é até saudável, se transforme num problema crônico de relacionamento. Em vez de complicar a própria vida, é bem mais fácil, extremamente fácil, lembrar do seguinte: quem não te quer, não te merece.
Martha Medeiros
O cara atende todas as suas vontades. Vive ligando, gravando fitas, chamando para uns programas bacanas e dizendo tudo aquilo que é muito bem-vindo: te adoro, te acho linda, não me imagino longe de ti. Está tudo muito bem, mas seu coração continua batendo devagar. Aí surge outro cara. Ele fica com você um dia e desaparece no outro. Telefona num sábado e some no domingo. Diz que curte você mas quer aproveitar a vida. Você escuta, então, um barulho que parece a bateria da escola de samba da Imperatriz Leopoldinense invadindo seu quarto, mas é seu coração. Dá para ouvi-lo bater daqui.
Que raio de mecanismo é esse que faz com que a gente se ligue em quem não nos dá bola? Não é prerrogativa feminina, vale para ambos os sexos.
Conheço muito cara que lambe o chão que pisa a menina que faz jogo duro. Será que, faltando quatro semanas para o ano 2000, ainda não caducou aquela regra que diz que homens e mulheres difíceis é que são valorizados?
Eu estou com o Jota Quest: um dia feliz às vezes é muito raro, então vamos saudar tudo o que for extremamente fácil. Que bom poder amar e ser amado na mesma sintonia e com a mesma intensidade. Xô, dificuldade.
Pena que o ser humano é extremamente difícil. Cultivamos um lado masoquista que se revela quando menos precisamos dele. Temos uma necessidade congênita de enfrentar desafios. A conquista nos interessa mais que a vitória. Nem pensar em sair do jogo. A gente não sossega enquanto aquele idiota não perceber o quanto somos maravilhosas e indispensáveis. Quando ele (ou ela) finalmente descobrir que está apaixonado por nós e se entregar, aí sim poderemos relaxar. E partir pra outra.
Essa é a má notícia: sofrer por amor é afrodisíaco. Agora a boa notícia: afrodisíaco para adolescentes. Como ninguém estaciona nos 17 anos, a tendência é mais tarde, com mais experiência de vida e menos tempo a perder, homens e mulheres passarem a se valorizar mais e a querer ao seu lado só aqueles que estão dispostos a compartilhar bons momentos. É claro que a maturidade também tem uma quedinha por desafios, mas a auto-estima impede que esta quedinha, que é até saudável, se transforme num problema crônico de relacionamento. Em vez de complicar a própria vida, é bem mais fácil, extremamente fácil, lembrar do seguinte: quem não te quer, não te merece.
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