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Como será a nova namorada dele
Martha Medeiros
Aí terminaram o namoro. Você ficou meio magoada, ele se sentindo meio culpado, mas deram meia-volta, volver e cada um tomou seu rumo. Passam-se uns dias e surpresa: ele tem nova namorada. Claro que você foi a primeira a saber, suas amigas fizeram questão de lhe contar, afinal, adoram você. Tudo bem, tudo bem, que eles sejam felizes. Tudo bem uma pinóia. Você já arrancou toda a cutícula com a boca. Está se mordendo para saber como é sua rival. Mais bonita? Mais feia? Caiu aqui: você vai odiá-la do mesmo jeito. Digamos que ela seja mais bonita. O cabelo é mais bonito. O corpo é mais bonito. E ainda por cima o nome dela é Paula e você é Ludislene Gorete. Enfim, o cara te trocou por uma gataça. “Que deve ser burríssima. Que deve ter mau-hálito. Que deve ser sofrível na cama. E ele, francamente, tem titica de galinha na cabeça. Coisa mais fora de moda dar valor para a aparência. Está se achando o rei da cocada preta com essa 'zinha' com quem anda desfilando. E que deve corneá-lo, ninguém duvide. É muita areia pro caminhão dele. E o caminhão dele é um Corsa de terceira mão, essa aí em dois toques vai estar trocando ele por um Audi, aí ele vai descobrir que ela não vale a folha de alface que come, essa anoréxica”. Então digamos que ela seja mais feia. O cabelo mais opaco. O corpo só tem frente, não tem verso. Ligeiramente manca. “Putz, deve ser um avião na cama. Deve recitar Beaudelaire de cor e salteado. E deve adorar aipo, que ele também venera. Mas se já é sem sal agora, vai embofar de vez quando engravidar. Vai engordar para todo o sempre, nunca mais se recupera. Vão ficar os dois discutindo Jorge Luis Borges e se entupindo de panqueca de banana. Vão viajar para lugares exóticos para combinar com o rosto dela. Caramba, por que ele nunca me disse que gostava de mulher inteligente? Eu poderia ter lido toda a obra de Tolstoi em vez de perder tempo malhando”. Se for mais bonita ou se for mais feia, pouco importa. Não é você, e é isso que dói.

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Sex and the city . Nunca vi - nunca mesmo - e não gostei. Acho deprimente o bando de mulheres na faixa dos trinta (vejam bem: não estou falando de adolescentes!) que acreditam que Nova York é aqui, que se sentem modernetes porque lêem Nova (audácia!), que fazem tratados sobre o significado oculto do comportamento masculino e que - esta é a cereja do bolo - anunciam numa mesa de bar: "nossa, eu sou muito a Carrie" ou qualquer uma das personagens caricatas do seriado. É só um programinha de TV, meninas. De outro país, outra cultura, sobre mulheres que têm roupas e depressões fashion-bacaninhas (não, não precisa ter assistido pra saber do que se trata). Pelo amor de Deus. E depois a gente é obrigada a escutar que falta "homem interessante" no mundo.
"Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça, para o total". Tem Lacan pra estudar, mas G. Rosa não tá deixando.
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