Procurei um texto para postar pra Caroli, mas não achei exatamente o que eu queria. Aí me lembrei deste, que eu adoro e que também é dela.
Ontem a gente passou o almoço lembrando dos amores que partiram o nosso coração e daqueles cujos corações quem partiu foi a gente, dos namorados loucos que só usavam bermuda e eram barrados nas festas, dos namorados certinhos que não tinham a menor graça, dos ficantes que faziam a gente rir, dos ex que faziam a gente chorar, dos meninos que brigaram pela gente e dos que fizeram a gente brigar.
Foi assim há dez anos e é assim ainda: encontrar pra falar da vida e pra falar de amor. Os mesmos temas sobre os quais ela falou no meu casamento, e a cola que me liga a essa menina branquinha, inteligente, meiga e linda há mais de dez anos, nem sei se como irmã mais velha ou como irmã mais nova. Acho que como a mais velha, mas aquela mais velha meio doidinha, que olha admirada pra determinação e pra serenidade da irmã pequena.
Com licença poética
Adélia Prado
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
– dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
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Adorei muito!