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Mostrando postagens de outubro, 2005
Um amor tão bom Danuza Leão . Casados eles não pareciam ser - não um com o outro -, e aquele jantar cedo, num restaurante modesto, comum, era muito bom de se ver. Estavam sentados um em frente ao outro, e parecia claro que não iriam para a mesma casa depois do jantar, não dormiriam nem acordariam juntos. Por isso, talvez, tinham tanto a se dizer - e se diziam. Ela às vezes passava a mão na testa dele, afastando uma mecha de cabelo; daí a pouco ele devolvia o carinho e segurava a mão dela num gesto rápido, isso por cima dos pratos, sem que nada fosse fora de propósito nem inadequado, como nunca são os gestos que saem do coração. Não havia entre eles aquele clima de urgência que precede a ida a um motel, muito pelo contrário; parecia, isso sim, que eles haviam passado a tarde se amando e depois foram a um restaurante, daqueles em que não há risco de encontrar nenhum amigo, para ficarem juntos um pouco mais, o tempo que ainda tinham, sem inquietação, pelo prazer da companhia um do outro.
O amor acaba Paulo Mendes Campos O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse e
As meninas-chapinha Nina Lemos . Foi em um salão caro de bairro chique e tradicional de São Paulo_ o único lugar aberto para fazer a unha no feriado. De repente chegou uma menina. E outra. E mais outra. Todas bonitinhas nos seus menos de 20 anos (bem menos). Todas fofas. Aí comecei a reparar que eles tinham o cabelo liso por cima e meio cacheado por baixo. Todas as meninas do bairro tinham ido ao salão, que devem freqüentar toda semana, para alisar o cabelo. Todas as meninas entraram ali para saírem iguais. Se eu tivesse menos de 20 e morasse naquele bairro, talvez também fosse uma mina chapinha ou escova. Tudo para não ser diferente do grupo. Tudo para ser diferente de mim mesma. Se bem que, na minha época de escola, fui lá e raspei o cabelo máquina 2 e logo ganhei o apelido de Maria Alcina. Era horrível ser xingada na rua. Mas era ótimo ter orgulho de ser quem eu sou. Tinha algo muito de triste nas meninas chapinha. Elas são muito novas para perderem tanto tempo no cabeleireiro. Que