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Mostrando postagens de novembro, 2007
Canção do Carcereiro Jacques Prevért Aonde vais belo carcereiro Com essa chave manchada de sangue Vou soltar aquela que amo Se ainda for possível E que tranquei Ternamente cruelmente No mais profundo do meu tormento Nas mentiras do futuro Nas bobagens das juras Quero soltá-la Quero que seja livre Até para me esquecer Até para ir-se embora Até para voltar E também para me amar Ou para amar um outro Se esse outro lhe agradar E se ficar um dia sozinho E ela só em idas Guardarei sempre Nas minhas duas mãos côncavas Até o fim dos dias A doçura dos seus seios modelados pelo amor.
O risco da meia da moça Inácio de Loyola Brandão Cedo ainda, pai e filha entraram na lanchonete deserta. O homem escolheu a mesa no canto, junto à janela. Magro, óculos de lentes espessas, parecia cansado. Indagou da menina: - O que você quer? - Chocolate. - E para comer? - Pão de queijo. E o senhor? - Acho que nada. Enquanto ela comia com lentidão, o pai olhava atento, como que preocupado. Havia um breve brilho de alegria nos olhos dele, talvez contentamento por estar com ela. No entanto, não parecia muito à vontade. A manhã de maio era límpida, fresca. (...) Ela tomou mais um pouco do chocolate, fazendo barulho com a boca. - Não faça isso, é feio. Coisa de gente mal-educada. - Sou bem-educada? - Ao menos, tenho tentado. Ele viu que o pão de queijo tinha sido devorado. Talvez a menina quisesse outro. Virou-se um pouco, tirou umas moedas do bolso, contou. - Quer outro pão de queijo? - Posso? - Por que não? - Outro dia, na padaria, comi um pão na chapa e você não comeu nada, estava sem
Ando sumida. É que na minha casa nova ainda não tem internet - lá só tem lareira, vela, cobertor quentinho, quintal com amora, jardim, noite fria, vinho, namoro, amigos (amigos, amigos, amigos). Daqui a pouco volto a ser cyber. Por enquanto, estou curtindo ser só feliz mesmo.
Bossa Nova para principiantes Edson Aran. Tenha mulheres! Praias! Barquinhos! 1 – Se você acha que amar é tolice, bobagem e ilusão é Bossa Nova. Se amar foi sua ruína é samba-canção. Se a ingrata deu pro Assum Preto, pro Pintassilgo e pro Ditão é música sertaneja. 2 – Se você acordou de amanhã se sentindo miserável não é Bossa Nova. É blues. 3 – Se a última fileira do teatro consegue te escutar não é Bossa Nova. Se a primeira também não escuta é show do Philip Glass. 4 – Se você vai à praia de tardinha para ver o barquinho é Bossa Nova. Se você só viu barcão, solzão, canção, campeão ou outra coisa terminada em “ão” é samba-enredo. Menos improvisação. Aí é jazz. 5 – Música com maçã, Iansã e febre terçã geralmente é coisa do Djavan. Mas se tiver pau, pedra e um resto de toco é o fim do caminho. 6 – Se você veio da Bahia, mas um dia ainda volta pra lá, a rodoviária fica logo ali. Valeu. 7 – Se você fica deprimido quando pensa no amor é Bossa Nova. Se você pensa no amor e fica deprimido é
Esta vida Guilherme de Almeida Um sábio me dizia: esta existência, não vale a angústia de viver. A ciência, se fôssemos eternos, num transporte de desespero inventaria a morte. Uma célula orgânica aparece no infinito do tempo. E vibra e cresce e se desdobra e estala num segundo. Homem, eis o que somos neste mundo. Assim falou-me o sábio e eu comecei a ver dentro da própria morte, o encanto de morrer. Um monge me dizia: ó mocidade, és relâmpago ao pé da eternidade! Pensa: o tempo anda sempre e não repousa; esta vida não vale grande coisa. Uma mulher que chora, um berço a um canto; o riso, às vezes, quase sempre, um pranto. Depois o mundo, a luta que intimida, quadro círios acesos : eis a vida Isto me disse o monge e eu continuei a ver dentro da própria morte, o encanto de morrer. Um pobre me dizia: para o pobre a vida, é o pão e o andrajo vil que o cobre. Deus, eu não creio nesta fantasia. Deus me deu fome e sede a cada dia mas nunca me deu pão, nem me deu água. Deu-me a vergonha, a inf
À vida Florbela Espanca Ém vão o amor, o ódio, ou o desdém; Inútil o desejo e o sentimento... Lançar um grande amor aos pés de alguém O mesmo é que lançar flores ao vento! Todos somos no mundo "Pedro Sem", Uma alegria é feita dum tormento, Um riso é sempre o eco dum lamento, Sabe-se lá um beijo de onde vem! A mais nobre ilusão morre... desfa-se... Uma saudade morta em nós renasce Que no mesmo momento é já perdida... Amar-te a vida inteira eu não podia, A gente esquece sempre o bom de um dia. Que queres, meu Amor, se é isto a vida!
Do blog da minha irmã. Amor. . It just so happen that life chose them for me. But if I was given the chance I would be like "I want that dark-skinned one with the thick eyebrows and a hole on his chin, and that short one with a funny nose. Thanks."
Um dos mais lindos do mundo: Álvaro de Campos Quando eu não te tinha Amava a natureza como um monge calmo a Cristo... Agora amo a natureza como um monge calmo a Virgem Maria... Religiosamente, a meu modo, como antes, Mas de outra maneira, mais comovida e mais próxima... Vejo melhor os rios quando vou contigo Pelos campos à beira dos rios; Sentado a teu lado reparando nas nuvens Reparo nelas melhor... Tu não me tiraste a natureza... Tu mudaste a Natureza... Trouxeste a Natureza para o pé de mim. Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais, Porque tu me escolhestes para te ter e te amar, Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente Sobre todas as coisas. Não me arrependo do que fui outrora Porque ainda o sou...
É a dúvida da Dri de lá , mas também desta Dri daqui: Dúvida Como pude conviver com o joio por tanto tempo? Me explica, Dri. Eu também preciso que alguém me explique (de qualquer forma, que bom ter alguém com a mesma dúvida pra me assegurar da minha lucidez!).
Apetite sem esperança Elisa Lucinda Mãe eu tô com fome eu dizia eu gritava eu mugia minha vó zangada respondia você não está morrendo e nem tem fome Você tem é apetite Você sabe que vai comer, aonde comer, o quê vai comer. Fome não! A fome, minha neta, a fome, meu irmão, a fome, minha criança, é um apetite sem esperança. Quando há certeza de cereais, toalhas americanas, guardanapos e alegrias da coca-colândia não há fome de verdade. Minha vó já dizia pra mim um futuro de Brasil. Minha vó nem viu edifício crescer no lugar de pão no lugar de trigo nem viu criança com infância de semáforo vendendo mariola barata, criança que mata porque seu quintal tá sempre no vermelho criança cujo ralado de joelho dói menos do que o não morar, não existir, não contar com a fome tenaz Não há tenaz na escola há só a cola de cheirar a dor doída de um monstro estômago a roncar um animal doído dentro do corpo a uivar todo dia, sem boa vista, sem quinta zoológica onde morar Com a fome das crianças brasileiras
Clarice Lispector Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata.
Moda da menina trombuda Cecília Meireles É a moda da menina muda da menina trombuda que muda de modos e dá medo. (A menina mimada!) É a moda da menina muda que muda de modos e já não é trombuda. (A menina amada!)
C. D. Andrade A língua lambe as pétalas vermelhas da rosa pluriaberta; a língua lavra certo oculto botão, e vai tecendo lépidas variações de leves ritmos. E lambe, lambilonga, lambilenta, a licorina gruta cabeluda, e, quanto mais lambente, mais ativa, atinge o céu do céu, entre gemidos, entre gritos, balidos e rugidos de leões na floresta, enfurecidos.
Mais Camões, porque é o máximo e porque o Cadu, leitor VIP, adora: Busque Amor novas artes, novo engenho Para matar-me, e novas esquivanças, Que não pode tirar-me as esperanças, Que mal me tirará o que eu não tenho. Olhai de que esperanças me mantenho! Vede que perigosas seguranças! Que não temo contrastes nem mudanças, Andando em bravo mar, perdido o lenho. Mas, conquanto não pode haver desgosto Onde esperança falta, lá me esconde Amor um mal, que mata e não se vê, Que dias há que na alma me tem posto Um não sei quê, que nasce não sei onde, Vem não sei como e dói não sei porquê.
Camões Tanto de meu estado me acho incerto, que em vivo ardor tremendo estou de frio; sem causa, juntamente choro e rio, o mundo todo abarco e nada aperto. É tudo quanto sinto, um desconserto; da alma um fogo me sai, da vista um rio; agora espero, agora desconfio, agora desvario, agora acerto. Estando em terra, chego ao Céu voando, numa hora acho mil anos, e é de jeito que em mil anos não posso achar uma hora. Se me pergunta alguém porque assim ando, respondo que não sei; porém suspeito que só porque vos vi, minha Senhora.
Não sei se já postei aqui, mas valeria postar mil vezes. Sou completamente apaixonada por ele. Ana Cristina César Acreditei que se amasse de novo esqueceria outros pelo menos três ou quatro rostos que amei Num delírio de arquivística organizei a memória em alfabetos como quem conta carneiros e amansa no entanto flanco aberto não esqueço e amo em ti os outros rostos