Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2009
José Saramago Parece que a coisa vai bem encaminhada. O presidente dos Estados Unidos, que não se chama Messias, mas Barack Obama, assinou ontem uma lei denominada de Equidade ou Igualdade Social. A “responsável” directa deste documento foi uma mulher, uma trabalhadora que, tendo descoberto que havia levado toda a vida a ganhar menos exactamente por ser mulher, apresentou queixa contra a empresa e ganhou o pleito. Como numa prova desportiva de estafetas, esta mulher branca, chamada Lilly Ledbetter, passou o testemunho ao corredor seguinte, um negro com nome muçulmano, 44º. presidente da nação norte-americana. De repente, o mundo parece-me mais limpo, mais prometedor. Por favor, não me roubem esta esperança.
Guardar Antônio Cícero Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro Do que um pássaro sem vôos. Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: Para guardá-lo: Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: Guarde o que quer que guarda um poema: Por isso o lance de um poema: Por guardar-se o que se quer guardar.
O texto da Marcela está aqui porque é fofo e porque eu também acho medo bom. Paralisa num primeiro momento, mas depois que é domesticado faz a gente voar. Uma cama no altinho Marcela Dantés eu sempre tive medo de altura. mas é um medo meio estranho, que faz o coração acelerar quando alguém chega muito perto de uma janela. mas que não me impede de pular de bungee jump. é um medo que congela o meu sangue quando eu olho pra baixo em uma escada. mas que não lembra de aparecer na hora de viajar de avião. demorei, mas aprendi que medo é uma coisa saudável. pode ser doído, mas acaba que empurra a gente pra frente, né? dava pra fazer disso uma filosofia de vida. e dormir no alto já é um bom começo.
1. VICIADA em Friends, a série. Nem sabia o que era, mas resolvi entender. Idiota, sem conteúdo, com um humor ridiculamente fácil e piadas bestas - ou seja, divertidíssimo. 2. DEVORANDO a biografia do Freud para preparar minhas aulas. Subitamente orgulhosa de viver disso, da psicanálise, sabendo o quanto foi pesado (sempre é) ter um desejo tão decidido. . Friends e Freud. Minhas férias não poderiam ter sido melhores.
"Falo directamente à secretária de Estado. Deixe o apelido Clinton, que já se parece muito a um casaco coçado e com os cotovelos rotos, recupere o seu apelido, Rodham, que suponho ser de seu pai. Se ele ainda é vivo, já pensou no orgulho que sentiria? Seja uma boa filha, dê essa alegria à família. E, de caminho, a todas as mulheres que consideram que a obrigação de levar o apelido do marido foi e continua a ser uma forma mais, e não a menos importante, de diminuição de identidade pessoal e de acentuar a submissão que sempre se esperou da mulher". José Saramago, em seu blog . Não tem como não ler.
Ai, o amor jamais foi um sonho. O amor, eu bem sei, já provei, é um veneno medonho. É por isso que se há de entender que o amor não é um ócio. E compreender que o amor não é um vício, o amor é sacrifício, o amor é sacerdócio. . Chico Buarque, "Viver do amor". Versão da peça "Ópera do malandro" (há uma outra versão, feita para o filme).
Atrás dos olhos das meninas sérias Ana Cristina Cesar Mas poderei dizer-vos que elas ousam? Ou vão, por injunções muito mais sérias, lustrar pecados que jamais repousam?
... e no fim das contas, nossos dramas cotidianos não chegam nem a ser dramas, e são mais cotidianos, mais corriqueiros, mais desimportantes do que a gente consegue ver num primeiro momento. Alguns dariam mesmo é uma boa comédia.
É hoje. Obama José Saramago A Martin Luther King mataram-no. Quarenta mil polícias velam em Washington para que hoje não suceda o mesmo a Barack Obama. Não sucederá, digo, como se na minha mão estivesse o poder de esconjurar as piores desgraças. Seria como matar duas vezes o mesmo sonho. Talvez todos sejamos crentes desta nova fé política que irrompeu em Estados Unidos como um tsunami benévolo que tudo vai levar adiante separando o trigo do joio e a palha do grão, talvez afinal continuemos a acreditar em milagres, em algo que venha de fora para salvar-nos no último instante, entre outras coisas, desse outro tsunami que está arrasando o mundo. Camus dizia que se alguém quisesse ser reconhecido bastar-lhe-ia dizer quem é. Não sou tão optimista, pois, em minha opinião, a maior dificuldade está precisamente na indagação de quem somos, nos modos e nos meios para o alcançar. Porém, fosse por simples casualidade, fosse de caso pensado, Obama, nos seus múltiplos discursos e entrevistas, disse
Farewell y los sollozos Pablo Neruda 1 Desde el fondo de ti, y arrodillado, un niño triste, como yo, nos mira. Por esa vida que arderá en sus venas tendrían que amarrarse nuestras vidas. Por esas manos, hijas de tus manos, tendrían que matar las manos mías. Por sus ojos abiertos en la tierra veré en los tuyos lágrimas un dia. 2 Yo no lo quiero, Amada. Para que nada nos amarre que no nos una nada. Ni la palabra que aromó tu boca, ni lo que no dijeron las palabras. Ni la fiesta de amor que no tuvimos, ni tus sollozos junto a la ventana. 3 (Amo el amor de los marineros que besan y se van. Dejan una promesa. No vuelven nunca más. En cada puerto una mujer espera: los marineros besan y se van. Una noche se acuestan con la muerte en el lecho del mar.) 4 Amo el amor que se reparte en besos, lecho y pan. Amor que puede ser eterno y puede ser fugaz. Amor que quiere libertarse para volver a amar. Amor divinizado que se acerca. Amor divinizado que se va. 5 Ya no se encantarán mis ojos en tus ojos,
Ironia delicada sobre a minha escolha mais difícil e mais decidida: "Os homens são fortes enquanto representam uma idéia forte; se enfraquecem quando se opõem a ela. A psicanálise sobreviverá a essa perda e a compensará com a conquista de novos partidários. Para concluir, quero expressar o desejo de que a sorte proporcione um caminho de elevação muito agradável a todos aqueles que acharam a estada no submundo da psicanálise desagradável demais para o seu gosto. E possamos nós, os que ficamos, desenvolver até o fim, sem atropelos, nosso trabalho nas profundezas". Freud, 1914 . Estou com ele e não abro. Infelizmente, não sou das escolhas fáceis.
Mach es kurz! Am Jüngsten Tag ist’s nur ein Furz! . Goethe (citado por Freud em "A história do movimento psicanalítico", de 1914).
Vão em frente. Vale muito a pena (e, vamos combinar, nem é tão longo assim!). Aqueles dois (História de aparente mediocridade e repressão) Caio Fernando Abreu . A verdade é que não havia mais ninguém em volta. Meses depois, não no começo, um deles diria que a repartição era como "um deserto de almas". O outro concordou sorrindo, orgulhoso, sabendo-se excluído. E longamente, entre cervejas, trocaram então ácidos comentários sobre as mulheres mal-amadas e vorazes, os papos de futebol, amigo secreto, lista de presente, bookmaker, bicho, endereço de cartomante, clips no relógio de ponto, vezenquando salgadinhos no fim do expediente, champanha nacional em copo de plástico. Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra — talvez por isso, quem s
A formalística Adélia Prado O poeta cerebral tomou café sem açúcar e foi pro gabinete concentrar-se. Seu lápis é um bisturi que ele afia na pedra, na pedra calcinada das palavras, imagem que elegeu porque ama a dificuldade, o efeito respeitoso que produz seu trato com o dicionário. Faz três horas já que estuma as musas. O dia arde. Seu prepúcio coça. Daqui a pouco começam a fosforecer coisas no mato. A serva de Deus sai de sua cela à noite e caminha na estrada, passeia porque Deus quis passear e ela caminha. O jovem poeta, fedendo a suicídio e glória, rouba de todos nós e nem assina: 'Deus é impecável'. As rãs pulam sobressaltadas e o pelejador não entende, quer escrever as coisas com as palavras.
Hoje, no meu email: "posso mandar paixão? posso mandar beijo? carinho? posso mandar um e-mail dizendo que você é a melhor parte da minha vida, do meu dia? posso te pedir um beijo? e te chamar pra dormir comigo? se puder, eu quero tudo".
Arte de navegar Eugenio de Andrade Vê como o verão subitamente se faz água no teu peito, e a noite se faz barco, e minha mão marinheiro.
Da Mari, no blog dela . Assim, de graça. (Se a gente parar pra pensar, são poucas as coisas realmente importantes que outras pessoas podem tirar de nós). Lembro da primeira vez que vi a Dri. Minha admiração por ela só aumentou. Me acompanhou em momentos dificeis, presto atenção em cada palavra que ela fala porque sempre acho que contém mais sabedoria que a minha razão alcança. Esse post é só para dizer que sinto muito a falta dela mas sei e sinto que nossa amizade nunca mudou por qualquer distância que seja. Amo muito você, amiga. Saber que você me lê é um dos motivos desse blog.
Festa de criança L. Fernando Veríssimo Você reconhece quem teve uma festa de criança em casa no dia anterior. Alguma coisa no rosto. A expressão de quem chegou à terrível conclusão de que Herodes talvez tivesse razão. - Que respiração ofegante o sr tem! - Foi de tanto encher balão. - Que dificuldade o sr tem para caminhar! - Foi de tanto levar canelada tentando apartar briga. - Como as suas mãos estão trêmulas! - Foi de tanto me controlar para não esgoelar ninguém! Respeito e consideração para quem teve uma festa de criança em casa no dia anterior. O pai e a mãe estão atirados no sofá, um para cada lado. Semiconscientes. Já é noite, mas a festa ainda não acabou. Sobram 3 crianças que não param de correr pela casa. - Tenho uma idéia - diz o pai. - Qual é? - Vamos mandar eles brincarem no meio da rua. Esta hora tem bastante movimento. - Não seja malvado. Daqui a pouco eles vão embora. - Quando? Essas 3 foram as primeiras a chegar. Acho que os pais deixaram elas aqui e fugiram para o exte
O amor Fernando Pessoa O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente Cala: parece esquecer Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse Pr'a saber que a estão a amar! Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar...
Manoel de Barros No começo era o verbo. Só depois é que veio o delírio do verbo. O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: “Eu escuto a cor dos passarinhos.” A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor, mas para som. Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira. E pois Em poesia que é a voz do poeta, que é a voz de fazer nascimentos - O verbo tem que pegar delírio.
Para o Fer. Meu salvador. E eu já com vontade de fechar a porta só para abrir quando ele chegar - como fazem as noivas e as amantes. Os lugares comuns Adélia Prado Quando o homem que ia casar comigo chegou a primeira vez na minha casa, eu estava saindo do banheiro, devastada de angelismo e carência. Mesmo assim, ele me olhou com os olhos admirados e segurou a minha mão mais que um tempo normal a pessoas acabando de se conhecer. Nunca mencionou o fato. Até hoje me ama com amor de vagarezas, súbitos chegares. Quando eu sei que ele vem, eu fecho a porta para a grata surpresa. Vou abri-la como fazem as noivas e as amantes. Seu nome é: Salvador do meu corpo.