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Mostrando postagens com o rótulo Mário Quintana
Só o desejo inquieto, que não passa, Faz o encanto da coisa desejada. E terminamos desdenhando a caça Pela doida aventura da caçada. "Da eterna procura", Mário Quintana. 
Da vez primeira em que me assassinaram Perdi um jeito de sorrir que eu tinha... Depois, de cada vez que me mataram Foram levando qualquer coisa minha... E hoje, dos meus cadáveres, eu sou O mais desnudo, o que não tem mais nada... Arde um toco de vela, amarelada... Como o único bem que me ficou! Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada! Ah! Desta mão, avaramente adunca, Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada! Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai! Que a luz, trêmula e triste como um ai, A luz do morto não se apaga nunca! Mario Quintana
Conversa fiada Mário Quintana Eu gosto de fazer poemas de um único verso. Até mesmo de uma única palavra Como quando escrevo o teu nome no meio da página E fico pensando mais ou menos em ti Porque penso, também, em tantas coisas... em ninhos. Não sei por que vazios em meio de uma estrada Deserta... Penso em súbitos cometas anunciadores de um Mundo Novo E - imagina! – Penso em meus primeiros exercícios de álgebra, Eu que tanto, tanto os odiava... Eu que naquele tempo vivia dopando-me em cores, flores, amores, Nos olhos-flores das menininhas - isso mesmo! O mundo Era um livro de figuras Oh! os meus paladinos, as minhas princesas prisioneiras em suas altas torres, Os meus dragões Horrendos Mas tão coloridos... E - já então - o trovoar dos versos de Camões: "Que o menor mal de todos seja a morte!" Ah, prometo àqueles meus professores desiludidos que na próxima vida eu vou ser um grande matemático Porque a matemática é o único pensamento sem dor... Prometo, prometo, sim... Estou m...
De Gramática e de Linguagem Mário Quintana E havia uma gramática que dizia assim: "Substantivo (concreto) é tudo quanto indica Pessoa, animal, ou cousa: João, sabiá, caneta." Eu gosto é das cousas. As cousas, sim! As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se em excesso. As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém. Uma pedra. Um armário. Um ovo. (Ovo, nem sempre, Ovo pode estar choco: é inquietante...) As cousas vivem metidas com as suas cousas. E não exigem nada. Apenas que não as tirem do lugar onde estão. E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta. Para quê? não importa: João vem! E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão, Amigo ou adverso...João só será definitivo Quando esticar a canela. Morre, João... Mas o bom mesmo, são os adjetivos, Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto. Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso. Sonoro. Lento. Eu sonho Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos Como decerto é...
Bola de cristal Mario Quintana A praça, o coreto, o quiosque, as primeiras leituras, os primeiros versos e aquelas paixões sem fim... Todo um mundo submerso, com suas vozes, seus passos, seus silêncios - ai que saudade de mim! Deixo-te, pobre menino, aí sozinho... Que bom que nunca me viste como te estou vendo agora - e é melhor que seja assim... Deixo-te com os teus sonhos de outrora, os teus livros queridos e aquelas paixões sem fim! e a praça...o coreto...o quiosque onde compravas revistas... Sonha, menino triste... Sonha... - só o teu sonho é que existe.
Bilhete com endereço Mário Quintana Mas onde já se ouviu falar num amor á distância, Num tele-amor ?! Num amor de longe… Eu sonho é um amor pertinho Um amor juntinho... E, depois, Esse calor humano é uma coisa Que todos - até os executivos - têm. É algo que acaba se perdendo no ar, No vento No frio que agora faz… Escuta! O que eu quero, O que eu amo, O que eu desejo em ti É teu calor animal!…
Um poema? Mário Quintana No mundo não há nada mais triste do que uma boneca morta... Talvez porque sua mãezinha tenha morrido de parto! Ou encontrar um vestido de noiva numa casa de penhores ou começar cheio de rimas quando se escreve em prosa Ou não encontrar rimas quando se escreve em versos (Também, quem me mandou escrever clássico?!) Bendita seja a Isadora Duncan que inventou o verso livre da dança! Só não sei, Mesmo, o que eu queria dizer com tudo isso...
Indivisíveis Mário Quintana O meu primeiro amor e eu sentávamos numa pedra Que havia num terreno baldio entre as nossas casas. Falávamos de coisas bobas, Isto é, que a gente achava bobas Como qualquer troca de confidências entre crianças de cinco anos. Crianças... Parecia que entre um e outro nem havia ainda separação de sexos A não ser o azul imenso dos olhos dela, Olhos que eu não encontrava em ninguém mais, Nem no cachorro e no gato da casa, Que tinham apenas a mesma fidelidade sem compromisso E a mesma animal - ou celestial - inocência, Porque o azul dos olhos dela tornava mais azul o céu: Não, não importava as coisas bobas que diséssemos. Éramos um desejo de estar perto, tão perto Que não havia ali apenas duas encantadas criaturas Mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra, Enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se, não sabia Que eles levariam procurando uma coisa assim por toda a sua vida...
Bola de cristal Mário Quintana A praça, o coreto, o quiosque, as primeiras leituras, os primeiros versos e aquelas paixões sem fim... Todo um mundo submerso, com suas vozes, seus passos, seus silêncios - ai que saudade de mim! Deixo-te, pobre menino, aí sozinho... Que bom que nunca me viste como te estou vendo agora - e é melhor que seja assim... Deixo-te com os teus sonhos de outrora, os teus livros queridos e aquelas paixões sem fim! e a praça...o coreto...o quiosque onde compravas revistas... Sonha, menino triste... Sonha... - só o teu sonho é que existe.
O amor eterno Mário Quintana Dante se enganou: Paolo e Francesca Continuariam bem juntinhos no Inferno, com pecado e tudo Juntinhos e felizes! Mas quem sabe se não seria este mesmo o castigo divino? Um amor que jamais pudesse terminar...
Seiscentos e sessenta e seis Mário Quintana A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são 6 horas: há tempo... Quando se vê, já é 6ª feira... Quando se vê, passaram 60 anos... Agora, é tarde demais para ser reprovado... E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. seguia sempre, sempre em frente... E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
De gramática e de linguagem Mário Quintana E havia uma gramática que dizia assim: "Substantivo (concreto) é tudo quanto indica Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta". Eu gosto das cousas. As cousas sim !... As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se em excesso. As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém. Uma pedra. Um armário. Um ovo, nem sempre, Ovo pode estar choco: é inquietante...) As cousas vivem metidas com as suas cousas. E não exigem nada. Apenas que não as tirem do lugar onde estão. E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta. Para quê? Não importa: João vem! E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão, Amigo ou adverso...João só será definitivo Quando esticar a canela. Morre, João... Mas o bom mesmo, são os adjetivos, Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto. Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. luminoso. Sonoro. Lento. Eu sonho Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos Como decerto é a lin...
Do amoroso esquecimento Mário Quintana Eu agora - que desfecho! Já nem penso mais em ti... Mas será que nunca deixo De lembrar que te esqueci?
Canção do amor imprevisto Mário Quintana Eu sou um homem fechado. O mundo me tornou egoísta e mau. E minha poesia é um vicio triste, Desesperado e solitário Que eu faço tudo por abafar. Mas tu apareceste com tua boca fresca de madrugada, Com teu passo leve, Com esses teus cabelos... E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender nada, numa alegria atônita... A súbita alegria de um espantalho inútil Aonde viessem pousar os passarinhos!
O milagre Mario Quintana . Dias maravilhosos em que os jornais vêm cheios de poesia? e do lábio do amigo brotam palavras de eterno encanto? Dias mágicos? em que os burgueses espiam, através das vidraças dos escritórios, a graça gratuita das nuvens?
Mário Quintana, sempre. E viva a linda da Marcela e seus livros fantásticos! Poeminha sentimental Mário Quintana O meu amor, o meu amor, Maria É como um fio telegráfico da estrada Aonde vêm pousar as andorinhas... De vez em quando chega uma E canta (Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!) Canta e vai-se embora Outra, nem isso, Mal chega, vai-se embora. A última que passou Limitou-se a fazer cocô No meu pobre fio de vida! No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo: As andorinhas é que mudam.
Canção da garoa Mário Quintana Em cima do telhado Pirulin lulin lulin, Um anjo, todo molhado, Soluça no seu flautim. O relógio vai bater: As molas rangem sem fim. O retrato na parede Fica olhando para mim. E chove sem saber porquê E tudo foi sempre assim! Parece que vou sofrer: Pirulin lulin lulin...
A verdadeira arte de viajar Mário Quintana A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa, Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo. Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali... Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!
Às vezes a gente pensa que está dizendo bobagens e está fazendo poesia. . === . Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer. . Mário Quintana.