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Mostrando postagens de março, 2009
L. F. Veríssimo. Eu amo.
Despedida Augusto Frederico Schimidt Os que seguem os trens onde viajam moças muito doentes com os olhos chorando Os que se lembram da terra perdida, acordados pelos apitos dos navios Os que encontram a infância distante numa criança que brinca Estes entenderão o desespero da minha despedida. Porque este amor que vai viajar para a última estação da memória Foi a infância distante, foi a pátria perdida, e a moça que não volta.
A Carol postou no blog dela e eu reposto aqui. Porque é lindo e porque ela e o blog são ótimos. O apanhador de desperdícios Manoel de Barros Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas. Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Soneto Ana Cristina Cesar Pergunto aqui se sou louca Quem quer saberá dizer Pergunto mais, se sou sã E ainda mais, se sou eu Que uso o viés pra amar E finjo fingir que finjo Adorar o fingimento Fingindo que sou fingida Pergunto aqui meus senhores quem é a loura donzela que se chama Ana Cristina E que se diz ser alguém É um fenômeno mor Ou é um lapso sutil?
Poemas da amiga Mário de Andrade VII Gosto de estar a teu lado, Sem brilho. Tua presença é uma carne de peixe, De resistência mansa e de um branco Ecoando azuis profundos. Eu tenho liberdade em ti. Anoiteço feito um bairro, Sem brilho algum. Estamos no interior duma asa Que fechou.
A Mari postou no blog dela e eu vou postar aqui também. Primeiro pra dizer que a Mari é o máximo. Segundo, porque eu também amo esse do Neruda. Pablo Neruda XX Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Escrever, por exemplo: «A noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros lá ao longe.» O vento da noite gira no céu e canta. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Eu amei-a, e por vezes ela também me amou. Em noites como esta tive-a eu nos meus braços. Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito. Ela amou-me, por vezes eu também a amava. Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi já. Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela. E o verso cai na alma como no pasto o orvalho. Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la. A noite está estrelada e ela não está comigo. Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. A minha alma não se contenta com havê-la perdido Como para che
Brisa Manuel Bandeira Vamos viver no Nordeste, Anarina. Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha. Deixarás aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante. Aqui faz muito calor. No Nordeste faz calor também. Mas lá tem brisa: Vamos viver de brisa, Anarina.
Manoel de Barros. Era um caranguejo muito se achante. Ele se achava idôneo para flor. Passava por nossa casa Sem nem olhar de lado. Parece que estava montado num coche de princesa. Ia bem devagar Conforme o protocolo A fim de receber aplausos. Muito achante demais. Nem parou para comer goiaba. (Acho que quem anda de coche não come goiaba.) Ia como se fosse tomar posse de deputado. Mas o coche quebrou E o caranguejo voltou a ser idôneo para mangue.
Quer pouco Ricardo Reis Quer pouco, terás tudo. Quer nada: serás livre. O mesmo amor que tenham Por nós, quer-nos, oprime-nos.
Impaciência Guimarães Rosa (duas variações sobre o mesmo tema) I Eu queria dormir longamente... (um sono só...) Para esperar assim o divino momento que eu pressinto, em que hás de ser minha... Mas... e se essa hora não devesse chegar nunca?... Se o tempo, como as outras cousas todas, te separa de mim?!... Então... ah! então eu gostaria que o meu sono, friíssimo e sem sonhos (um sono só...) não tivesse mais fim... II Se eu pudesse correr pelo tempo afora, vertiginosamente, futuro adiante, saltando tantas horas tediosas, vazias de ti, e voar assim até o momento de todos os momentos, em que hás de ser minha!... Mas... e se esse minuto faltar nas areias de todas as ampulhetas?... E se tudo fosse inútil: a máquina de Wells, as botas de sete léguas do Gigante?!... Então... ah!, então eu gostaria de desviver para trás, dia por dia, para parar só naquele instante, e nele ficar, eternamente, prisioneiro... (Tu sabes, aquele instante em que sorrias e me fizeste chorar...)
Longe demais de tudo Guto Goffi, por Barão Vermelho. Solidão amiga do peito Me dê tudo que eu tenha por direito Me diga, me ensina Ao dormir não sinto medo Há um sol, existe vida Me trate com jeito Eu tenho saída Eu quero calor e o mundo é frio Minha vaidade não enxerga o paraíso Eu preciso de alguém pra fugir, sem avisar ninguém Não vou olhar pra trás A saudade está morta E já não me importa Está longe demais Longe demais de tudo Eu estou longe demais Longe demais de tudo Eu estou longe demais Tão perto de mim Tão longe de tudo.
Acho que amigo funciona assim: a vida vai te deixando cada vez menos, dos quais você gosta cada vez mais. E aí você sente que você tem mais amigos do que nunca.
Desilusão Menotti del Picchia E que é amar? A estranha dor de estilhaçar a alma em carinho... É colher ao acaso alguma flor para despetalá-la no caminho. E que resta depois de tantos ais? A saudade? Talvez...Ó alma enganada, de ti e da flor não resta quase nada: um punhado de pétalas na estrada, um perfume nos dedos... - Nada mais.
Estava no paraíso, mas já voltei. (no Caribe: Los Roques, Venezuela. Fotos lindas do Fer ).