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Mostrando postagens com o rótulo Ana Cristina César
Encontro de assombrar na Catedral   Frente a frente, derramando enfim todas as palavras , dizemos, com os olhos, do silêncio que não é mudez. E não toma medo desta alta compadecida passional, desta crueldade intensa que te toma as mãos. Ana Cristina Cesar
Tenho vergonha de estender o braço para chamar o táxi tenho medo que ele me veja tenho medo que ele me veja e ainda assim não pare. Ana Cristina César
Nada disfarça o apuro do amor Ana Cristina Cesar Um carro em ré. Memória de água em movimento. Beijo. Gosto particular da tua boca. Último trem subindo ao céu. Aguço o ouvido. Os aparelhos que só fazem som ocupam o lugar clandestino da felicidade. Preciso me atar ao velame com as próprias mãos. Sirgar. Daqui ao fundo do horto florestal ouço coisas que nunca ouvi, pássaros que gemem.
Aventura na casa atarracada Ana Cristina Cesar Movido contraditoriamente por desejo e ironia não disse mas soltou, numa noite fria, aparentemente desalmado; - Te pego lá na esquina, na palpitação da jugular, com soro de verdade e meia, bem na veia, e cimento armado para o primeiro a andar. Ao que ela teria contestado, não, desconversado, na beira do andaime ainda a descoberto: - Eu também, preciso de alguém que só me ame. Pura preguiça, não se movia nem um passo. Bem se sabe que ali ela não presta. E ficaram assim, por mais de hora, a tomar chá, quase na borda, olhos nos olhos, e quase testa a testa.
O homem público no. 1 (Antologia) Ana Cristina Cesar Tarde aprendi bom mesmo é dar a alma como lavada. Não há razão para conservar este fiapo de noite velha. Que significa isso? Há uma fita que vai sendo cortada deixando uma sombra no papel. Discursos detonam. Não sou eu que estou ali de roupa escura sorrindo ou fingindo ouvir. No entanto também escrevi coisas assim, para pessoas que nem sei mais quem são, de uma doçura venenosa de tão funda.
Fagulha Ana Cristina Cesar Abri curiosa o céu. Assim, afastando de leve as cortinas. Eu queria entrar, coração ante coração, inteiriça ou pelo menos mover-me um pouco, com aquela parcimônia que caracterizava as agitações me chamando Eu queria até mesmo saber ver, e num movimento redondo como as ondas que me circundavam, invisíveis, abraçar com as retinas cada pedacinho de matéria viva. Eu queria (só) perceber o invislumbrável no levíssimo que sobrevoava. Eu queria apanhar uma braçada do infinito em luz que a mim se misturava. Eu queria captar o impercebido nos momentos mínimos do espaço nu e cheio Eu queria ao menos manter descerradas as cortinas na impossibilidade de tangê-las Eu não sabia que virar pelo avesso era uma experiência mortal.
Ana Cristina Cesar A ponto de  partir, já sei  que nossos olhos  sorriam para sempre  na distância.  Parece pouco?  Chão de sal grosso, e ouro que se racha.  A ponto de partir, já sei que nossos olhos sorriem na distância.  Lentes escuríssimas sob os pilotis. 
Ana Cristina Cesar Tenho uma folha branca           e limpa à minha espera: mudo convite tenho uma cama branca           e limpa à minha espera: mudo convite tenho uma vida branca           e limpa à minha espera: 
Fisionomia Ana Cristina Cesar Não é mentira é outra a dor que dói em mim é um projeto de passeio em círculo um malogro do objeto em foco a intensidade de luz de tarde no jardim é outra outra a dor que dói.
Soneto Ana Cristina Cesar Pergunto aqui se sou louca Quem quer saberá dizer Pergunto mais, se sou sã E ainda mais, se sou eu Que uso o viés pra amar E finjo fingir que finjo Adorar o fingimento Fingindo que sou fingida Pergunto aqui meus senhores quem é a loura donzela que se chama Ana Cristina E que se diz ser alguém É um fenômeno mor Ou é um lapso sutil?
Atrás dos olhos das meninas sérias Ana Cristina Cesar Mas poderei dizer-vos que elas ousam? Ou vão, por injunções muito mais sérias, lustrar pecados que jamais repousam?
Mocidade independente Ana Cristina Cesar Pela primeira vez infringi a regra de ouro e voei pra cima sem medir mais as conseqüências. Por que recusamos ser proféticas? E que dialeto é esse para a pequena audiência de serão? Voei pra cima: é agora, coração, no carro em fogo pelos ares, sem uma graça atravessando o Estado de São Paulo, de madrugada, por você, e furiosa: é agora, nesta contramão.
Ana Cristina Cesar A ponto de partir, já sei que nossos olhos sorriam para sempre na distância. Parece pouco? Chão de sal grosso, e ouro que se racha. A ponto de partir, já sei que nossos olhos sorriem na distância. Lentes escuríssimas sob os pilotis.
Quando chegar Ana Cristina César Quando morrer Anjos meus, Fazei-me desaparecer, sumir, evaporar Desta terra louca. Permiti que eu seja mais um desaparecido Da lista de mortos de algum campo de batalha Para que eu não fique exposto Em algum necrotério branco Para que não jaza num caixão frio Coberto de flores mortas Para que eu não sinta mais os afagos Desta gente tão longe Para que não ouça nenhum reboando eternos Os ecos dos teus soluços O lixo desta memória Para que apaguem-se bruscos As marcas do meu sofrer Para que a morte só seja Um descanso calmo e doce Um calmo e doce descanso.
Marfim Ana C. César A moça desceu os degraus com o robe monogramado no peito: L.M. sobre o coração. Vamos iniciar outra Correspondência, ela propõe. Você já amou alguém verdadeiramente? Os limites do romance realista. Os caminhos do desconhecer. A imitação da rosa. As aparências desenganam. Estou desenganada. Não reconheço você, que é tão quieta, nessa história. Liga amanhã outra vez sem falta. Não posso interromper o trabalho agora. Gente falando por todos os lados. Palavra que não mexe mais no barril de pólvora plantado sobre a torre de marfim.
Não sei se já postei aqui, mas valeria postar mil vezes. Sou completamente apaixonada por ele. Ana Cristina César Acreditei que se amasse de novo esqueceria outros pelo menos três ou quatro rostos que amei Num delírio de arquivística organizei a memória em alfabetos como quem conta carneiros e amansa no entanto flanco aberto não esqueço e amo em ti os outros rostos
Ana Cristina Cesar Pergunto aqui se sou louca Quem quer saberá dizer Pergunto mais, se sou sã E ainda mais, se sou eu Que uso o viés pra amar E finjo fingir que finjo Adorar o fingimento Fingindo que sou fingida Pergunto aqui meus senhores quem é a loura donzela que se chama Ana Cristina E que se diz ser alguém É um fenômeno mor
Lá fora Ana C. Cesar há um amor que entra de férias. Há um embaçamento de minhas agulhas nítidas diante dessa boca bisca de mulher. Há um placar visível em altas horas, pela persiana deste hotel, fatal, que diz: fiado, só depois de amanhã e olhe lá onde a minha lâmina cortante, sofrendo de súbita cegueira noturna, pendura a conta e não corta mais, suspendendo seu pêndulo de Nietzsche ou Poe por um nada que pisca e tira folga e sai afiado para a rua como um ato falho deixando as chaves soltas em cima do balcão.
Acreditei que se amasse de novo esqueceria outros pelo menos três ou quatro rostos que amei Num delírio de arquivística organizei a memória em alfabetos como quem conta carneiros e amansa no entanto flanco aberto não esqueço e amo em ti os outros rostos Ana C. César
olho muito tempo o corpo de um poema até perder de vista o que não seja corpo e sentir separado dentre os dentes um filete de sangue nas gengivas. Ana Cristina Cesar