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Mostrando postagens de setembro, 2009
2009 não acabou, mas já foi eleito o meu ano de fazer uma faxina na vida. Tirar o excesso e só deixar o que importa - na verdade, aprender que nem tudo importa. E ficar mais leve, bem mais leve. Felicidade é mais pro "menos" do que pro "mais". Que coisa.
De lá . Eu disse que você ia embora só para voltar de novo. Eu disse que um dia íamos conversar sobre como as mulheres são problemáticas e discutir porque acho as morenas mais interessantes que a loiras. E você não. E sem ciúmes, sem pontadinha no peito nem nada. Eu disse tanta coisa melhor do que "suma" ou "você é estúpida". Eu disse que sentia falta de voltar do sítio depois de um dia de sol, ouvindo Maria Rita. E, olha, você também. Eu disse que sentia falta de passear com nossos cachorros e você sentiu mais falta do meu cachorro do que de mim. Eu disse que peguei no telefone diversas vezes esses anos todos para te ligar e você falou o mesmo. Eu disse que você é sagrada para mim como poucas coisas o são. Eu disse que aprendi a viver sem você por pura obrigação mas não por escolha. Eu disse tanta mentira também. E eu disse coisas que hoje são verdade.
Como fazer a fila andar sem brigar? Nina Lemos (02 Neurônio) OK. Deu tudo errado. Não rolou. Por um tempo foi bom. Mas ACABOU. Normalmente, nesses casos, o jeito é brigar com a pessoa. Se convencer de que ele era um idiota completo. Mais fácil ainda se o indivíduo for um canalha. Aí é só falar uns absurdos para ele no telefone. Mandar tomar no cu. É feio. Mas costuma funcionar. Você esquece que aquela pessoa existe rapidinho. Claro, você chora algumas noites e fica se achando louca por ter dado um barraco telefônico. Mas funciona. E, vamos ser sinceros, tem vezes na vida em que só precisa FUNCIONAR. A fila tem que andar, porque aquilo deu errado, estava te fazendo mal. E, como diz uma linda canção do Jimmy Joe: “Quando eu penso em nós, eu me sinto muito mal, mas é bem melhor assim, sem você eu sei”. Sim, você SABE. Está cansada de saber. É melhor sem ele. E pronto. Agora, se o cara for uma pessoa legal (e isso acontece o tempo todo), o que fazer? Como se livrar do de uma melancolia qu
(...) Pras pessoas de alma bem pequena, remoendo pequenos problemas Querendo sempre aquilo que não têm Pra quem vê a luz mas não ilumina suas mini-certezas Vive contando dinheiro e não muda quando é lua cheia Pra quem não sabe amar, fica esperando alguém que caiba no seu sonho Como varizes que vão aumentando, como insetos em volta da lâmpada Vamos pedir piedade, Senhor, piedade pra essa gente careta e covarde Vamos pedir piedade, Senhor, piedade, lhes dê grandeza e um pouco de coragem (...) Cazuza, "Blues da Piedade".
Abstração e amor Murilo Mendes Aproxima-te de mim, dá-me as mãos delicadas E descansa a cabeça em meu ombro. É melhor que não desnastres os cabelos, Os louros, finos e obedientes cabelos - Essa parte dignificada do teu corpo, A que melhor resistirá à morte. Hesito entre o lado diurno e noturno do teu ser. Aos olhos do homem tu és apenas decorativa, Mas eu pressinto claramente em ti A que tem o pudor da sua profundidade, A que espera a anunciação dum forte drama Que dividirá a vida como espada de dois gumes. Talvez seja mais belo e favorável à poesia Que nunca te manifestes totalmente a mim E que continuemos a nos ver na obscuridade Para que eu, guardando a eterna nostalgia de ti, Jamais possa me sentir saciado. Todos são fascinados pela tua vida visível, Pela tua aparente suavidade. Todos são fascinados pelo teu nome: E ninguém conhece teu verdadeiro nome. Há entre mim e ti zonas de sombra Contornadas por anjos divinatórios. Há entre mim e ti o mínimo necessário Para assegurar tua invi
Conversa fiada Mário Quintana Eu gosto de fazer poemas de um único verso. Até mesmo de uma única palavra Como quando escrevo o teu nome no meio da página E fico pensando mais ou menos em ti Porque penso, também, em tantas coisas... em ninhos. Não sei por que vazios em meio de uma estrada Deserta... Penso em súbitos cometas anunciadores de um Mundo Novo E - imagina! – Penso em meus primeiros exercícios de álgebra, Eu que tanto, tanto os odiava... Eu que naquele tempo vivia dopando-me em cores, flores, amores, Nos olhos-flores das menininhas - isso mesmo! O mundo Era um livro de figuras Oh! os meus paladinos, as minhas princesas prisioneiras em suas altas torres, Os meus dragões Horrendos Mas tão coloridos... E - já então - o trovoar dos versos de Camões: "Que o menor mal de todos seja a morte!" Ah, prometo àqueles meus professores desiludidos que na próxima vida eu vou ser um grande matemático Porque a matemática é o único pensamento sem dor... Prometo, prometo, sim... Estou m
O que passou, passou? Paulo Leminski Antigamente, se morria. 1907, digamos, aquilo sim é que era morrer. Morria gente todo dia, e morria com muito prazer, já que todo mundo sabia que o Juízo, afinal, viria e todo o mundo ia renascer. Morria-se praticamente de tudo. De doença, de parto, de tosse. E ainda se morria de amor, como se amar morte fosse. Pra morrer, bastava um susto, um lenço no vento, um suspiro e pronto, lá se ia nosso defunto para a terra dos pés juntos. Dia de anos, casamento, batizado, morrer era um tipo de festa, uma das coisas da vida, como ser ou não ser convidado. O escândalo era de praxe. Mas os danos eram pequenos. Descansou. Partiu. Deus o tenha. Sempre alguém tinha uma frase que deixava aquilo mais ou menos. Tinha coisas que matavam na certa. Pepino com leite, vento encanado, praga de velha e amor mal curado. Tinha coisas que têm que morrer, tinha coisas que têm que matar. A honra, a terra e o san
Alberto Caeiro Quando tornar a vir a Primavera Talvez já não me encontre no mundo. Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente Para poder supor que ela choraria, Vendo que perdera o seu único amigo. Mas a Primavera nem sequer é uma cousa: É uma maneira de dizer. Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes. Há novas flores, novas folhas verdes. Há outros dias suaves. Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.
Secretário dos Amantes Olavo Bilac I Acabei de jantar um excelente jantar 116 francos Quarto 120 francos com água encanada Chauffage central Vês que estou bem de finanças Beijos e coisas de amor II Bestão querido Estou sofrendo Sabia que ia sofrer Que tristeza este apartamento de hotel III Granada é triste sem ti Apesar do sol de ouro E das rosas vermelhas IV Mi pensamiento hacia Medina del Campo Ahora Sevilla envuelta en oro pulverizado Como una dádiva s mis ojos enamorados Sin embargo que tarde la mia V Que alegria teu rádio Fiquei tão contente que fui à missa Na igreja toda a gente me olhava Ando desperdiçando beleza Longe de ti VI Que distância! Não choro porque meus olhos ficam feios.
Seis ou treze coisas que eu aprendi sozinho Manoel de Barros Com cem anos de escória uma lata aprende a rezar. Com cem anos de escombros um sapo vira árvore e cresce por cima das pedras até dar leite. Insetos levam mais de cem anos para uma folha sê-los. Uma pedra de arroio leva mais de cem anos para ter murmúrios. Em seixal de cor seca estrelas pousam despidas. Mariposas que pousam em osso de porco preferem melhor as cores tortas. Com menos de três meses mosquitos completam a sua eternidade. Um ente enfermo de árvore, com menos de cem anos, perde o contorno das folhas. Aranha com olho de estame no lodo se despedra. Quando chove nos braços da formiga o horizonte diminui. Os cardos que vivem nos pedrouços têm a mesma sintaxe que os escorpiões de areia. A jia, quando chove, tinge de azul o seu coaxo. Lagartos empernam as pedras de preferência no inverno. O vôo do jaburu é mais encorpado do que o vôo das horas. Besouro só entra em amavios se encontra a fêmea dele vagando por escórias... A
Canção do suicida Manuel Bandeira Não me matarei, meus amigos. Não o farei, possivelmente. Mas que tenho vontade, tenho. Tenho, e, muito curiosamente, Com um tiro. Um tiro no ouvido, Vingança contra a condição Humana, ai de nós! sobre-humana De ser dotado de razão.
A primeira namorada Vinícius de Moraes Tu me beijaste, Coisa Triste, Justo, durante a elevação Depois, impávida, partiste A receber a comunhão. Tinhas apenas seis ou sete E isso ou pouco mais eu tinha E tinha mais: tinha topete! - Por que partiste, Coisa Minha? Foi numa missa da matriz De Botafogo. Eu disse: Cruz! Como é que ela vai agora Comer o corpo de Jesus..." Mas tu fizeste, Coisa Linda Sem a menor hipocrisia É que eu nem suspeitava ainda Da tua santropofagia... Porque nas classes do colégio Onde a meu lado te sentavas Tornou-se diário o sacrilégio Durante as preces: me buscavas. E o olhar cândido na mestra Que iniciava a aula depois Acompanhavas a palestra Cuidando apenas de nós dois. Mais tarde a gente revesava E eu procurava tua calcinha E longamente acariciava Tua coisinha, Coisa Minha, Nós ficávamos sérios, sérios A face rubra mas atenta - A vida tem tantos mistérios... Tem ou não tem, Coisa Sardenta? Depois casei, não com ela... Mas com meu segundo amor A mãe de Suzana
Tenho a impressão que a vida, as coisas foram me levando. Levando em frente, levando embora, levando aos trancos, de qualquer jeito. Caio Fernando Abreu.
Homem-tupperware Xico Sá Minha amiga M.Y. se especializou em pegar aquele tipo de homem noturno e boêmio que não economiza nos tragos e, invariavelmente, retorna para o rancho sem condições técnicas para a conjunção carnal ou qualquer abofelamento que possa se chamar de sexo. São os melhores, ela prega: a excelência, o suprassumo, o filé em matéria de abate e diversão em tempos modernos. A este ser avulso, clandestino e simpático, que à noite ronda a cidade, batizamos de homem-tupperware. A desalmada M.Y., típica predadora do ciclo do macho perdido, nos explica a terminologia adotada no folclore baladeiro: trata-se do sujeito que a gente guarda no final da noite para comer na manhã seguinte. O homem-tupperware, ela diz, com toda a sinceridade desse mundo, é o novissimo Casanova, um monstro na cama, um demônio, desde que seja respeitado no seu intocável estado de porre. Ele desperta com a fúria dos grandes e imbatíveis amantes, relata a moça, ainda com os lábios febris a derreter o glos
Mas viveremos Carlos Drummond de Andrade Já não há mãos dadas no mundo. Elas agora viajarão sozinhas. Sem o fogo dos velhos contatos, que ardia por dentro e dava coragem. Desfeito o abraço que me permitia, homem da roça, percorrer a estepe, sentir o negro, dormir a teu lado, irmão chinês, mexicano ou báltico. Já não olharei sobre o oceano para decifrar no céu noturno uma estrela vermelha, pura e trágica, e seus raios de glória e de esperança. Já não distinguirei na voz do vento (Trabalhadores, uni-vos...) a mensagem que ensinava a esperar, a combater, a calar, desprezar e ter amor. Há mais de vinte anos caminhávamos sem nos vermos, de longe, disfarçados mas a um grito, no escuro, respondia outro grito, outro homem, outra certeza. Muitas vezes julgamos ver a aurora e sua rosa de fogo à nossa frente. Era apenas, na noite, uma fogueira. Voltava a noite, mais noite, mais completa. E que dificuldade de falar! Nem palavras nem códigos: apenas montanhas e montanhas e montanhas, oceanos e ocea
Poema dos olhos da amada Vinícius de Moraes Ó minha amada Que olhos os teus São cais noturnos Cheios de adeus São docas mansas Trilhando luzes Que brilham longe Longe dos breus... Ó minha amada Que olhos os teus Quanto mistério Nos olhos teus Quantos saveiros Quantos navios Quantos naufrágios Nos olhos teus... Ó minha amada Que olhos os teus Se Deus houvera Fizera-os Deus Pois não os fizera Quem não soubera Que há muitas era Nos olhos teus. Ah, minha amada De olhos ateus Cria a esperança Nos olhos meus De verem um dia O olhar mendigo Da poesia Nos olhos teus
De Gramática e de Linguagem Mário Quintana E havia uma gramática que dizia assim: "Substantivo (concreto) é tudo quanto indica Pessoa, animal, ou cousa: João, sabiá, caneta." Eu gosto é das cousas. As cousas, sim! As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se em excesso. As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém. Uma pedra. Um armário. Um ovo. (Ovo, nem sempre, Ovo pode estar choco: é inquietante...) As cousas vivem metidas com as suas cousas. E não exigem nada. Apenas que não as tirem do lugar onde estão. E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta. Para quê? não importa: João vem! E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão, Amigo ou adverso...João só será definitivo Quando esticar a canela. Morre, João... Mas o bom mesmo, são os adjetivos, Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto. Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso. Sonoro. Lento. Eu sonho Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos Como decerto é
Não me peçam razões, que não as tenho, Ou darei quantas queiram: bem sabemos Que razões são palavras, todas nascem Da mansa hipocrisia que aprendemos. Nâo me peçam razões por que se entenda A força da maré que me enche o peito, Este estar mal no mundo e nesta lei; Não fiz a lei e o mundo não aceito. Não me peçam razões, ou que as desculpe, Deste modo de amar e destruir; Quando a noite é de mais é que amanhece A cor de primavera que há-de vir. José Saramago
Há doenças piores que as doenças, Há dores que não doem, nem na alma Mas que são dolorosas mais que as outras. Há angústias sonhadas mais reais Que as que a vida nos traz, há sensações Sentidas só com imaginá-las Que são mais nossas do que a própria vida. Há tanta coisa que, sem existir, Existe, existe demoradamente, E demoradamente é nossa e nós... Por sobre o verde turvo do amplo rio Os circunflexos brancos das gaivotas... Por sobre a alma o adejar inútil Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo. Dá-me mais vinho, porque a vida é nada. Fernando Pessoa
Maria Machado de Assis Maria, há no seu gesto airoso e nobre, Nos olhos meigos e no andar tão brando, Um não sei quê suave que descobre, Que lembra um grande pássaro marchando. Quero, às vezes, pedir-lhe que desdobre As asas, mas não peço, reparando Que, desdobradas, podem ir voando Levá-la ao teto azul que a terra cobre. E penso então, e digo então comigo: "Ao céu que vê passar todas as gentes Bastem outros primores de valia. Pássaro ou moça, fique o olhar amigo, O nobre gesto e as graças excelentes Da nossa cara e lépida Maria.
Lá estou, sentado no meio do largo, com um livro na mão, a ver quem passa. Fizeram-me um pouco maior que o tamanho natural, suponho que para que se me veja melhor. Não sei quantos anos irei estar ali. Sempre havia dito que o destino das estátuas é acabar por serem retiradas, mas, neste caso, quero imaginar que me deixarão em paz, alguém que em paz duplamente regressou à sua terra, como pessoa que é e, a partir de agora, como bronze que passou também a ser. Ainda que a minha imaginação algumas vezes me tenha feito cair nos delírios mais absurdos, nunca se atreveu a admitir que um dia me levantariam uma estátua na terra onde nasci. Que fiz eu para que isso sucedesse? Escrevi uns quantos livros, levei comigo, por todo o mundo, o nome de Azinhaga e, sobretudo, nunca esqueci os que me geraram e educaram: meus avós e meus pais. Deles falei em Estocolmo perante uma assistência ilustrada e fui compreendido. O que vemos de uma árvore é apenas uma parte, importante, sem dúvida, mas que nada seri
Erasmo Carlos é um clássico. A música, dele e do Roberto, é demais. E Fernanda Takai é linda, meiga, talentosa, autêntica, cheia de estilo sem ser performática e passou a vida quase toda em BH. Não tem como não me encantar. Do fundo do meu coração Roberto Carlos/Erasmo Carlos Eu, cada vez que vi você chegar, me fazer sorrir e me deixar, decidido eu disse "nunca mais". Mas novamente estúpido provei desse doce amargo quando eu sei cada volta sua o que me faz. Vi todo o meu orgulho em sua mão, deslizar, se espatifar no chão, vi o meu amor tratado assim. Mas basta agora o que você me fez, acabe com essa droga de uma vez, não volte nunca mais pra mim. Eu, toda vez que vi você voltar, eu pensei que fosse pra ficar e mais uma vez falei que sim. Mas já depois de tanta solidão, do fundo do meu coração, não volte nunca mais pra mim. Se você me perguntar se ainda é seu todo o meu amor, eu sei que eu certamente vou dizer que sim. Mas já depois de tanta solidão, do fundo do meu coração, n
Eu amo a Tati Bernardi desde sempre. Mas neste texto ela fala de psicanálise lacaniana! Aí já é covardia... Sobre o que eu estou esperando Tati Bernardi Imagine um cookie de Diabo Verde. É horrível de mastigar, quase impossível de digerir, às vezes você vomita pra não morrer e o pacotinho com quatro custa uma fortuna. Isso se chama análise lacaniana. Numa reunião de psicanalistas, psicólogos e psiquiatras, fica fácil identificar cada um deles. Os psiquiatras dizem não beber mas, o tempo todo, pedem uma pequena dose de qualquer coisa antes de, com olhos dilatados demais para alguém que não quer parecer bobo, começarem algum discurso científico (e parecem sentir certa vergonha arrogante disfarçada de diploma de medicina), os psicólogos são ternos, encostam nas pessoas e se vestem mal (se forem cognitivos, são os que sorriem o tempo todo e sobram sozinhos na mesa), os psicanalistas freudianos prestam atenção a tudo com um misto de sarcasmo com tristeza mas sabem, no fundo de suas almas, q
Ouvindo no carro milhões de vezes, sem parar de cantar. Santa Chuva Marcelo Camelo Vai chover de novo, deu na tv que o povo já se cansou de tanto o céu desabar e pede a um santo daqui que reza a ajuda de Deus, mas nada pode fazer se a chuva quer é trazer você pra mim. Vem cá que tá me dando uma vontade de chorar, não faz assim, não vá pra lá, meu coração vai se entregar à tempestade. Quem é você pra me chamar aqui se nada aconteceu? Me diz, foi só amor ou medo de ficar sozinho outra vez? Cadê aquela outra mulher? Você me parecia tão bem... a chuva já passou por aqui, eu mesma que cuidei de secar. Quem foi que te ensinou a rezar? Que santo vai brigar por você? Que povo aprova o que você fez? Devolve aquela minha tv que eu vou de vez. Não há porque chorar por um amor que já morreu. Deixa pra lá, eu vou, adeus. Meu coração já se cansou de falsidade. (não consegui resistir a essa interpretação da Maria Rita, embora o vídeo seja só da segunda parte da música).
“A possibilidade de povoar o mundo com gente mais afetuosa e induzir pessoas a terem mais afeto não figura nos panoramas pintados pela utopia consumista. As utopias privatizadas dos caubóis e cowgirls da era consumista mostram, em vez disso, um ‘espaço livre’ (livre para mim, é claro) amplamente estendido, um tipo de espaço vazio do qual o consumidor líquido-moderno, inclinado a performances-solo, e apenas a elas, sempre precisa de mais e nunca tem o bastante. O espaço de que os consumidores líquido-modernos necessitam, e que são aconselhados de todos os lados a obter lutando e a defender com unhas e dentes, só pode ser conquistado se expulsando outros seres humanos – em particular os tipos de indivíduos que se preocupam e/ou podem precisar da preocupação dos outros”. Z. Bauman, "Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria", p. 68. Estudando para o doutorado. Vamos lá, coragem.
Exausto Adélia Prado Eu quero uma licença de dormir, perdão pra descansar horas a fio, sem ao menos sonhar a leve palha de um pequeno sonho. Quero o que antes da vida foi o profundo sono das espécies, a graça de um estado. Semente. Muito mais que raízes.
Bola de cristal Mario Quintana A praça, o coreto, o quiosque, as primeiras leituras, os primeiros versos e aquelas paixões sem fim... Todo um mundo submerso, com suas vozes, seus passos, seus silêncios - ai que saudade de mim! Deixo-te, pobre menino, aí sozinho... Que bom que nunca me viste como te estou vendo agora - e é melhor que seja assim... Deixo-te com os teus sonhos de outrora, os teus livros queridos e aquelas paixões sem fim! e a praça...o coreto...o quiosque onde compravas revistas... Sonha, menino triste... Sonha... - só o teu sonho é que existe.
Poema natural Adalgisa Nery Abro os olhos, não vi nada Fecho os olhos, já vi tudo. O meu mundo é muito grande E tudo que penso acontece. Aquela nuvem lá em cima? Eu estou lá, Ela sou eu. Ontem com aquele calor Eu subi, me condensei E, se o calor aumentar, choverá e cairei. Abro os olhos, vejo um mar. Fecho os olhos e já sei. Aquela alga boiando, à procura de uma pedra? Eu estou lá, Ela sou eu. Cansei do fundo do mar, subi, me desamparei. Quando a maré baixar, na areia secarei, Mais tarde em pó tomarei. Abro os olhos novamente E vejo a grande montanha, Fecho os olhos e comento: Aquela pedra dormindo, parada dentro do tempo, Recebendo sol e chuva, desmanchando-se ao vento? Eu estou lá, Ela sou eu.
Igual-Desigual Carlos Drummond de Andrade Eu desconfiava: todas as histórias em quadrinho são iguais. Todos os filmes norte-americanos são iguais. Todos os filmes de todos os países são iguais. Todos os best-sellers são iguais. Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais. Todos os partidos políticos são iguais. Todas as mulheres que andam na moda são iguais. Todas as experiências de sexo são iguais. Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais e todos, todos os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais. Todas as guerras do mundo são iguais. Todas as fomes são iguais. Todos os amores, iguais iguais iguais. Iguais todos os rompimentos. A morte é igualíssima. Todas as criações da natureza são iguais. Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais. Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa. Não é igual a nada. Todo ser humano é um estranho ímpar.
"Acho que preciso voltar a menstruar, deve ser isso. Ficar tomando essas pílulas de 8 dias te deixam menos mulher. Nem chorar quietinho eu consigo, imagina então mandar você ir tomar no cu. Pelo blog não vale. Merda". Essa é a Marina . Sabe tudo, a Marina.
"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo." em Lixo e Purpurina, de Caio Fernando Abreu ( daqui )
Ingênuo enleio Manuel Bandeira Ingênuo enleio de surpresa, Sutil afago em meus sentidos, Foi para mim tua beleza, A tua voz nos meus ouvidos. Ao pé de ti, do mal antigo Meu triste ser convalesceu. Então me fiz teu grande amigo, E teu afeto se me deu. Mas o teu corpo tinha a graça Das aves...Musical adejo... Vela no mar que freme e passa... E assim nasceu o meu desejo. Depois, momento por momento, Eu conheci teu coração. E se mudou meu sentimento Em doce e grave adoração.
No Twitter do Milen: RT @rubensvalente Na boca da madrugada todo mundo já quis ser um Belchior - abandonar o carro em Congonhas para tomar um vinho no Uruguai.
Up, da Pixar, em 3D. Uma das coisas mais legais que assisti nos últimos tempos. Destaque pros primeiros minutos do filme. Genial e lindo. Um dos trechos mais fofos.
Cão de guarda do sono da amada Xico Sá “Amar, além de muitas outras coisas, quer dizer deleitar-se na contemplação e na observação da pessoa amada”, sopra o velho escritor Alberto Moravia, sempre aqui na cabeceira. Uma das melhores coisas da vida é observar a pessoa amada que dorme,entregue, para além dos pesadelos diários. Como bem disse Antônio Maria, o grande cronista que aparece com ciúmes até da própria sombra no livro da Danuza , um homem e uma mulher jamais deveriam dormir ao mesmo tempo, embora invariavelmente juntos, para que não perdessem, um no outro, o primeiro carinho de que desperta. Experimente você também, sensível leitora, vê o seu homem quando dorme. Há uma beleza nessa vigília que os tempos corridos de hoje não percebem. Amar é... vê-lo(a) dormindo. Cada mexidinha, cada gesto. O que sonha nesse exato momento? Tomara que seja comigo, você pensa, pois o amor também é egoísmo. Gaste pelo menos meia hora por semana nesse privilegiado observatório. Psiuuuuu! Ela dorme. M
Tão sutilmente em tantos breves anos foram se trocando sobre os muros mais que desigualdades, semelhanças, que aos poucos dois são um, sem que no entanto deixem de ser plurais: talvez as asas de um só anjo, inseparáveis. Presenças, solidões que vão tecendo a vida, o filho que se faz, uma árvore plantada, o tempo gotejando do telhado. Beleza perseguida a cada hora, para que não baixe o pó de um cotidiano desencanto. Tão fielmente adaptam-se as almas destes corpos que uma em outra pode se trocar, sem que alguém de fora o percebesse nunca. Lya Luft
Porque pra ele a gente faz de tudo.
Indecisão amorosa Afonso Romano de Sant'Anna - Então me digo: "Não vou mais vê-la e no dia seguinte quero tê-la. Então me digo: - "É a última vez" e me resigno. Mas quando anoitece sou eu quem ligo. - "Começo a esquecê-la", me repito. E numa esquina invento vê-la. De novo afirmo: Melhor parar e aí começo a desesperar. O tempo todo a estou deixando e mais a deixo partido ao seu amor regresso e partindo vou ficando.
"A crise conjugal entre Elis e César Camargo Mariano (...) acabou dando o tom do momento mais emocionado do especial. Hoje considerada um marco na carreira da cantora gaúcha, a interpretação de Atrás da Porta , clássico de Chico Buarque e Francis Hime, pegou todos de surpresa - até a própria artista.(...) A canção, cuja letra fala de um doloroso rompimento, levou Elis às lágrimas" . (www.overmundo.com.br). Atrás da porta Chico Buarque e Francis Hime Quando olhaste bem nos olhos meus e o teu olhar era de adeus Juro que não acreditei, eu te estranhei, me debrucei sobre teu corpo e duvidei E me arrastei e te arranhei e me agarrei nos teus cabelos Nos teus pelos, teu pijama, nos teus pés ao pé da cama Sem carinho, sem coberta, no tapete atrás da porta reclamei baixinho. Dei pra maldizer o nosso lar, pra sujar teu nome, te humilhar E me vingar a qualquer preço, te adorando pelo avesso Pra mostrar que ainda sou tua, só pra provar que ainda sou tua...
Depois de tudo Cassiano Ricardo Mas tudo passou tão depressa Não consigo dormir agora. Nunca o silêncio gritou tanto Nas ruas da minha memória. Como agarrar líquido o tempo Que pelos vãos dos dedos flui? Meu coração é hoje um pássaro Pousado na árvore que eu fui.
O namorado e o tempo Murilo Mendes O namorado contempla O corpo da namorada. Vê o corpo como está, Não vê como o corpo foi Nem como o corpo será. Se aquele corpo amanhã Mudar de peso, de forma, Mudar de ritmo e de cor, O namorado, infeliz, Vai sofrer mesmo demais: Não calculou o futuro, A mulher quebrou o encanto, Ele só vê a mulher No momento em que a vê.
Do Lucas, novo leitor do blog, um presente. Rondó pra você Mário de Andrade De você, Rosa, eu não queria Receber somente esse abraço Tão devagar que você me dá, Nem gozar somente esse beijo Tão molhado que você me dá... Eu não queria só porque Por tudo quanto você me fala, Já reparei que no teu peito Soluça o coração bem feito De você Pois então eu imaginei Que junto com esse corpo magro, Moreninho que você me dá, Com a boniteza e faceirice A risada que você me dá E me enrabicham como o quê, Bem que eu podia possuir também O que mora atrás do seu rosto, Rosa, O pensamento, a alma, o desgosto, De você.
Vício dos últimos dias e das últimas noites. Brighter than sunshine Aqualung I never understood before, I never knew what love was for My heart was broke, my head was sore, what a feeling Tied up in ancient history, I didn't believe in destiny I look up, you're standing next to me, what a feeling What a feeling in my soul, love burns brighter than sunshine Let the rain fall, i don't care, I'm yours and suddenly you're mine, and it's brighter than sunshine I never saw it happening, I'd given up and given in I just couldn't take the hurt again, what a feeling I didn't have the strength to fight, suddenly you seemed so right Me and you, what a feeling What a feeling in my soul, love burns brighter than sunshine Let the rain fall, I don't care, I'm yours and suddenly you're mine, and it's brighter than sunshine Love will remain a mystery, but give me your hand and you will see Your heart is keeping time with me What a feeling in my soul,
Pro Pe , que me mostrou esse. Pido Silêncio Pablo Neruda Ahora me dejen tranquilo. Ahora se acostumbren sin mí. Yo voy a cerrar los ojos Y sólo quiero cinco cosas, cinco raices preferidas. Una es el amor sin fin. Lo segundo es ver el otoño. No puedo ser sin que las hojas vuelen y vuelvan a la tierra. Lo tercero es el grave invierno, la lluvia que amé, la caricia del fuego en el frío silvestre. En cuarto lugar el verano redondo como una sandía. La quinta cosa son tus ojos, Matilde mía, bienamada, no quiero dormir sin tus ojos, no quiero ser sin que me mires: yo cambio la primavera por que tú me sigas mirando. Amigos, eso es cuanto quiero. Es casi nada y casi todo. Ahora si quieren se vayan. He vivido tanto que un día tendrán que olvidarme por fuerza, borrándome de la pizarra: mi corazón fue interminable. Pero porque pido silencio no crean que voy a morirme: me pasa todo lo contrario: sucede que voy a vivirme. Sucede que soy y que sigo. No será, pues, sino que adentro de mí crecerán cere
Delivery Tati Bernardi Quando paramos em frente ao flat, lembro que ainda perguntei mais uma vez se era isso mesmo o que ela queria. Ela apenas me olhou e sorriu triste. Como quando a pessoa está cansada de saber da dor do dia seguinte mas insiste em congelar um dia. E saiu do carro com delicadeza e uma esperança infantil de eternizar segundos. Olhei ela entrando, de longe. Aquilo foi terrível. Queria sair gritando e agarrá-la pelo pescoço. E dizer mais uma vez que ela não precisava disso. E que uma hora tudo iria ser tão lindo e saudável e preenchedor. Mas a deixei ir, como uma mãe que sabe que o filho vai sofrer mas acha inevitável abrir as pernas para libertá-lo. Três coisas facilitaram que ela achasse a vida muito divertida: o óculos escuro vagabundo que ela ganhou no casamento, as havaianas pra quando o pé cansasse e o fato de que a noite ia começar quando o dia já estava para nascer. No elevador ela se achou absolutamente linda. Coisa que só achava nessas situações em que ninguém