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Mostrando postagens com o rótulo Fabrício Carpinejar
Venha, por favor Carpinejar Eu espero alguém que não desista de mim mesmo quando já não tem interesse. Espero alguém que não me torture com promessas de envelhecer comigo, que realmente envelheça comigo. Espero alguém que se orgulhe do que escrevo, que me faça ser mais amigo dos meus amigos e mais irmão dos meus irmãos. Espero alguém que não tenha medo do escândalo, mas tenha medo da indiferença. Espero alguém que ponha bilhetinhos dentro daqueles livros que vou ler até o fim. Espero alguém que se arrependa rápido de suas grosserias e me perdoe sem querer. Espero alguém que me avise que estou repetindo a roupa na semana. Espero alguém que nunca desista de conversar mesmo quando não sei mais falar. Espero alguém que, nos jantares entre os amigos, dispute comigo para contar primeiro como nos conhecemos. Espero alguém que goste de dirigir para nos revezarmos em longas viagens. Espero alguém que confie se a porta está fechada e o café desligado, se meu rosto está aborrecido ou esperanço...
Do Carpinejar para a revista Capricho, alguns trechos de "Tudo o que você deve saber sobre um ex".  — Ex é um vírus que compromete seu computador. Perderá os álbuns na web, já que inventou de tirar a maior parte das fotos com os rostos colados.   — Ex é quando o "tudo bem?" deixa de ser um cumprimento para realmente soar como uma pergunta.  — Ex se torna o mais simpáticos dos seres com o fim do namoro. Não esqueça: ele está fingindo. Mas tanto faz, vai doer igual.  — Ex é repetir detalhes e palavras da despedida, mudando a ordem das frases e testando se havia alguma esperança do final ser diferente.  — Ex é pensar pela primeira vez numa viagem longa para uma região remota em um trabalho voluntário. — Ex é melhorar as amizades e piorar a relação com os pais e irmãos.  — Ex é ter saudade de si. E raiva de qualquer outro aborrecimento menor.  — Ex é sempre encontrar algo dele perdido em suas coisas, é sempre procurar algo seu que deve ...
Fabrício Carpinejar Todo mundo que começa a namorar não sabe ao certo que namora. O início é confuso, entremeado de hesitações e receios e pudores e reservas e uma fileira de sinônimos sofisticados para medo. Puro medo. O casal demora a oficializar aquilo que já é público. Não quer melindrar sua companhia, muito menos oferecer motivos para receber um fora adiantado. Eles se preservam do convívio para não caírem em tentação, recusam bares e festas para conservar o segredo. Estão loucos para contar aos amigos, mas temem que a fofoca estrague a notícia. Há a crença de que alegria espalhada se transforme em inveja. Eu não sofro mais desse mal. Detectei a encruzilhada, o exato momento em que o namoro vira à esquerda e não tem mais volta. É quando um dos dois telefona para não conversar. Para não dizer nada, coisa com coisa. Suportar o laconismo amoroso é uma das torturas mais angustiantes da existência. Acompanhe meu raciocínio. No meio do serviço, ela liga. Por ansiedade, vo...
Branquinha! Depois de dois anos é que confessou que gostava de Fafá de Belém. Pensou que eu não aguentaria. Você tem dessas. Acha que não será amada como se amou. Acha que pode resolver tudo sozinha. Já ouvi gritando num desentendimento: "Não tem problema, cuido de mim, tô acostumada". Se fico preocupado, diz que é uma forma de culpá-la. Não deseja incomodar. Odeia depender do amor de um homem, que é muito pior do que depender de um homem. Odeia me amar porque contrario tudo o que esperava da independência de um casal. Talvez se perceba abençoada por uma maldição. Eu me assusto sempre, você que não prevê. Susto de ternura. A ternura me excita. Adoro quando come e transforma todo alimento em molho dos outros. Adoro quando escolhe uma calça e põe a pilha delas no chão, para não esquecer qual usou. Adoro que chama seus melhores amigos de amado/amada e seus pacientes de flor. É uma floricultura ao telefone. Adoro quando me dá uma série de beijinhos pelo rosto, como se me banhasse...
Tomei certa antipatia do Carpinejar, mas tem hora que só ele me entende. Eu também fico intrigado com a separação amigável. É a que mais machuca na verdade. Porque não há catarse, explosão, exorcismo. É um acordo contido, vizinho de porta da indiferença. Aceitam que não deram certo e tomam caminhos contrários. Ajudam inclusive na mudança. Não se importam muito em perder o futuro a ponto de jorrar culpa e maldizer os bons modos. Quer algo mais irritante do que alguém educado numa despedida? A vontade é chacoalhar os ossos do vivente. Que seja cínico, nunca educado. Chorar não significa remorso, a gente chora para atacar, para constranger, é uma violência, não há nenhum lamento. Não concordo com sua teoria que é melhor acabar antes do ódio. Eu somente acabo quando odeio e ainda assim devoro todas as sobras, testo a paciência. Não deixo nada no prato, raspo com a colher. Odiar é uma rara chance de reconciliação. Vocês não foram nem capazes de se odiar, que amor é esse?
Pra Caroli, com um "obrigada" e um "eu te amo", por não desistir, por se preocupar, por me esperar, por me deixar estar longe e mesmo assim estar sempre perto. O amigo é aquele que tem todos os motivos para desistir de você e não desiste. Fabrício Carpinejar
Carpinejar de novo, porque achei lindo: A verdadeira paz é muito barulhenta, é uma casa cheia das vozes dos filhos e de minha mulher.
Duplo sentido Carpinejar A sensualidade é a infância da vida adulta. Ou alguém ainda duvida que sexo é brincadeira? Uma palavra certa e a vontade não larga mais o pensamento. Quando a namorada sugere que é lasciva, eu não me contenho, junto imediatamente as pernas e fecho o tórax. Lasciva é uma palavra muito rápida, entra direto no sangue. Derrubo minhas defesas também diante de “assanhada” e “safada”. Um amigo não pode escutar lúbrica que abandona sua carreira. A audição se desespera com a realidade paralela dos vocábulos. Sou da turma do sexo falado. Não me permito pecar quieto. Saio para pescar na conversa. Gemer em silêncio somente na masturbação, tampouco partilho da crença da música ao fundo. Reivindico a gritaria, as frases doidas, o acinte animal. O ritmo vem unicamente da respiração e da falta dela. É um efeito colateral da minha geração. O carro foi o primeiro quarto, o sofá foi o primeiro hotel. Não encontrava tanto conforto para transar, necessitava arretar semanas e conven...
Pac to F abrício Carpinejar Sou um desvairado. Aposto em casamento. Mergulho em saideiras intermináveis na mesa de bar e apanho porque sou minoria. Meu chope tem colarinho de padre. É enlouquecedor convencer alguém que usa sua experiência. É como se a experiência fosse um argumento incontestável. Já reneguei muita lembrança que não me acrescentou em nada. Nem toda experiência ensina, que mania a de se vangloriar do passado apocalíptico e jogar na cara: eu vivi dois casamentos, sei do que falo. Faz favor, há coisas que vivo que apenas me tiram as palavras. Se alguém tem propriedade no assunto é Thiago de Mello, que casou trinta vezes, mais ninguém. Nem eu. Amo casamento com todo peso da árvore feminina da família. Torna qualquer detalhe revelador, chance de traficar ternura na necessidade de comprar gás ou arrumar o portão da garagem. Perguntar que horas ela volta é uma preocupação comovente, de quem deseja ficar mais tempo junto. O que são os problemas perto da alegria de poder contá-l...
Apelo sexual Fabrício Carpinejar Toda mulher cria seu fetiche: um detalhe pessoal e intransferível que ela adora num homem. Uma atitude que vai diferenciá-la de qualquer estratégia varejista. Talvez você, macho leitor, só desvendará o segredo pela convivência, e olhe lá, talvez nunca descubra. É um trejeito que executa de modo inocente e que perturba violentamente sua cara-metade, realmente a excita mais do que um beijo e um abraço. Aquilo que é imperdoável para a ex será visto como estimulante para a nova companhia. Não há como repetir ou patentear. Pode ser um tique nervoso, uma manha, uma feição contrariada ao longo do aceno. Ou algo que nem gosta e procura esconder. Não é uma piscadela ou um beiço consciente, elimine o repertório básico de sedução, diz respeito a uma postura ou um gosto discreto, vadio, que não nasceu para pose. Juro que não tenho como ajudar, não existe padrão. Muda conforme o histórico escolar da moça. De repente, é um acessório de sua aparência, não duvido que s...
Cuidado com as minhas cuecas Fabrício Carpinejar C omplicado testemunhar um homem trocando de roupa, indeciso com suas opções, dando meia-volta no quarto, suplicando “só um minutinho, amor”. Ele escolhe um conjunto de cara e não se arrepende. Voltará somente sob pressão popular ou por problemas técnicos, se realmente alguma peça não serve, a camisa está manchada, caiu um botão ou a calça arrebentou a braguilha. Não há nenhum dano neste comportamento. Revela sua vontade imperiosa de não ser cobrado pela aparência. Põe o desleixo na conta da pressa. O que tem sérias consequências no comportamento masculino é o descaso com as cuecas. Já é piada que homem somente compra quando tem uma amante. Mas a calamidade temperamental não está em comprar ou não, mas em nunca jogar fora. Olhe a gaveta do seu namorado ou marido, é natural encontrar cueca de quando ele tinha oito anos. Um pouco mais e acharia fraldas. Seu parceiro confia na desintegração do tecido, no Triângulo das Bermudas, na sucção do...
Vicente e Mariana Fabrício Carpinejar Meus filhos não são impossíveis, eles me tornam possível. Há segredos de Mariana que Vicente sabe, há segredos do Vicente que Mariana sabe. Não sei de nenhum dos segredos e não sinto falta. Eles se bastam. Sou pai e meu trabalho é fazer com que eles se defendam de mim, inclusive de minha paixão por eles, que não é pouco. Mariana tem 16 anos e fica uma criança ao lado do caçula. O caçula tem 8 anos e fica um adolescente ao lado de sua mana. Trocam as fases com facilidade. Eles me enganam com suas frases espirituosas. A árvore tem frutos para poder voar. Temos idades diferentes para não morrer. Mariana decidiu pintar o cabelo de vermelho. Vulcânico. Vicente decidiu que seu cabelo irá crescer. Vendaval. Uma atitude é ligada à outra. Complicado definir quem segue o exemplo de quem. Eles dividem um quarto virtual, o blog, radiomilpontozero.blogspot.com, para trocar suas canções prediletas. Mariana toca violão, Vicente é que dirige seus videoclipes. Quan...