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Mostrando postagens de setembro, 2007
A Mari é linda, doce, rara e amiga. Minha amiga. Orgulho gigante aqui. . Uma menina feita de José Mariana Clark (do livro "Menina feita de José", ed. Armazém de Idéias, 2007). Foi como o dia em que te conheci e que tudo era muito recente. Minhas mãos, meus olhos, meu nariz colorido de tinta. Você era aquele senhor por vezes doce, por vezes duro, assim como foram também as pessoas que amei depois de você. Foram seus olhos que primeiro me viram e também te vi, é certo que sim, mas não sabia ainda o que era você ou o que era o mundo. E assim, menina medrosa que fui sempre, cresci. Cresci vendo os anos passando muito mais rápido para você do que para mim. Vieram a bengala e os sapatos que não escorregam, enquanto eu queria correr descalça, eu queria alcançar o mundo. Você me mostrou as rosas, os jardins, me chamou de menina, me disse bonita, me disse levada. Não gostava de mim todas as horas. Aprendi com você, então, que paciência não tinha a ver com o amor. O amor era outra coi
Maiakovski Brilhar pra sempre Brilhar como um farol Brilhar com brilho eterno Gente é pra brilhar Que tudo o mais vá pro inferno Esse é o meu slogan E o do sol
Lygia Fagundes Telles “O homem é tão necessariamente louco que não ser louco representaria uma outra forma de loucura”, escreveu Pascal. Deve ter pensado nisso a psiquiatra Karen Horney quando fez uma lista dos sintomas básicos da neurose, uma lista enorme, dela quase ninguém escapa. A loucura no cardápio. Basta ler e apontar, esta é minha. Selecionei as neuroses mais comuns e que podem nos levar além da fronteira convencionada: necessidade neurótica de agradar os outros. Necessidade neurótica de poder. Necessidade neurótica de explorar os outros. Necessidade neurótica de realização pessoal. Necessidade neurótica de despertar piedade. Necessidade neurótica de perfeição e inatacabilidade. Necessidade neurótica de um parceiro que se encarregue da sua vida – ô Deus! – mas desta última necessidade só escapam mesmo os santos. E algumas feministas mais radicais. Tão difícil a vida e o seu ofício. E ninguém ao lado para receber a totalidade (ou parte) do fardo. Os analistas, caríssimos, e na
A bola L. Fernando Veríssimo O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era mais couro, era de plástico. Mas era uma bola. O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse "Legal!" Ou o que os garotos dizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, à cura de alguma coisa. - Como é que liga? - perguntou - Como, como é que liga? Não se liga. O garoto procurou dentro do papel de embrulho. - Não tem manual de instrução? O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos são decididamente outros. - Não precisa manual de instrução. - O que é que ela faz? - Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela. - O quê? - Controla, chuta... - Ah, então é uma bola. - Claro que é uma bola. - Uma bola, bola. Uma bola mesmo. - Você pensou que fosse o quê? - Nada, não. O garoto agradeceu, disse &q
Quem quiser pode chegar: no Retiro das Pedras. . Nunca tão feliz.
Engorda Leila Míccolis Ilusões para os aflitos para a mulher, segurança, para a casa, samambaias; consolo para os doentes, conselhos aos desgarrados, aos leitos de amor, cambraias. Sorvete para as crianças, esmolas para os famintos, para os turistas as praias; para os homens, futebol, televisão para todos e alface para as cobaias.
"Comentário nada anônimo para o post anterior" ou "Porque eu amo a minha irmã": Ana B. disse... Voce nao consegue descrever o Severino com suas proprias palavras? 4:45 PM Gargalhadas aqui. Muitas.
Morte e vida severina João Cabral de Mello Neto O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI - O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. Mais isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. Como então dizer quem falo ora a Vossas Senhorias? Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba. Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos, já finados, Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia. Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas e iguais também p
Café da manhã Jacques Prevért Pôs café na xícara Pôs leite na xícara com café Pôs açúcar no café com leite Com a colherzinha mexeu Bebeu o café com leite E pôs a xícara no pires Sem me falar acendeu um cigarro Fez círculos com a fumaça Pôs as cinzas no cinzeiro Sem me falar Sem me olhar Levantou-se Pôs o chapéu na cabeça Vestiu a capa de chuva porque chovia E saiu debaixo da chuva Sem uma palavra Sem me olhar Quanto a mim pus a cabeça entre as mãos E chorei.
A rainha careca Hilda Hilst De cabeleira farta de rígidas ombreiras de elegante beca Ula era casta Porque de passarinha Era careca. À noite alisava O monte lisinho Co'a lupa procurava Um tênue fiozinho Que há tempos avistara. Ó céus! Exclamava. Por que me fizeram Tão farta de cabelos Tão careca nos meios?E chorava. Um dia... Passou pelo reino Um biscate peludo Vendendo venenos. (Uma gota aguda Pode ser remédio Pra uma passarinha De rainha.) Convocado ao palácio Ula fez com que entrasse No seu quarto. Não tema, cavalheiro, Disse-lhe a rainha Quero apenas pentelhos Pra minha passarinha. Ó Senhora! O biscate exclamou. É pra agora!E arrancou do próprio peito Os pêlos E com saliva de ósculos Colou-os Concomitantemente penetrando-lhe os meios. UI! UI! UI! gemeu Ula De felicidade Cabeluda ou não Rainha ou prostituta Hei de ficar contigo A vida toda! Evidente que aos poucos Despregou-se o tufo todo. Mas isso o que importa? Feliz, mui contentinha A Rainha Ula já não chora. Moral da estória:
Essa que eu hei de amar Guilherme de Almeida Essa que eu hei de amar perdidamente um dia será tão loura, e clara, e vagarosa, e bela, que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela, trazer luz e calor a essa alma escura e fria. E quando ela passar, tudo o que eu não sentia da vida há de acordar no coração, que vela… E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela como sombra feliz… — Tudo isso eu me dizia, quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro, e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro do poente, me dizia adeus, como um sol triste… E falou-me de longe: "Eu passei a teu lado, mas ias tão perdido em teu sonho dourado, meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!"
Anônimo, ser encantado pelas palavras não quer dizer, necessariamente, querer se expor publicamente com elas. O intuito deste blog é reunir o que considero bom e quero dividir com outras pessoas - o que não inclui textos de minha autoria ou comentários sobre a minha vida e, principalmente, sobre meus amores. Sempre achei que saber não dizer era mais difícil do que saber dizer. Volte sempre! Dri ps: seu comentário me fez até querer responder com as minhas próprias palavras! =)
Às vezes a gente pensa que está dizendo bobagens e está fazendo poesia. . === . Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer. . Mário Quintana.
Florbela Espanca Ao longe, ao luar, No rio uma vela, Serena a passar, Que é que me revela? Não sei, mas meu ser Tornou-se estranho, E eu sonho sem ver Os sonhos que tenho. Que angústia me enlaça? Que amor não se explica? É a vela que passa Na noite que fica.
Alberto Caeiro A espantosa realidade das cousas É a minha descoberta de todos os dias. Cada cousa é o que é, E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, E quanto isso me basta. Basta existir para se ser completo. Tenho escrito bastantes poemas. Hei de escrever muitos mais. Naturalmente. Cada poema meu diz isto, E todos os meus poemas são diferentes, Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto. Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra. Não me ponho a pensar se ela sente. Não me perco a chamar-lhe minha irmã. Mas gosto dela por ela ser uma pedra, Gosto dela porque ela não sente nada. Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo. Outras vezes oiço passar o vento, E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido. Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto; Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo, Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar; Porque o penso sem pensamentos Porque o digo como as minhas palavras o dizem
Post de aniversário para o homem que vai dividir a vida comigo. Mais do que "parabéns", Fer: "eu te amo". . (...) Quisera olhar fixamente a tua cara, como fazem comigo soldados e choferes de ônibus. Mas não tenho coragem, olho só tua mão, a unha polida olho, olho, olho e é quanto basta pra alimentar fogo, mel e veneno deste amor incansável que tudo rói e banha e torna apetecível (...) (Amor - Adélia Prado) . (...) Todo mundo é filho de alguém, irmão de alguém, melhor amigo de alguém, o amor da vida de alguém. E esse é um papel intransferível. Escutamos uma música e sentimos uma necessidade urgente de fazer essa música chegar aos ouvidos de uma pessoa que nos é especial, uma pessoa que, imaginamos, irá gostar da música tanto quanto nós gostamos. Vontade de repartir um prazer, de saber o que o outro achou, de fundir os gostos e, através da afinidade, sacramentar uma amizade ou um amor. Isso é ser importante pra alguém. (...) (A pessoa mais importante do mundo - Martha
A lua cheia deu na cara dela Elisa Lucinda Hoje perdi a palavra O contato com ela O amor calou-me a boca. O Amor boicotou de mim minha própria informação Os planos se espatifaram contra os móveis de minha própria casa A ação, derretida manteiga, mela o tapete (não deve ser nada sério) apenas tenho impotentes vontades como a de quebrar essa merda desse telefone que está sendo pago pra alvoroçar meu coração. Pago por mim. Eu financio a tortura de não ser nunca tua voz do outro lado da linha. Que linha móvel indecifrável me pendura e compromete meu ser ao I Ching infame da Telerj? Hoje perdi a palavra. A língua me renuncia. O amor me empanturrou a fala mas eu não vou me comover. Há um ladrão que me saqueou a alma afanou-me o senso atordoou-me a calma mas eu não vou denunciar (não deve ser nada sério) apenas dormi acordada e abri as portas quando estavam sendo arrombadas. Os danos estão à mostra e o ladrão diz que não houve nada. Apenas a lua me fura os olhos e eu sou derramada Hoje perdi
Mestrado concluído, consultório aumentando, aulas para dar, casamento à vista, planos para a minha casa, tempo para o que eu gosto (inclusive para atualizar este blog), amigos de sempre, namorado lindo (pra dizer o mínimo), pais adoráveis, irmã voltando. . O resto é resto (e depois de anos de análise, acho que comecei a ficar boa nesse negócio de administrar o resto). Sem mais.
Clarice Lispector - Amanhã faço dez anos. Vou aproveitar bem este meu último dia de nove anos. Pausa, tristeza: - Mamãe, minha alma não tem dez anos. - Quanto tem? - Só uns oito. - Não faz mal, é assim mesmo. - Mas eu acho que se devia contar os anos pela alma. A gente dizia: aquele cara morreu com vinte anos de alma. E o cara tinha morrido mas era com setenta anos de corpo. ***** Começou a cantar, interrompeu-se e disse: - Estou cantando em minha homenagem. Mas, mamãe, eu não aproveitei bem os meus dez anos de vida. - Aproveitou muito bem. - Não, não quero dizer aproveitar fazendo coisas, fazendo isso e fazendo aquilo. Quero dizer que não fui contente o suficiente. O que é? Você está triste? - Não. Vem cá para eu te beijar. - Viu? Eu não disse que você estava triste?! Viu quantas vezes você me beijou?! Quando uma pessoa beija tanto outra é porque está triste.
Improviso do amor-perfeito Cecília Meireles Naquela nuvem, naquela, mando-te meu pensamento: que Deus se ocupe do vento. Os sonhos foram sonhados, e o padecimento aceito. E onde estás, Amor-Perfeito? Imensos jardins da insônia, de um olhar de despedida deram flor por toda a vida. Ai de mim que sobrevivo sem o coração no peito. E onde estás, Amor-Perfeito? Longe, longe, atrás do oceano que nos meus se alteia entre pálpebras de areia... Longe, longe... Deus te guarde sobre o seu lado direito, como eu te guardava do outro, noite e dia, Amor-Perfeito.