O risco da meia da moça Inácio de Loyola Brandão Cedo ainda, pai e filha entraram na lanchonete deserta. O homem escolheu a mesa no canto, junto à janela. Magro, óculos de lentes espessas, parecia cansado. Indagou da menina: - O que você quer? - Chocolate. - E para comer? - Pão de queijo. E o senhor? - Acho que nada. Enquanto ela comia com lentidão, o pai olhava atento, como que preocupado. Havia um breve brilho de alegria nos olhos dele, talvez contentamento por estar com ela. No entanto, não parecia muito à vontade. A manhã de maio era límpida, fresca. (...) Ela tomou mais um pouco do chocolate, fazendo barulho com a boca. - Não faça isso, é feio. Coisa de gente mal-educada. - Sou bem-educada? - Ao menos, tenho tentado. Ele viu que o pão de queijo tinha sido devorado. Talvez a menina quisesse outro. Virou-se um pouco, tirou umas moedas do bolso, contou. - Quer outro pão de queijo? - Posso? - Por que não? - Outro dia, na padaria, comi um pão na chapa e você não comeu nada, estava sem ...
“A poesia é ao mesmo tempo um esconderijo e um alto-falante.” Nadine Gordimer