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Mostrando postagens com o rótulo Vinícius de Moraes
Amei tanto (Vinicius de Moraes) Nunca fui covarde Mas agora é tarde Amei tanto Que agora nem sei mais chorar Vivi te buscando Vivi te encontrando Vivi te perdendo Ah, coração, infeliz até quando? Para ser feliz Tu vais morrer de dor Amei tanto Que agora nem sei mais chorar Nunca fui covarde Mas agora é tarde É tarde demais enfim A solidão é o fim de quem ama A chama se esvai, a noite cai em mim
Soneto de inspiração Não te amo como uma criança, nem Como um homem e nem como um mendigo Amo-te como se ama todo o bem Que o grande mal da vida traz consigo. Não é nem pela calma que me vem De amar, nem pela glória do perigo Que me vem de te amar, que te amo; digo Antes que por te amar não sou ninguém. Amo-te pelo que és, pequena e doce Pela infinita inércia que me trouxe A culpa é de te amar - soubesse eu ver Através da tua carne defendida Que sou triste demais para esta vida E que és pura demais para sofrer.   Vinicius de Moraes
Conjugação da ausente Vinícius de Moraes Foram precisos mais dez anos e oito quilos Muitas cãs e um princípio de abdômen (Sem falar na Segunda Grande Guerra, na descoberta da penicilina e na desagregação do átomo) Foram precisos dois filhos e sete casas (Em lugares como São Paulo, Londres, Cascais, Ipanema e Hollywood) Foram precisos três livros de poesia e uma operação de apendicite Algumas prevaricações e um exequatur Fora preciso a aquisição de uma consciência política E de incontáveis garrafas; fora preciso um desastre de avião Foram precisas separações, tantas separações Uma separação... Tua graça caminha pela casa Moves-te blindada em abstrações, como um T. Trazes A cabeça enterrada nos ombros qual escura Rosa sem haste. És tão profundamente Que irrelevas as coisas, mesmo do pensamento. A cadeira é cadeira e o quadro é quadro Porque te participam. Fora, o jardim Modesto como tu, murcha em antúrios A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te Quer. És vegetal, amiga... Amiga! ...
Você e eu Carlos Lyra, Vinícius de Moraes Podem me chamar E me pedir e me rogar E podem mesmo falar mal Ficar de mal, que não faz mal Podem preparar Milhões de festas ao luar Que eu não vou ir Melhor nem pedir Que eu não vou ir, não quero ir E também podem me intrigar E até sorrir e até chorar E podem mesmo imaginar O que melhor lhes parecer Podem espalhar Que eu estou cansado de viver E que é uma pena Pra quem me conheceu Eu sou mais você e eu
Sei lá, só sei que é preciso paixão. Sei lá, a vida tem sempre razão.
Poema de Natal Vinicius de Moraes Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados Para chorar e fazer chorar Para enterrar os nossos mortos — Por isso temos braços longos para os adeuses Mãos para colher o que foi dado Dedos para cavar a terra. Assim será nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer Uma estrela a se apagar na treva Um caminho entre dois túmulos — Por isso precisamos velar Falar baixo, pisar leve, ver A noite dormir em silêncio. Não há muito o que dizer: Uma canção sobre um berço Um verso, talvez de amor Uma prece por quem se vai — Mas que essa hora não esqueça E por ela os nossos corações Se deixem, graves e simples. Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre Para a participação da poesia Para ver a face da morte — De repente nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos, imensamente.
Pro Fer. Natureza humana Vinicius de Moraes Cheguei. Sinto de novo a natureza Longe do pandemônio da cidade Aqui tudo tem mais felicidade Tudo é cheio de santa singeleza Vagueio pela múrmura leveza Que deslumbra de verde e claridade Mas nada. Resta vívida a saudade Da cidade em bulício e febre acesa Ante a perspectiva da partida Sinto que me arranca algo da vida Mas quero ir. E ponho-me a pensar Que a vida é esta incerteza que em mim mora A vontade tremenda de ir-me embora E a tremenda vontade de ficar.
Da primeira vez ela chorou, mas resolveu ficar. É que os momentos felizes tinham deixado raízes no seu penar. Depois perdeu a esperança, porque o perdão também cansa de perdoar. "Regra três", Toquinho e Vinícius de Moraes
Anfiguri Vinícius de Moraes Aquilo que eu ouso Não é o que quero Eu quero o repouso Do que não espero. Não quero o que tenho Pelo que custou Não sei de onde venho Sei para onde vou. Homem, sou a fera Poeta, sou um louco Amante, sou pai. Vida, quem me dera... Amor, dura pouco... Poesia, ai!...
A primeira namorada Vinícius de Moraes Tu me beijaste, Coisa Triste, Justo, durante a elevação Depois, impávida, partiste A receber a comunhão. Tinhas apenas seis ou sete E isso ou pouco mais eu tinha E tinha mais: tinha topete! - Por que partiste, Coisa Minha? Foi numa missa da matriz De Botafogo. Eu disse: Cruz! Como é que ela vai agora Comer o corpo de Jesus..." Mas tu fizeste, Coisa Linda Sem a menor hipocrisia É que eu nem suspeitava ainda Da tua santropofagia... Porque nas classes do colégio Onde a meu lado te sentavas Tornou-se diário o sacrilégio Durante as preces: me buscavas. E o olhar cândido na mestra Que iniciava a aula depois Acompanhavas a palestra Cuidando apenas de nós dois. Mais tarde a gente revesava E eu procurava tua calcinha E longamente acariciava Tua coisinha, Coisa Minha, Nós ficávamos sérios, sérios A face rubra mas atenta - A vida tem tantos mistérios... Tem ou não tem, Coisa Sardenta? Depois casei, não com ela... Mas com meu segundo amor A mãe de Suzana...
Poema dos olhos da amada Vinícius de Moraes Ó minha amada Que olhos os teus São cais noturnos Cheios de adeus São docas mansas Trilhando luzes Que brilham longe Longe dos breus... Ó minha amada Que olhos os teus Quanto mistério Nos olhos teus Quantos saveiros Quantos navios Quantos naufrágios Nos olhos teus... Ó minha amada Que olhos os teus Se Deus houvera Fizera-os Deus Pois não os fizera Quem não soubera Que há muitas era Nos olhos teus. Ah, minha amada De olhos ateus Cria a esperança Nos olhos meus De verem um dia O olhar mendigo Da poesia Nos olhos teus
A carta que não foi mandada Vinícius de Moraes Paris, outono de 73 Estou no nosso bar mais uma vez E escrevo pra dizer Que é a mesma taça e a mesma luz Brilhando no champanhe em vários tons azuis No espelho em frente eu sou mais um freguês Um homem que já foi feliz, talvez E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor Saudades, certamente, de algum grande amor Mas ao vê-lo assim tão triste e só Sou eu que estou chorando Lágrimas iguais E, a vida é assim, o tempo passa E fica relembrando Canções do amor demais Sim, será mais um, mais um qualquer Que vem de vez em quando E olha para trás É, existe sempre uma mulher Pra se ficar pensando Nem sei... nem lembro mais
Todas as namoradas que eu já tive Vinícius de Moraes Todas as namoradas que eu já tive Estão noivas Uma só dentre todas não está noiva Casou-se. Nenhuma se lembra mais de mim As que tiveram meus beijos evitam meus olhos As que tiveram minha afeição riem mal de mim E beijam furtivamente os noivos nos cinemas e nas praias Todas têm meus sonetos de amor Com promessas ardentes de constâncias e fidelidade Todas têm meu retrato O retrato do menino risonho que eu já fui Com todas eu gastei algumas horas do dia E algumas horas da noite Todas estão noivíssimas E são apenas meninas sem juízo fazendo o que querem Dando aos namorados anteriores a satisfação social do noivado E exibindo o noivo bonito aos olhos das moças sem namorado. Algumas eu amei sinceramente Sem grandes palavras mas com olhares francos Olhares que eu estudava nos bondes com outras Para fazê-los ainda mais verdadeiros Com outras me diverti Passeando horas e horas braço com braço Com palavras grandes e pequenos olhares A todas e...
Documentário sobre Vinícius de Moraes. Apesar de amar Chico Buarque e Edu Lobo, o que eu queria de verdade ter postado aqui era só o depoimento do Ferreira Gullar, que começa aos 1:15m desse vídeo que eu encontrei (e, originalmente, não inclui as imagens chatinhas que acrescentaram no final, aos 3:00m, depois do Vinícius e do Tom bêbados, que também já postei aqui). E é isso. A vida é uma invenção. Então é melhor inventar coisa boa.
Pergunte pro seu orixá: amor só é bom se doer. "Canto de Ossanha", Vinícius de Moraes e Baden Powell. E olha os dois felizes da vida aí embaixo, pra ter vontade de cantar junto.
(...) Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto Esse eterno levantar-se depois de cada queda Essa busca de equilíbrio no fio da navalha Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo Infantil de ter pequenas coragens. Vinicius de Moraes
Vi o documentário "Vinícius" mil vezes e não me canso nunca, mas essa é SEM DÚVIDA a minha parte preferida: Tom e Vinícius bêbados. Eu choro de rir e me emociono, tudo ao mesmo tempo. Impagável.