Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de abril, 2012
O amor antigo (Carlos Drummond de Andrade) O amor antigo vive de si mesmo, não de cultivo alheio ou de presença. Nada exige nem pede. Nada espera, mas do destino vão nega a sentença. O amor antigo tem raízes fundas, feitas de sofrimento e de beleza. Por aquelas mergulha no infinito, e por estas suplanta a natureza. Se em toda parte o tempo desmorona aquilo que foi grande e deslumbrante, o antigo amor, porém, nunca fenece e a cada dia surge mais amante. Mais ardente, mais pobre de esperança. Mais triste? Não. Ele venceu a dor, e resplandece no seu canto obscuro, tanto mais velho quanto mais amor.
Só o desejo inquieto, que não passa, Faz o encanto da coisa desejada. E terminamos desdenhando a caça Pela doida aventura da caçada. "Da eterna procura", Mário Quintana. 
"Ser analista não é analisar os outros; é, a princípio, continuar a se analisar, continuar a ser analisando - é uma lição de humildade. A outra via seria a enfatuação do analista - caso ele se considere em dia com seu inconsciente. Não se está jamais". (MILLER, "Coisas de fineza em psicanálise", 2008-2009).
“Os psicanalistas precisam estar isolados, separados do discurso do mestre predominante no exterior de sua Escola. Precisam ser formados numa língua especial”.  (MILLER, "Coisas de fineza em psicanálise", 2008-2009).
Divórcio (Ricardo Lísias) Dor e solidão são muito diferentes. Para me sentir realmente sozinho, preciso estar longe do meu país e não compreender nem uma palavra do que dizem. Nas poucas vezes em que senti uma dor muito intensa, estava perto das pessoas com quem convivo. A solidão pode não ser ruim. Uma vez, em uma ruazinha de Bonn, me senti muito sozinho, mas a vontade de chorar veio, estranhamente, da sensação de vitalidade que me invadiu. Estou longe de todos, não entendo nada do que dizem, mas daqui a alguns dias volto para casa. Sinto-me vivo e protegido. Na última vez em que senti dor, fui descarnado. Se fosse uma tortura física, teria sido mais fácil. Minha pele se separou do resto do corpo. Eu andava lentamente em uma avenida bastante movimentada de São Paulo e estava sem pele. Também compreendia todas as palavras. Ninguém tentou conversar comigo, outra característica da dor violenta. Entrei no metrô e, em um vagão quase cheio, comecei a chorar. Tinha perdido a pele. Todo
Sempre tem a corrida pra não deixar a gente desistir. A corrida (Ricardo Lísias) As duas primeiras semanas de agosto do ano passado foram as piores da minha vida. Depois de apenas quatro meses, enquanto ainda estava tentando achar o lugar do interruptor e entender o que é ser um marido, fui obrigado a terminar meu primeiro casamento. A situação era quase inverossímil e parecia um dos meus textos. Achei que tinha enlouquecido: estou vivendo um conto, repeti enquanto ligava o computador para mandar um e-mail agredindo minha ex-mulher. Logo depois, enviava outro com uma declaração de amor. O terceiro ia para o advogado que ela tinha contratado. O último da manhã era mais calmo. Depois, tomava água e, da cama mesmo, olhava para o telhado do galpão onde vim morar. Como não tínhamos lugar para guardar meus livros, aluguei os fundos de uma casa. Eu morria de orgulho ao mencionar o “escritório”. Hoje, tenho vergonha de quase tudo isso, mas me afeiçoei ao cafofo. Na primeira