A Marina me deu de presente, e agora eu dou de presente pra ela (a vida tem uns encontros - mesmo os virtuais - inusitados e tão generosos...). Testamento do Brasil Paulo Mendes Campos Que já se faça a partilha. Só de quem nada possui p nada de nada terei. Que seja aberto na praia, não na sala do notário, o testamento de todos. Quero de Belo Horizonte esse píncaro mais áspero, onde fiquei sem consolo, mas onde floriu por milagre no recôncavo da brenha a campânula azulada. De São João del-Rei só quero as palmeiras esculpidas na matriz de São Francisco. Da Zona da Mata quero o Ford envolto em poeira por esse Brasil precário dos anos vinte (ou twenties), quando o trompete de jazz ruborizava a aurora cor de cinza de Chicago. Do Alto do Rio Negro quero só a solidão compacta como o cristal, quero o índio rodeando o motor do Catalina, quero a pedra onde não pude dormir à beira do rio, pensando em nós-brasileiros - entrelaçados destinos - como contas carcomidas de um rosário de martírios. De ...
“A poesia é ao mesmo tempo um esconderijo e um alto-falante.” Nadine Gordimer