Provoca uma certa melancolia, uma tristeza decadente – seguramente literária— como certas canções de entre guerras ou páginas soltas de Drieu La Rochelle, ver um homem só, afastado e distante, no balcão de um bar com uma decoração cosmopolita. Nessa idade incerta, tão incerta como a luz ambiente, em que já não é jovem e contudo ainda não é velho mas traz nos seus olhos a marca da sua derrota quando com um gesto estudado acende um cigarro. Muitos copos e muitas camas, uma indubitável barriga mal dissimulada pela camisa, o tremor, não muito visível, da sua mão segurando um copo, fazem parte do naufrágio, da ressaca da vida. Um homem que espera sabe deus o quê e, inspirando o fumo, olha com declarada indiferença as garrafas à sua frente, os rostos reflectidos por um espelho, tudo com a particular irrealidade de uma fotografia. E causa, ainda mais triste, um fundo suspiro reprimido, ver no fundo desse copo – mágico caleidoscópio – que esse homem és irremediavelmente tu. Não resta então sen...