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Mostrando postagens de dezembro, 2006
Post de amor em homenagem a um casal que eu adoro e que agora usa alianças. . A 2 De Nelson Botter. Ele acorda. Ela acorda. E a corda não arrebenta. Pode puxar, ela há de agüentar. Mais um dia, mais um mês, mais um ano, mais uma vida. Uma vida a dois, regada de dificuldades, mas que lhes proporciona colheitas espetaculares. Aprenderam os truques de um bom plantio. Nada sabem, é claro, mas sabem. Doeu aprender, mas como ele disse a uma querida leitora essa semana: "a dor é necessária", ainda mais quando o assunto é amor, que é quase um masoquismo, vai ver até é... vai ver e verá. Basta observar, estúpido cupido, as coisas boas da vida são sempre ligadas à dor, pois procuramos o gozo contínuo, a satisfação da insatisfação latente. E isso dói, como dói. Quem disse foi o velho do charuto, aquele da Rua Berggasse 19, nada tenho com isso e não aceito reclamações. Uma vida a dois dói muito, e não são todos que suportam a dor, não senhor, alguns preferem sofrer em outra freguesia, ca...
Homens da minha vida . O cartão de Natal que me fez chorar foi o que meu pai deu pro Fer: . "Fernando, Pra ser família não é preciso nascer na família, é preciso conquistar um lugar. Isso você tem feito. Parabéns pelas realizações, feliz Natal e um excelente 2007". . Meus pais sempre receberam as pessoas na nossa casa e nas nossas vidas - deles, minha, dos meus irmãos - como se todos os dias fossem Natal: mesa posta, luzes acesas e um bom papo. Não saberia pedir mais do que eu tenho.
Lar ou ímpar Aldir Blanc - Pasquim n. 419 - 8 a 14/07/77 Singela homenagem ao divórcio, ao desquite, ao colt, ao serrote e demais formas de separação. A mulher da gente não quer ser a mulher que a gente tinha. Quer ser “nova a cada instante”. Bonito, né? E como aporrinha! Mas não há de ser nada. Tem troço mais chato, mais fora-de-moda do que mulher que não incomoda? A boa mulher deve azucrinar. Deve fazer perguntas sem resposta, bater portas, achar a sogra uma josta e discutir assuntos que variem desde a nova taxa cambial ao próprio ciclo menstrual passando pelo resultado do bicho E, bem no meio de uma frase do marido, dizer que o papo ta um lixo. Deve querer emagrecer ou engordar, deve exigir permanecer ou se mudar e recusar fazer o trivial pra experimentar – mal – nova receita. O lema é “nunca se dar por satisfeita”. Um exemplo, gostosa leitorinha: a mulher feliz, realizada, deve, por incrível que pareça, sentir palpitação, dor de cabeça e, repentinamente, ir se deitar. Agora, tem o...
Impressionista Adélia Prado Uma ocasião, meu pai pintou a casa toda de alaranjado brilhante. Por muito tempo moramos numa casa, como ele mesmo dizia, constantemente amanhecendo.
DVDs do Chico Buarque. Todos, em uma caixa linda com fotos, textos... Chegando em casa, não conseguia ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei mais ainda indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, e achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante. Clarice Lispector.
Poema de Natal Vinícius de Moraes Para isso fomos feitos: Para lembrar e sermos lembrados Para chorar e fazer chorar Para enterrar os nossos mortos - Por isso temos braços longos para os adeuses Mãos para colher o que foi dado Dedos para cavar a terra. Assim será a nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer Uma estrela a se apagar na treva Um caminho entre os túmulos - Por isso precisamos velar Falar baixo, pisar leve, ver A noite dormir em silêncio Não há muito que dizer: Uma canção sobre um berço Um verso, talvez de amor Uma prece por quem se vai - Mas que essa hora não se esqueça E por ela os nossos corações Se deixem, graves e simples. Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre Para a participação da poesia Para ver a face da morte - De repente nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos imensamente.
A serenata Adélia Prado Uma noite de lua pálida e gerânios ele viria com boca e mãos incríveis tocar flauta no jardim. Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa. Eu que rejeito e exprobro o que não for natural como sangue e veias descubro que estou chorando todo dia, os cabelos entristecidos, a pele assaltada de indecisão. Quando ele vier, porque é certo que vem, de que modo vou chegar ao balcão sem juventude? A lua, os gerânios e ele serão os mesmos - só a mulher entre as coisas envelhece. De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a fecharei, se não for santa?
Soneto do gato morto Vinicius de Moraes Um gato vivo é qualquer coisa linda Nada existe com mais serenidade Mesmo parado ele caminha ainda As selvas sinuosas da saudade De ter sido feroz. À sua vinda Altas correntes de eletricidade Rompem do ar as lâminas em cinza Numa silenciosa tempestade. Por isso ele está sempre a rir de cada Um de nós, e ao morrer perde o veludo Fica torpe, ao avesso, opaco, torto Acaba, é o antigato; porque nada Nada parece mais com o fim de tudo Que um gato morto.