O homem, o mito, a fraude
Xico Sá
Xico Sá
Uma das coisas mais hilárias, para não dizer infantis, dos modos de macho e os seus be-a-bás, é o caso do falso don Juan. O homem, o mito, a fraude. Narrativas eróticas que jamais aconteceram à vera, apenas e tão-somente na garganta, riacho de muitos peixes grandes, do contador de vantagens.
A nossa mania começa logo nos verdes anos, na mentira de que não somos mais donzelos, e daí levamos ao túmulo, incorrigíveis e tarados Brás Cubas.
No princípio, é uma vergonha assumir a virgindade no meio de tantos machões que nos desfiam suas epopéias com o mulherio. Aí contamos também a nossa “vasta experiência”. Não somos nada bocós ou bestas. Segue a vida enfim, segue a vida, como decifra o velho Fred 04 no seu mundo livre sociedade anônima.
Um amigo relata no botequim que traçou uma flor do bairro ou a gostosa da firma; ouve o coro ridículo carregado de chope, caldinho, torresmo e testosterona à milanesa: “Comi muiiito!”
O falso don Juan é a doença infantil e incurável do machismo. Até de quem não precisa cantar loas do gênero pelo meio do mundo perdido de meu Deus.
Reparem no grande Lima Duarte, o Sassá Mutema, o homem, o mito, a soma de tantos personagens encafifados no imaginário dos Psitis, os brasileiros flatulentos e escravos dos sofás televisivos.
Pelo que disse, nas educadas entrelinhas, a atriz Maitê Proença, em entrevista esta semana na Folha de S. Paulo, o bravo Lima, demasiadamente humano como todos os dublês de don Juan, também andou pecando por pensamentos, palavras, obras e omissões.
A boa repórter Laura Mattos provoca: “Apesar de temas duros no livro, não falou sobre algo já público, sua relação com Lima Duarte.”
No que Maitê, autora de “Uma vida inventada”, autobiografia fictícia, como todas, que acaba de lançar pela editora Agir nas boas casas do ramo, responde com a elegância sincera com a qual desfila na passarela dos nossos corações:
“Imagina se fosse contar todos os amores, seria outro livro, do tipo que abomino. E, apesar de o Lima contar a história do jeito dele, é um homem brilhante que vive no mundo da fantasia. Gosta de florear a realidade. A versão do Lima é uma, e a minha é a história de uma amizade muito importante. Enquanto meu pai morria, fiz uma novela ["O Salvador da Pátria", 89] em que a gente tinha uma relação de amor. A única pessoa para quem contei sobre o processo da morte do meu pai, fora meu marido, foi o Lima. Criamos esse elo. Gosto muito dele, o resto é fantasia de sua cabeça. Mas deixo, o que vou fazer? Qual é a importância? Deixa ele sonhar, colorir a vida, não me ofende, pode contar como quiser.”
Sim, deixa o menino brincar, como cantava o Jorge Ben das antigas, que mal faz um delírio de macho, essa praga inevitável!?
Se bem que, em alguns episódios, é chato para as moças. Não digo pelo velho, careta e surrado “vai ficar mal-falada” na firma, no bairro, em toda cidadela. Digo pelo que pode manchar a imagem da nega quando o Pinóquio metido a don Juan é a maior sujeira, como se diz na gíria corrente, moralismos à parte, noves fora zero.
Moral popular da história: todo homem, assim como todo pescador que se preza, tem sempre uma aventura maior que a vara.
A nossa mania começa logo nos verdes anos, na mentira de que não somos mais donzelos, e daí levamos ao túmulo, incorrigíveis e tarados Brás Cubas.
No princípio, é uma vergonha assumir a virgindade no meio de tantos machões que nos desfiam suas epopéias com o mulherio. Aí contamos também a nossa “vasta experiência”. Não somos nada bocós ou bestas. Segue a vida enfim, segue a vida, como decifra o velho Fred 04 no seu mundo livre sociedade anônima.
Um amigo relata no botequim que traçou uma flor do bairro ou a gostosa da firma; ouve o coro ridículo carregado de chope, caldinho, torresmo e testosterona à milanesa: “Comi muiiito!”
O falso don Juan é a doença infantil e incurável do machismo. Até de quem não precisa cantar loas do gênero pelo meio do mundo perdido de meu Deus.
Reparem no grande Lima Duarte, o Sassá Mutema, o homem, o mito, a soma de tantos personagens encafifados no imaginário dos Psitis, os brasileiros flatulentos e escravos dos sofás televisivos.
Pelo que disse, nas educadas entrelinhas, a atriz Maitê Proença, em entrevista esta semana na Folha de S. Paulo, o bravo Lima, demasiadamente humano como todos os dublês de don Juan, também andou pecando por pensamentos, palavras, obras e omissões.
A boa repórter Laura Mattos provoca: “Apesar de temas duros no livro, não falou sobre algo já público, sua relação com Lima Duarte.”
No que Maitê, autora de “Uma vida inventada”, autobiografia fictícia, como todas, que acaba de lançar pela editora Agir nas boas casas do ramo, responde com a elegância sincera com a qual desfila na passarela dos nossos corações:
“Imagina se fosse contar todos os amores, seria outro livro, do tipo que abomino. E, apesar de o Lima contar a história do jeito dele, é um homem brilhante que vive no mundo da fantasia. Gosta de florear a realidade. A versão do Lima é uma, e a minha é a história de uma amizade muito importante. Enquanto meu pai morria, fiz uma novela ["O Salvador da Pátria", 89] em que a gente tinha uma relação de amor. A única pessoa para quem contei sobre o processo da morte do meu pai, fora meu marido, foi o Lima. Criamos esse elo. Gosto muito dele, o resto é fantasia de sua cabeça. Mas deixo, o que vou fazer? Qual é a importância? Deixa ele sonhar, colorir a vida, não me ofende, pode contar como quiser.”
Sim, deixa o menino brincar, como cantava o Jorge Ben das antigas, que mal faz um delírio de macho, essa praga inevitável!?
Se bem que, em alguns episódios, é chato para as moças. Não digo pelo velho, careta e surrado “vai ficar mal-falada” na firma, no bairro, em toda cidadela. Digo pelo que pode manchar a imagem da nega quando o Pinóquio metido a don Juan é a maior sujeira, como se diz na gíria corrente, moralismos à parte, noves fora zero.
Moral popular da história: todo homem, assim como todo pescador que se preza, tem sempre uma aventura maior que a vara.
Comentários
Te amo.
Bjos
Gui