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Mostrando postagens de dezembro, 2009
Mariana Clark eu sou a menina mais feliz do mundo sério mesmo fizeram uma pesquisa uma pesquisa com todas as meninas do mundo não passou na sua cidade porque só foi nas cidades grandes e realmente importantes não briga comigo, não fui eu quem inventei a pesquisa e mediram a felicidade por um termometro um que coloca no ouvido e a medição é por cores eu fiquei quase empatada com uma menina do japão a yoko mas a namorada da yoko não tem os olhos azuis cintilantes como os seus pelo contrário é até um pouco vesga que me desculpem os vesgos mas a yoko gosta dela mesmo assim enfim eu sou a primeira a mais feliz e a yoko é a segunda
Adeus Eugenio de Andrade já gastámos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. gastámos tudo menos o silêncio. gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mãos à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis. meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro! era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar. às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes! e eu acreditava! acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis. mas isso era no tempo dos segredos, no tempo em que o teu corpo era um aquário, no tempo em que os teus olhos eram peixes verdes. hoje são apenas os teus olhos. é pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros. já gastámos as palavras. quando agora digo: meu amor... já não se passa absolutamente nada. e, no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certez...
Da vez primeira em que me assassinaram Perdi um jeito de sorrir que eu tinha... Depois, de cada vez que me mataram Foram levando qualquer coisa minha... E hoje, dos meus cadáveres, eu sou O mais desnudo, o que não tem mais nada... Arde um toco de vela, amarelada... Como o único bem que me ficou! Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada! Ah! Desta mão, avaramente adunca, Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada! Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai! Que a luz, trêmula e triste como um ai, A luz do morto não se apaga nunca! Mario Quintana
Tão cedo passa tudo quando passa! Morre tão jovem ante os deuses quanto Morre! Tudo é tão pouco! Nada se sabe, tudo se imagina. Circunda-te de rosas, ama, bebe E cala. O mais é nada. Ricardo Reis
Da Mari Clark . e tem outra coisa também que quando você anda na rua vai caindo uma chuvinha de petalas invisiveis apesar de invisiveis elas são laranjinha sabe? da cor de laranja quando começa a amadurecer e então.. elas vão fazendo gracinha ao seu redor flutuando, te cobrindo toda forrando o chão para você pisar e..às vezes e isso é realmente impressionante às vezes toca uma musiquinha também ao fundo e até os passarinhos e isso é verdade mesmo não to inventando até os passarinhos vão tipo assim cantando, baixinho, junto e todo o mundo, todinho.. vai ficando um lugar mais colorido e bonitinho só porque você tá passando
Ainda não é o fim Thiago de Mello Escondo o medo e avanço. Devagar. Ainda não é o fim. É bom andar, mesmo de pernas bambas. Entre os álamos, no vento anoitecido, ouço de novo (com os mesmos ouvidos que escutaram “Mata aqui mesmo?”) um riso de menina. Estou quase canção, não vou morrer agora, de mim mesmo, mal livrado de recente e total morte de fogo. A vida me reclama: a moça nua me chama da janela, e nunca mais me lembrarei sequer dos olhos dela. Posso seguir andando como um homem entre rosas e pombos e cabelos que em prazo certo me devolverão ao sonho que me queima o coração. Muito perdi, mas amo o que sobrou. Alguma dor, pungindo cristalina, alguma estrela, um rosto de campina. Com o que sobrou, avanço, devagar. Se avançar é saber, lâmina ardendo na flor do cerebelo, porque foi que a alegria, a alegria começando a se abrir, de repente teve fim. Mas que avançar no chão ferido seja também saber o que fazer de mim.
O sorriso Eugênio Andrade Creio que foi o sorriso, o sorriso foi quem abriu a porta. Era um sorriso com muita luz lá dentro, apetecia entrar nele, tirar a roupa, ficar nu dentro daquele sorriso. Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
Toda segunda-feira era dia de Stael. Na verdade, toda segunda, quarta e sexta eram dia de Stael. Mas segunda-feira era o dia de nós duas. Eu ficava em casa até o fim da tarde, e a gente falava banalidades enquanto cada uma fazia seu serviço - eu no computador, ela arrumando a casa. Ela pegava folhinhas na horta e fazia o chá que a gente tomava junto - eu sentada na mesa, ela encostada no móvel da cozinha. Na hora do almoço, eu cozinhava pra gente e ela achava tudo uma delícia - mesmo eu sendo a pior cozinheira de que se tem notícia. E ela lavava a louça depois, cantarolando uma musiquinha que eu não conhecia, mas que era sempre a mesma. Era a musiquinha da Stael. O jeitinho da Stael. O carinho que ela me fazia ao longo do dia, "ôoo Dri, trouxe um lanche porque saco vazio não pára em pé e você trabalha muito". Eu sempre disse que não era só da minha casa que ela cuidava. Ela cuidava de mim. A Stael não vai chegar hoje, não vai chegar mais. E eu insisto em tentar lembrar da mus...
Campo de sucatas Paulo Leminski Saudade do futuro que não houve aquele que ia ser nobre e pobre como é que tudo aquilo pôde virar esse presente podre e esse desespero em lata? pôde sim pôde como pode tudo aquilo que a gente sempre deixou poder tanta surpresa pressentida morrer presa na garganta ferida raciocínio que acabou em reza festa que hoje a gente enterra pode sim pode sempre como toda coisa nossa que a gente apenas deixa poder que possa
Saudade de ter tempo pra postar. Férias em breve. Uma bobinha, gostosa e velha enquanto as coisas estão apertadas por aqui: "Maybe get rid of you and then I'll get back to me". Unpretty , TLC .
A falta que ama Carlos Drummond de Andrade Entre areia, sol e grama o que se esquiva se dá, enquanto a falta que ama procura alguém que não há. Está coberto de terra, forrado de esquecimento. Onde a vista mais se aferra, a dália é toda cimento. A transparência da hora corrói ângulos obscuros: cantiga que não implora nem ri, patinando muros. Já nem se escuta a poeira que o gesto espalha no chão. A vida conta-se, inteira, em letras de conclusão. Por que é que revoa à toa o pensamento, na luz? E por que nunca se escoa o tempo, chaga sem pus? O inseto petrificado na concha ardente do dia une o tédio do passado a uma futura energia. No solo vira semente? Vai tudo recomeçar? É a falta ou ele que sente o sonho do verbo amar?
Juan Felipe Rubio , da série “Escena de amor entre pareja anónima”.
Todo o sentimento (Cristóvão Bastos - Chico Buarque) Preciso não dormir até se consumar o tempo da gente. Preciso conduzir um tempo de te amar, te amando devagar e urgentemente. Pretendo descobrir no último momento um tempo que refaz o que desfez, que recolhe todo o sentimento e bota no corpo uma outra vez. Prometo te querer até o amor cair doente. Prefiro então partir a tempo de poder a gente se desvencilhar da gente. Depois de te perder, te encontro, com certeza, talvez num tempo da delicadeza, onde não diremos nada, nada aconteceu, apenas seguirei, como encantado, ao lado teu.
Limites do amor Affonso Romano de Sant'Anna Condenado estou a te amar nos meus limites até que exausta e mais querendo um amor total, livre das cercas, te despeça de mim, sofrida, na direção de outro amor que pensas ser total e total será nos seus limites da vida. O amor não se mede pela liberdade de se expor nas praças e bares, em empecilho. É claro que isto é bom e, às vezes, sublime. Mas se ama também de outra forma, incerta, e este o mistério: - ilimitado o amor às vezes se limita, proibido é que o amor às vezes se liberta. Ele quis morrer para arrasar a morte e voltar.
Roubei de algum lugar que eu não lembro mais.