"Para lá de todas as coisas amáveis, para lá de todas as coisas desejáveis, a tua nudez na ponta dos meus dedos, uma bola de fumo pairando sobre o piano e cada poro teu tocado como se fosse uma tecla, uma tecla emitindo o som de cordas surdas, as tuas veias, cada um dos teus nervos, e eu enredado em ti como o insecto na teia da aranha, para lá de todas as coisas definíveis, os contornos do teu corpo à luz de um tecido transparente, beleza incomparável acossada pela fealdade das notas, dos acordes atonais, para lá de ti, para lá de mim, a paixão capturada pelas máquinas fotográficas, projectada numa tela à velocidade iludente do cinema, para lá das salas, para lá da luz, nós os dois denegridos, deitados no quarto escuro da paixão." "A Dança das Feridas" - Henrique Manuel Bento Fialho