Pular para o conteúdo principal
Vem, Mulher...
Por Paulo Castro

Vem mulher, vem logo, me liga, diz que tá chegando, que precisa de mim, apesar do sangue, sabe que não me importo, que o mundo é cheio de sangue e burrice, o teu é sagrado, é único, é até mesmo saboroso, que não provo pelo seu pudor, que idiotas consideram como birra...

Vem com tudo, com o tesão em letra, meu poema em lata, onde, ontem eu disse tudo que sentia sobre você naquela entrevista, vi o resultado: antes do que imaginávamos, você virou tese de mestrado...

Vem com sede ao pote, vem à sede do teu partido alto, se tivermos que fugir, vamos pra praia, que sem querer, digitei antes, pária, bem nosso caso, como quando cometo atos falhos, falos podem pouco, com a palavra tu...

Vem mulher pra minha literatura bem pobre, para nosso segurar a corda, lado com lado, puxando, caindo no chão, daí já viu, vontade de voltar a fita, mas não há muito sentido nisso, se cada vez vivemos de maneira melhor, numa didática de troca e fluidos envolvidos...

Vem mulher ser reticência na vida, pois sabe que o número três me é importante, em rituais neuróticos e número de gozos, veja bem, se somar, temos seus dez, deus, treze, cabala predileta...

Vem mulher que não te nego fogo, nêgo louco, Paulo pira, se você assim quiser, sei que tenho essa gripe agora, mas veja bem como tudo tem seu tempo exato pra acontecer & como o tempo mesmo foi feito para ser transgredido em eclesiastes de corvos malemancos...

Vem mulher, fazer-me mulher, tua lésbica, só tua lésbica, lembra quando disse, “beija minha boca como se fosse a bucetinha querida, me lambe, que lambo tu, não erro ao digitar, pra você não fugir, sei onde gosta, me fareja e sabe bem do poder do meu nariz"...

Vem mulher, corrigir a vírgula do meu texto pra revista, depois diz que foi um erro bobo de coordenadas, subordinadas, essas coisas de que não entendo e você é bamba, como que para não me ofender, você que me deixa roxos, isso é verdadeiramente engraçado...

Vem mulher, ver como eu ouço músicas, leio livros, sempre em busca de metáforas, metonímias, outras figuras, sou teu álbum de figurinhas que você nunca comprou na saída do colégio, cola com lambida, velcro, lycra, carta...

Vem mulher, escrever outro relatório em que não nos percamos com nossas idéias de riso absoluto, vamos colocar a culpa no papel, no tapa da pantera, me explica, o que foi aquilo, poucas vezes ri tanto, poucas vezes ficou tanto tempo duro, até que fiquei bastante constrangido, se você bem notou, até água mineral virou champanha na nossa propaganda de James Bond e garota rica, maquilagem borrada...

Vem mulher, vamos mostrar nossas fotos de moda, apenas pra nossos olhos, e mostro a que te fiz em segredo, trancado dentro do consultório, de noite, deserto, por certo, caminho e alvo no teu coração que avança, lado esquerdo, sua tatuagem a de beijar a minha, lado direito...

Vem mulher me fazer personagem, me dar esporro, te dou esporas, não seja esposa, assopro esporos pra dentro do teu útero, que já toquei, perfeitinho, durinho, um dedo cabendo, pro nosso filho nascer no colo flor, vem me fazer verdade, vontade, potência, vem te fazer hóstia, compra uma casa no mesmo bairro que a minha, cada uma dos nossos jeitos, mas com um espaço como o segundo andar daquele esquema que a gente se meteu...

Ou

Vamos assistir ao show Los Hermanos que minha filha me deu?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lo que me gusta de tu cuerpo es el sexo. Lo que me gusta de tu sexo es la boca. Lo que me gusta de tu boca es la lengua.  Lo que me gusta de tu lengua es la palabra. (Julio Cortázar)
‎"[...] ousei escrever, em algum lugar, 'Freud e eu'. [...] Por que haveria algo de escandaloso, por parte de alguém que passou a vida inteira ocupado com a contribuição de Freud, em dizer 'Freud e eu'?". Lacan, "Seminário 16".
Ambiciosa Florbela Espanca Para aqueles fantasmas que passaram, Vagabundos a quem jurei amar, Nunca os meus braços lânguidos traçaram O voo dum gesto para os alcançar ... Se as minhas mãos em garra se cravaram Sobre um amor em sangue a palpitar ... - Quantas panteras bárbaras mataram Só pelo raro gosto de matar ! Minh’ alma é como a pedra funerária Erguida na montanha solitária Interrogando a vibração dos céus ! O amor dum homem ? - Terra tão pisada, Gota de chuva ao vento baloiçada ... Um homem ? - Quando eu sonho o amor de um Deus ! ...