Pular para o conteúdo principal
A lua cheia deu na cara dela
Elisa Lucinda

Hoje perdi a palavra
O contato com ela
O amor calou-me a boca.
O Amor boicotou de mim
minha própria informação
Os planos se espatifaram
contra os móveis de minha própria casa
A ação, derretida manteiga, mela o tapete
(não deve ser nada sério)
apenas tenho impotentes vontades como
a de quebrar essa merda desse telefone
que está sendo pago pra alvoroçar meu coração.
Pago por mim.
Eu financio a tortura
de não ser nunca tua voz do outro lado da linha.
Que linha móvel indecifrável me pendura
e compromete meu ser ao I Ching infame da Telerj?
Hoje perdi a palavra. A língua me renuncia.
O amor me empanturrou a fala
mas eu não vou me comover.
Há um ladrão que me saqueou a alma
afanou-me o senso
atordoou-me a calma
mas eu não vou denunciar
(não deve ser nada sério)
apenas dormi acordada
e abri as portas quando estavam sendo arrombadas.
Os danos estão à mostra
e o ladrão diz que não houve nada.
Apenas a lua me fura os olhos e eu sou derramada
Hoje perdi a palavra.
Hoje perdi o som de minha própria caligrafia,
o barulho sensual de minhas consoantes
Adiante perdi a estrada que ia dar
na minha própria cozinha
Na minha, estou calada.
(não deve ser nada sério)

Apenas o amor chegou na hora inesperada
e deparou com máscaras gelatinosas na minha cara
bobs no cabelo
tranqüilizantes sob a saga.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lo que me gusta de tu cuerpo es el sexo. Lo que me gusta de tu sexo es la boca. Lo que me gusta de tu boca es la lengua.  Lo que me gusta de tu lengua es la palabra. (Julio Cortázar)
‎"[...] ousei escrever, em algum lugar, 'Freud e eu'. [...] Por que haveria algo de escandaloso, por parte de alguém que passou a vida inteira ocupado com a contribuição de Freud, em dizer 'Freud e eu'?". Lacan, "Seminário 16".
Ambiciosa Florbela Espanca Para aqueles fantasmas que passaram, Vagabundos a quem jurei amar, Nunca os meus braços lânguidos traçaram O voo dum gesto para os alcançar ... Se as minhas mãos em garra se cravaram Sobre um amor em sangue a palpitar ... - Quantas panteras bárbaras mataram Só pelo raro gosto de matar ! Minh’ alma é como a pedra funerária Erguida na montanha solitária Interrogando a vibração dos céus ! O amor dum homem ? - Terra tão pisada, Gota de chuva ao vento baloiçada ... Um homem ? - Quando eu sonho o amor de um Deus ! ...