Fetichismo Guilherme de Almeida Sou fetichista, adoro tudo que é teu: a página marcada de um livro; o sono de veludo da tua lânguida almofada; um cravo esplêndido e vermelho que morre; a vida singular que tu puseste em cada espelho, ao sortilégio de um olhar; aquele acorde, aquela escala que do teu piano andou suspensa na ressonância desta sala; a tua lâmpada; a presença imperativa de um perfume: o teu chapéu... - tudo afinal que vem de ti, que te resume, tem seu prestígio emocional! E este contato voluptuoso com tanta coisa evocativa é tão sensual, tão delicioso para minha alma sensitiva, que espero, cheio de ansiedade, cada momento em que te vais, e chego mesmo a ter vontade de que não voltes nunca mais!
“A poesia é ao mesmo tempo um esconderijo e um alto-falante.” Nadine Gordimer