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Batidas na porta da frente: é o tempo. Eu bebo um pouquinho pra ter argumento, mas fico sem jeito, calado. Ele ri, ele zomba do quanto eu chorei, porque sabe passar e eu não sei. 

Num dia azul de verão, sinto o vento. Há folhas no meu coração, é o tempo. Recordo um amor que perdi, ele ri, diz que somos iguais, se eu notei, pois não sabe ficar e eu também não sei. E gira em volta de mim, sussurra que apaga os caminhos, que amores terminam no escuro, sozinhos. 

Respondo que ele aprisiona, eu liberto, que ele adormece as paixões, eu desperto. E o tempo se rói com inveja de mim, me vigia querendo aprender como eu morro de amor pra tentar reviver. 

No fundo é uma eterna criança que não soube amadurecer. Eu posso, ele não vai poder me esquecer.

"Resposta ao tempo", Cristóvão Bastos e Aldir Blanc.




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