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inutilidades para o amor romântico

ana guadalupe
I
não sei o que fazer com você
chinelos de dedo decorados com miçangas
pequenos morcegos de crochê

II
não sei o que fazer com você
estampa pra camiseta, caneca, capa de caderno
onde errarei uma das letras do seu sobrenome
onde você não vai anotar suas coisas
coisa nenhuma
III
não sei o que fazer com você
embora pense nisso
antes de dormir e aos domingos
que é quando há tempo sobrando
eu poderia por exemplo
só me aproximar no quinto dia útil
ou esperar nossos quarenta anos
o que seria um ato heróico
considerando a rapidez dos novos tempos
poderia também desenvolver
melhor o texto das mensagens
e caprichar no mistério
sei que você aprecia um mistério
poderia muito bem fazer uns jogos
sumir durante um tempo e voltar em julho
mentir que viajei pelo mundo
em teoria voltei com novos olhos
com horizontes que aumentaram tanto
que estouraram
te mostraria então os restos dos meus horizontes
mas antes
poderia te encaixar em tarefas mais intrigantes
como a montagem de móveis
e a culinária para principantes
o incrível papel de escovador de dentes
antes de dormir e aos domingos
quando não sei o que fazer nem comigo
e quando é de costume voltar sem resposta
ao início

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‎"[...] ousei escrever, em algum lugar, 'Freud e eu'. [...] Por que haveria algo de escandaloso, por parte de alguém que passou a vida inteira ocupado com a contribuição de Freud, em dizer 'Freud e eu'?". Lacan, "Seminário 16".
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