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Mostrando postagens de março, 2010
Sujeito indireto Paulo Leminski Quem dera eu achasse um jeito de fazer tudo perfeito, feito a coisa fosse o projeto e tudo já nascesse satisfeito. Quem dera eu visse o outro lado, o lado de lá, lado meio, onde o triângulo é quadrado e o torto parece direito. Quem dera um ângulo reto. Já começo a ficar cheio de não saber quando eu falto, de ser, mim, sujeito indireto.
Vicente e Mariana Fabrício Carpinejar Meus filhos não são impossíveis, eles me tornam possível. Há segredos de Mariana que Vicente sabe, há segredos do Vicente que Mariana sabe. Não sei de nenhum dos segredos e não sinto falta. Eles se bastam. Sou pai e meu trabalho é fazer com que eles se defendam de mim, inclusive de minha paixão por eles, que não é pouco. Mariana tem 16 anos e fica uma criança ao lado do caçula. O caçula tem 8 anos e fica um adolescente ao lado de sua mana. Trocam as fases com facilidade. Eles me enganam com suas frases espirituosas. A árvore tem frutos para poder voar. Temos idades diferentes para não morrer. Mariana decidiu pintar o cabelo de vermelho. Vulcânico. Vicente decidiu que seu cabelo irá crescer. Vendaval. Uma atitude é ligada à outra. Complicado definir quem segue o exemplo de quem. Eles dividem um quarto virtual, o blog, radiomilpontozero.blogspot.com, para trocar suas canções prediletas. Mariana toca violão, Vicente é que dirige seus videoclipes. Quan...
Pro Fer. Natureza humana Vinicius de Moraes Cheguei. Sinto de novo a natureza Longe do pandemônio da cidade Aqui tudo tem mais felicidade Tudo é cheio de santa singeleza Vagueio pela múrmura leveza Que deslumbra de verde e claridade Mas nada. Resta vívida a saudade Da cidade em bulício e febre acesa Ante a perspectiva da partida Sinto que me arranca algo da vida Mas quero ir. E ponho-me a pensar Que a vida é esta incerteza que em mim mora A vontade tremenda de ir-me embora E a tremenda vontade de ficar.
Ela, sempre. Hilda Hilst. II Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me. E eu te direi que o nosso tempo é agora. Esplêndida altivez, vasta ventura Porque é mais vasto o sonho que elabora Há tanto tempo sua própria tessitura. Ama-me. Embora eu te pareça Demasiado intensa. E de aspereza. E transitória se tu me repensas. X Não é apenas um vago, modulado sentimento O que me faz cantar enormemente A memória de nós. É mais. É como um sopro De fogo, é fraterno e leal, é ardoroso É como se a despedida se fizesse o gozo De saber Que há no teu todo e no meu, um espaço Oloroso, onde não vive o adeus. Não é apenas vaidade de querer Que aos cinquenta Tua alma e teu corpo se enterneçam Da graça, da justeza do poema. É mais. E por isso perdoa todo esse amor de mim E me perdoa de ti a indiferença.
Da Marina , muito fofa. Da série "coisas legais sobre ter um blog": Dri, just to let you know... I'm quite sure I'm falling in love with your sister. Now I have to go to BH. Or you both can come to London. New Zeland is too far.
Alguém segue este blog da Nova Zelândia, acabei de descobrir. Eu acho que a Nova Zelândia seria um bom lugar para passar os próximos dias. Lá ou o Japão. Aceito convites.
Sujam o suicídio João Cabral de Melo Neto O pior que existe no suicídio, por limpo que seja, ou de tiro; ou o suicídio por barbitúricos, em que a dormir se cruza o muro; pior que o incômodo resíduo que se há de tratar como um vivo, que há de lavar, barbear, pentear, para a viagem que empreenderá; o pior que há nele é o palavrório que enreda o caixão e o velório na oral, tropical, floração que saliva a nossa nação. Na verdade, onde mais o medo é falador é nos enterros. No enterro, falam mesmo os mudos, e, se de suicida, falam duplo. Ninguém deixa a mínima brecha para a morte-Rilke, a da Igreja e de outros que fazem da Porta uma celebração deleitosa. O Padre sabe: não há frestra onde a transcendência ele meta no falatório, mato fechado que nem pode abrir-se a machado (Enquanto isso, pensa? o cadáver: maçada! não pude evaporar-me; enfim: não se vende em balcão, ainda, o suicidar-se de avião).
Beijos mortos Martins Fontes Amemos a mulher que não ilude, e que, ao saber que a temos enganado, perdoa por amor e por virtude, pelo respeito ao menos do passado. Muitas vezes, na minha juventude, evocando o romance de um noivado, sinto que amei outrora quando pude, porém mais deveria ter amado. Choro. O remorso os nervos me sacode. E, ao relembrar o mal que então fazia, meu desespero inconsolado explode. E a causa desta horrível agonia, é ter amado, quanto amar se pode, sem ter amado quanto amar devia.
Da primeira vez ela chorou, mas resolveu ficar. É que os momentos felizes tinham deixado raízes no seu penar. Depois perdeu a esperança, porque o perdão também cansa de perdoar. "Regra três", Toquinho e Vinícius de Moraes
Do blog do Pe . "Só elas sabiam como pesava o homem que amavam com loucura, e que talvez as amasse, mas que tinham tido que continuar a criar até o ultimo suspiro, dando-lhe de mamar, mudando-lhe as fraldas borradas, distraindo-o com historinhas de mãe para lhe aliviar o terror de sair de manhã e dar de cara com a realidade. E no entanto, quando o viam sair de casa instigado por elas próprias a enfrentar o mundo, então eram elas que ficavam com o terror de que o homem não voltasse nunca. Isso era a vida. O amor, caso houvesse, era uma coisa à parte: outra vida." Gabriel Garcia Marquez, "O amor nos tempos do cólera".
Manuel Bandeira Quando perderes o gosto humilde da tristeza, Quando, nas horas melancólicas do dia, Não ouvires mais os lábios da sombra Murmurarem ao teu ouvido As palavras de voluptuosa beleza Ou de casta sabedoria; Quando a tua tristeza não for mais que amargura, Quando perderes todo estímulo e toda crença, - A fé no bem e na virtude, A confiança nos teus amigos e na tua amante, Quando o próprio dia se te mudar em noite escura De desconsolação e malquerença; Quando, na agonia de tudo o que passa Ante os olhos imóveis do infinito, Na dor de ver murcharem as rosas, E como as rosas tudo o que é belo e frágil, Não sentires em teu ânimo aflito Crescer a ânsia de vida como uma divina graça: Quando tiveres inveja, quando o ciúme Crestar os últimos lírios de tua alma desvirginada; Quando em teus olhos áridos Estancarem-se as fontes das suaves lágrimas Em que se amorteceu o pecaminoso lume De tua inquieta mocidade: Então sorri pela última vez, tristemente, A tud...
A caixinha de música da minha vida é prateada, com uma bailarina que dança em cima de um caleidoscópio vermelho e branco quando a gente gira uma chavinha. E toca essa música, que vai ser dela pra sempre. Como palha italiana, nhoque, dar comida aos pombinhos, mexer na caixa de botões e fazer ponto-de-cruz. Para quem soube ser uma mulher dura, mas uma avó muito, muito, infinitamente doce. Fascinação F.D.Marchetti / M.de Feraudy / (Versão Armando Louzada) Os sonhos mais lindos sonhei. De quimeras mil um castelo ergui. E no teu olhar tonto de emoção, com sofreguidão mil venturas previ. O teu corpo é luz, sedução, poema divino, cheio de esplendor. Teu sorriso prende, inebria, entontece... és fascinação, amor.
Separação Affonso Romano de Sant'Anna Desmontar a casa e o amor. Despregar os sentimentos das paredes e lençóis. Recolher as cortinas após a tempestade das conversas. O amor não resistiu às balas, pragas, flores e corpos de intermeio. Empilhar livros, quadros, discos e remorsos. Esperar o infernal juizo final do desamor. Vizinhos se assustam de manhã ante os destroços junto à porta: -pareciam se amar tanto! Houve um tempo: uma casa de campo, fotos em Veneza, um tempo em que sorridente o amor aglutinava festas e jantares. Amou-se um certo modo de despir-se de pentear-se. Amou-se um sorriso e um certo modo de botar a mesa. Amou-se um certo modo de amar. No entanto, o amor bate em retirada com suas roupas amassadas, tropas de insultos malas desesperadas, soluços embargados. Faltou amor no amor? Gastou-se o amor no amor? Fartou-se o amor? No quarto dos filhos outra derrota à vista: bonecos e brinquedos pendem numa colagem de afetos natimortos. O amor ruiu e tem pressa de ir embora enve...
Patrícia Highsmith pagando peitinhos do meu suspense amoroso Xico Sá CAP. I Testei ao limite, excesso e lama, e me vi na laje fria do IML do vazio pornográfico. Pensei deveras em morte. Desculpe ai, é sacanagem, mas sabes o pânico de sentir-se um pouco sem oxigênio? Já ouviste falar naquela velha crença brega e cafona que diz, mais ou menos assim, que a pessoa amada é o ar que o outro respira? Teus passos civilizadíssimos e principalmente teu silêncio. Inicialmente debaixo da escada, no frio, depois na edícula, melhor, no quartinho igualmente cool dos fundos sem legenda. Teus passos que o digam. O ciúme enferrujado, o shortinho verde água da provocação final sem culpa, a foto de Patricia Highsmith pagando peitinho na capa da Ilustrada no último sábado. Tudo me lembra, mesmo que nem mais guarde a tua beleza insegura boiando nos meus olhos castanhos. Quando voltas para a siesta, nosso começo de ilusões perdidas? Nunca, sei muito antes a resposta, mas insisto, por amor e por besteira. Tom...
Esses amores fugazes são deliciosos porque carecem de expectativa. Não têm passado nem futuro. A expectativa destrói muitas coisas. Mas aprender a evitá-la é uma arte. Pedro Juan Gutiérrez, em “Trilogia Suja de Havana”