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Diário de uma paixão
Ulisses Tavares

(...)

II
Foi em Trindade nossa
Primeira lua-de-mel.
Com falta de vaga no hotel,
Cerveja cara e tudo
Pela primeira vez
Nem sentimos os borrachudos.

III
Já consigo olhar para você
E encontrar defeito.
Uma espinha a mais na bunda,
Um riso alto onde habitava o silêncio,
Algo que não era o seu jeito.
E temo nesses momentos
Que minha paixão vire amor
E depois amizade,
Nobres sentimentos
Mas muitos próximos da realidade.

IV
Nossa primeira briga.
Te odeio, até nunca mais,
Fico melhor sem você.
Cada um usando seu aprendizado
Para fugir da dor
O macho afogando na bebida
A fêmea nos braços das amigas.
Ate o desejo queimar o orgulho,
Esse sentir quase em vão,
De dizer que fora você o resto é bagulho,
E os dois brigando de novo
Querendo ser o primeiro a pedir perdão.

(...)
VI
Vou ser um grande cara
Se conseguir levantar da cama
E encarar de frente meus planos
Meus objetivos minha ambição.
Mas você é um detalhe grande demais
Quase acordada do meu lado
Para ser ignorada.
Se conseguir preparar nosso café da manhã
Trazer e cair de novo em seus braços
Já vou ser um sucesso
Mesmo sendo no ibope do mundo
Só um traço.

(...)
IX
Você me disse: preciso
Cuidar de mim agora
e mais um pouco.
O que ouvi soa como:
Recuperei minha razão, meu siso,
Vou ficar longe desse louco.

X
Terminado. Acabou. Já era.
O que fui, o que fomos,
Fica de stand by, na espera.
Cada coisa passa a ser somente
O que sempre foi, separada, domus.
Triângulos, quadrados, o que foi esfera.

(...)
XII
Paixão não tem fim nem preço
O sentir sempre por um triz
Não se pode esperar mesmo
um final feliz
No máximo voltar a mim,
Voltar ao começo.

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