Pular para o conteúdo principal
L. F. Veríssimo

Homem e mulher na cama.
- Quem é o seu ursão?
- É você.
- Quem é o seu ursanzão?
- É você.
- E quem é a minha ursinha?
- Sou eu.
- Quem é a minha ursinha pequenininha?
- Sou eu.
- Me chama de "meu ursão".
- Meu ursão. Meu ursanzão. Meu ursanzão peludão.
- Eu sou o seu ursanzão peludão, sou?
- É. Meu garanhão.
- Quê?
- Meu garanhanzão.
- Pô, Matilde.
- Que foi?
- "Meu garanhão"?!
- Que que tem?
- Você sabe o que é garanhão?
- Ora, Paulo. Quem não sabe o que é garanhão?
- Antes você não sabia.
- Eu sempre soube o que é garanhão. Não dizia, mas sabia.
- E por que está dizendo agora?
- Que mal há em dizer... Francamente, Paulo!
- Você conheceu algum garanhão?
- Não, Paulo. Não conheci nenhum garanhão pessoalmente. Meu conhecimento é puramente teórico. Aliás, não conheço nenhum urso, também. O único urso que eu conheço é você.
- Não é a mesma coisa. "Ursão" e "ursinha" é uma coisa nossa. Desde a nossa lua-de-mel, ou você já esqueceu? Não sei por que você teve que trazer esse "garanhão" pra nossa cama. Olha aí, espantou os ursos.
- Está bem, eu retiro o garanhão. Fora desta cama, garanhão. Xô, xô.
- Agora não adianta. O mal está feito. Pô, Matilde. Nunca pensei.
- Ei, ursão... Ursanzão... Ursanzão peludão... Eu não quero um garanhão. Eu quero você.
- E você acha que eu não sou um garanhão?
- Não. Você é ursão. Ursão é melhor que garanhão.
- Como é que você sabe? Se você não conhece nenhum garanhão, como é que pode
comparar?
- Iiih... Sabe de uma coisa, Paulo? Boa noite.
- Não, agora eu quero saber!

Comentários

Gui disse…
O que querem os homens?

Postagens mais visitadas deste blog

Lo que me gusta de tu cuerpo es el sexo. Lo que me gusta de tu sexo es la boca. Lo que me gusta de tu boca es la lengua.  Lo que me gusta de tu lengua es la palabra. (Julio Cortázar)
‎"[...] ousei escrever, em algum lugar, 'Freud e eu'. [...] Por que haveria algo de escandaloso, por parte de alguém que passou a vida inteira ocupado com a contribuição de Freud, em dizer 'Freud e eu'?". Lacan, "Seminário 16".
Ambiciosa Florbela Espanca Para aqueles fantasmas que passaram, Vagabundos a quem jurei amar, Nunca os meus braços lânguidos traçaram O voo dum gesto para os alcançar ... Se as minhas mãos em garra se cravaram Sobre um amor em sangue a palpitar ... - Quantas panteras bárbaras mataram Só pelo raro gosto de matar ! Minh’ alma é como a pedra funerária Erguida na montanha solitária Interrogando a vibração dos céus ! O amor dum homem ? - Terra tão pisada, Gota de chuva ao vento baloiçada ... Um homem ? - Quando eu sonho o amor de um Deus ! ...