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Ainda na esteira "fotos":
Sim, é ela! Nélida Piñon.
Sim, é ele! Fernando Lara.
Amores. Ainda mais assim, juntinhos.

Comentários

Anônimo disse…
Leio seu blog sempre e gosto muito das coisas que escreve. Li esse texto da Leila, a qual é uma pessoa que admiro e achei interessante compartilhá-lo com você.
Um abraço!

PRAZERES PELA METADE
(Leila Ferreira)

Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa,
contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente
uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido – uma só.

Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí a
vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de
sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a
gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.

O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.

A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela
metade. A gente sai pra jantar, mas come pouco.

Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.

Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a
imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de "fácil").
Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos
do planeta.

Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel
ridículo.

Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se
obriga a ir malhar. E por aí vai.

Tantos deveres, tanta preocupação em "acertar", tanto empenho em passar na
vida sem pegar recuperação...

Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente
sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão.

Às vezes dá vontade de fazer tudo "errado" – deixar de lado a régua, o
compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.
Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o
que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.

Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase
mais ou menos assim:

"Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora".

Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos
(devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores,
vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração
saciado.

Um dia a gente cria juízo. Um dia. Não tem que ser agora.

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