Nos últimos meses, quando parecia que eu não tinha mais lugar no mundo, eu chegava lá e ficava claro que meu lugar era aquele.
Durante muito tempo só falei de amor nesse blog. Deixei-o como às vezes fazemos com os amores. De alguma maneira, o que eu vivia não encontrava espaço por aqui e eu ficava feliz com os pedidos para retomá-lo mas de uma maneira que não sabia explicar, não sabia como. Não cabia. A escrita foi perdendo seu lugar para outras coisas, outros amores, que como ela, são também importantes. Até o dia em que acordei, fui ao banheiro escovar os dentes e vi dois bilhetinhos do meu irmão para minha mãe. Ele havia trabalhado até às 5 da manhã na noite anterior e precisava da mesma roupa limpa para daqui a algumas horas recomeçar tudo de novo. Vida dura de quem trabalha para os outros se divertirem. Sorri ao ver aqueles bilhetes, me deu uma sensação de pertencer a um lugar, à uma família e ao amor, finalmente. E tudo naquela letra feminina que ele tem (melhor que os meus garranchos e muito melhor que os da minha mãe também), a pedindo para deixar a roupa limpa nem que seja uma lavada rápida, nem que precise usar a secadora. Não deixei de notar um certo tom desesperado e sonolento. Ele dormia.
Gosto de acordar e ter a casa vazia. Gosto quando não tem ninguém a quem deva dar bom dia ou dizer qualquer coisa que seja. Gosto dos meus maus hábitos vespertinos tais como beber coca cola e fumar um cigarro na paz de quem é politicamente incorreta. Mas, de alguma maneira, sei que todos voltarão, uma hora ou outra, e encher todo aquele espaço com barulho, falatórios que nem sempre quero corresponder ou novidades bobas como a promoção de romã da Morini. E eu olho para eles e sei que vou sentir saudades disso para o resto da minha vida.
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