Pular para o conteúdo principal
Nos últimos meses, quando parecia que eu não tinha mais lugar no mundo, eu chegava lá e ficava claro que meu lugar era aquele.


Durante muito tempo só falei de amor nesse blog. Deixei-o como às vezes fazemos com os amores. De alguma maneira, o que eu vivia não encontrava espaço por aqui e eu ficava feliz com os pedidos para retomá-lo mas de uma maneira que não sabia explicar, não sabia como. Não cabia. A escrita foi perdendo seu lugar para outras coisas, outros amores, que como ela, são também importantes. Até o dia em que acordei, fui ao banheiro escovar os dentes e vi dois bilhetinhos do meu irmão para minha mãe. Ele havia trabalhado até às 5 da manhã na noite anterior e precisava da mesma roupa limpa para daqui a algumas horas recomeçar tudo de novo. Vida dura de quem trabalha para os outros se divertirem. Sorri ao ver aqueles bilhetes, me deu uma sensação de pertencer a um lugar, à uma família e ao amor, finalmente. E tudo naquela letra feminina que ele tem (melhor que os meus garranchos e muito melhor que os da minha mãe também), a pedindo para deixar a roupa limpa nem que seja uma lavada rápida, nem que precise usar a secadora. Não deixei de notar um certo tom desesperado e sonolento. Ele dormia.
Gosto de acordar e ter a casa vazia. Gosto quando não tem ninguém a quem deva dar bom dia ou dizer qualquer coisa que seja. Gosto dos meus maus hábitos vespertinos tais como beber coca cola e fumar um cigarro na paz de quem é politicamente incorreta. Mas, de alguma maneira, sei que todos voltarão, uma hora ou outra, e encher todo aquele espaço com barulho, falatórios que nem sempre quero corresponder ou novidades bobas como a promoção de romã da Morini. E eu olho para eles e sei que vou sentir saudades disso para o resto da minha vida.

Comentários

Ana B. disse…
Que lindo! Eu to super sentindo isso agora nesse apartamento delícia, meu, mas vazio.
Mariana disse…
No fundo, a gente sabe que nosso lugar é o amor. Para gente como eu, para gente como você. Eu te amo.

Postagens mais visitadas deste blog

Modéstia às favas, porque é lindo demais e é pra mim. E porque eu amo esse menino branco. . . Porque você é o que me importa do Fer . . Fico preocupado ao pensar que você talvez não saiba que me esforço todos os dias para não interromper reuniões, ligações, debates e seminários e contar sua última piada ou o comentário que fez ao ver a manchete do jornal. . Também não deve saber que melhoro minha postura, arrumo meu cabelo e minhas roupas ao imaginar que talvez te encontre ou que possa me ver de longe, andando distraído por uma rua qualquer. . Sempre que encosto meu ouvido em seu peito redescubro um pouco de fé ao pedir que te protejam e te façam menos frágil do que me parece naquele instante, com seu pequeno punho fechado a carregar meu mundo inteiro. Juro, então, que te fazer feliz vai ser meu exercício diário, como se dele dependesse o resto da minha vida. . Juro também que vou pensar na sua gargalhada, nas danças inusitadas e no carinho que me faz quando já está a dormir sempre que...
Minha irmã me mostrou, e eu fiquei emocionadíssima. Só quem teve vai entender (se é que alguém da minha geração não teve...).
Açúcar emprestado Luis Fernando Veríssimo Vizinhos de porta, ele o 41 e ela o 42. Primeiro lance: ela. Bateu na porta dele e pediu açúcar emprestado para fazer um pudim. Segundo lance: ela de novo. Bateu na porta dele e perguntou se ele não queria provar o pudim. Afinal, era co-autor. Terceiro lance: ele. Hesitou, depois perguntou se ela não queria entrar. Ela entrou, equilibrando o prato do pudim longe do peito para não derramar a calda. - Não repara a bagunça... - O meu é pior. - Você mora sozinha? Sabia que ela morava sozinha. Perguntara ao porteiro logo depois de se mudar. A do 42? Dona Celinha? Mora sozinha. Morava com a mãe mas a mãe morreu. Boa moça. Um pouco... E o porteiro fizera um gesto indefinido com a mão, sem dizer o que a moça era. Fosse o que fosse, era só um pouco. A conversa começou com apresentações e troca de informações - "Nélio", "Celinha", "Capricórnio", "Leão", "Daqui mesmo", "Eu também" - e continuou e...