O que passou, passou? Paulo Leminski Antigamente, se morria. 1907, digamos, aquilo sim é que era morrer. Morria gente todo dia, e morria com muito prazer, já que todo mundo sabia que o Juízo, afinal, viria e todo o mundo ia renascer. Morria-se praticamente de tudo. De doença, de parto, de tosse. E ainda se morria de amor, como se amar morte fosse. Pra morrer, bastava um susto, um lenço no vento, um suspiro e pronto, lá se ia nosso defunto para a terra dos pés juntos. Dia de anos, casamento, batizado, morrer era um tipo de festa, uma das coisas da vida, como ser ou não ser convidado. O escândalo era de praxe. Mas os danos eram pequenos. Descansou. Partiu. Deus o tenha. Sempre alguém tinha uma frase que deixava aquilo mais ou menos. Tinha coisas que matavam na certa. Pepino com leite, vento encanado, praga de velha e amor mal curado. Tinha coisas que têm que morrer, tinha coisas que têm que matar. A honra, a terra e o san...