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O que eu aprendi com os meus ex namorados Nina Lemos, do site 02 Neurônio "É passado." Depois que ele falou isso, com aquela frieza macha que a gente bem conhece, decidi que a dor pode ser um pouco presente. Mas ele é passado mesmo. Então, comecei a lembrar o que eu aprendi com os meus ex namorados. Aprendi muitas coisas. Com o primeiro, aprendi a andar de moto, na garupa, claro. E a me preocupar com homem drogado. Sim, era o primeiro! Com um deles, aprendi coisas sobre bicicleta, ele era biker fanático. Até vi um vídeo sobre bicicleta. E fingi que gostei por um tempo. (...) Com um ex namorado muito do passado aprendi a gostar de REM (isso foi realmente uma coisa boa) e a ser a outra (isso foi realmente uma coisa ruim). Mas ele também me ensinou muitas coisas sobre o rock de Brasília. Dois deles fizeram músicas para mim e eu virei musa. Dois deles me pediram em casamento. Com um eu aceitei. Um deles fez fotos lindas minhas pelada. Um deles me ajudou a mudar os móveis da minh...
"Amo o funk, mas acho que algumas coisas deixam a mulher muito vulgar. Se você paga motel para o seu namorado, tudo bem, mas não precisa gritar. A mulher, quando quis a independência, era pra ser realmente independente. Em vez disso, virou homem e ficou tão bruta quanto ele. Ninguém gosta de cabra-macho-sim-senhor. Faltou no funk uma pequena dose de elegância. Por que a mulher brasileira é muito elegante, olha aí a Gisele Bündchen. Tenho certeza de que ela não sai por aí de shortinho enfiado na bunda. Amo essas meninas do funk, adoraria falar isso pra elas, mas quem quer me ouvir? Pra elas, isso tudo pode ser um balde de merda. Mas eu já vivi bastante. Tomei muita porrada, fui mãe nove vezes". . Elza Soares, Revista TPM.
Ontem eu morri De Milly Lacombe Três coisas me deixam em pânico: a idéia de que eu um dia vou morrer, a idéia de que aqueles que eu amo um dia vão morrer e, acima de uma e da outra, a possibilidade real de topar com uma barata em algum canto da casa. Quanto à barata, não há o que fazer a não ser selecionar as companhias de vida eliminando do convívio aquelas incapazes de matá-las. Não existe, para mim, amor que resista à falta de disposição para tascar o chinelo no diabólico inseto (e, na sequência, me mostrar o cadáver – exigência que surgiu depois de ter sido enganada várias vezes). Mas, para tentar driblar esse paranóico medo de morrer não pude contar com a ajuda de terceiros. Fui então obrigada a desenvolver uma técnica que depois de um tempo se mostrou invejável: me convenci de que jamais morrerei. É muito simples, na verdade. Basta acreditar que a morte não existe e que, mesmo que alguns de seus entes queridos aparentemente já tenham sido supreendidos por ela, isso jamais aconte...
"Entrei no teu blog quando estava procurando um poema da Elisa Lucinda no google. Não achei o poema, mas achei um outro lugar de mim. Eu não sabia o quanto eu podia ser outra pessoa. Agora caminho os teus passos e as palavras e não palavras com que tu sem saber me narras. Adorei absolutamente tudo o que já li aqui, mesmo o que não gostei". . Se me permite, Nin, seja você quem for: roubei seu comentário porque queria um post para a sua delicadeza.
Em busca da civilidade (im)possível por Nina Lemos, do blog "02 Neurônio" Três semanas sem vê-lo depois que o mundo desabou sobre nós. Voltei a viver e a gostar da minha vida. Acordo bem. ELE não é a primeira coisa em que penso quando acordo. Aquele top fofo que comprei na Fashion House não me lembra ele. Me lembra apenas que eu gosto da roupa. Coloco sem culpa, para ser elogiada por outros homens, não por ele, que elogiou - um dos últimos elogios enquanto o mundo desabava sobre nós. Minhas calcinhas bonitas não me lembram mais ele. Nem a rua dele, nem nada. Recuperei-me. Recito "as coisas não precisam de você". É isso mesmo. Não precisam. Ele deixa um recado na secretária. Eu não ouço. Olha só, não ouvi porque não estava esperando. Mas ligo para ele. Temos conversa extremamente civilizada e carinhosa, agora, depois que o mundo desabou sobre nós. E agora, enquanto escrevo, ele acaba de entrar no MSN. É verdade. Pontada de dor no coração. Perdi o ritmo. Isso porque ...
O último carinho do mundo De Tati Bernardi. O amor com hora para acabar é o único que me interessa, é o único que sei amar, é até onde posso ir. Imagine que um avião cheio de mágoas e crianças envelhecidas pela dor vai bater no seu mundinho perfeito e estratégico e fazer explodir pelos ares o que você acreditava que era uma vidinha feliz e romântica. Já eram ombros largos, já era porta-retrato de sorrisos endurecidos pra sempre, já era o seu ódio pela imperfeição. Por isso, antes de dormir hoje, imagine que, no meio da noite, aquele cara de todos os dias, que já lhe causou alguma emoção mas agora se concentra apenas em roncar, vai se levantar de farda e marchar para uma inexistência de honra e se perder num tempo distante. Sei lá, acho que tô lendo Herman Hesse demais e estou com a temática guerra na cabeça, mas imagine qualquer outra coisa, então: que ele vai espirrar e a força do espirro será tão forte que ele vai se despedaçar em moléculas pelo universo e adeus olhos grandes e boca ...
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O tempo ainda é a melhor coisa que inventaram. . Choque térmico Martha Medeiros Uma pessoa fica duas horas jogando frescobol na beira da praia sob um sol africano: 38 graus. Terminada a partida, joga as raquetes para o alto e corre para um mar de temperatura siberiana, bem ao gosto dos pingüins. Resultado: choque térmico. Você não precisa fazer a experiência: quem já teve um grande amor e perdeu de um dia para o outro sabe como é. Você passa meses, talvez anos ao lado de alguém que aquece suas noites, que a faz queimar, derreter. Não é um forno de microondas: é seu namorado, que não precisa apertar botão nenhum para fazê-la arder, basta tocar no seu braço e temos um incêndio no quarteirão. Tudo é quente entre vocês: os olhares, os beijos e o resto, principalmente o resto. Vocês são pólvora, querosene, gasolina. Altamente inflamáveis. Imagine anos e anos nesse fogaréu, até que um dia ele telefona e diz que conheceu outra pessoa, que continua a gostar de você, mas como amiga. Choque térm...
A dor que dói mais Martha Medeiros Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade. Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o escritório e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro...
As melhores e as piores coisas do mundo Martha Medeiros As melhores: banho escaldante, livro bom, acordar às seis da manhã e lembrar que é domingo, o dentista não encontrar nada para fazer na sua boca a não ser passar flúor. As piores: banheiro de avião, missa de sétimo dia, ir numa loja, adorar um casaco, ter dinheiro para comprá-lo mas como bom mão-de-vaca não comprá-lo, aí chegar em casa e descobrir que não tem um único casaco decente no armário e então voltar na loja no dia seguinte e descobrir que mudou a coleção e ontem era o último dia com descontos de 50% sobre o preço da etiqueta. As melhores: a pessoa que você está a fim também está a fim de você, qualquer episódio de Os Normais, sua tia que sempre lhe deu presentes criativos (como aquele colete de bolinhas de madeira para colocar no banco do carro) resolveu dar dinheiro esse ano. As piores: ler jornal no vento, faltar luz quando você está no elevador saindo para um compromisso para o qual já está atrasado, pisar em algo mele...
Rilke, “Cartas a um jovem poeta”. . (...) Não se deve deixar enganar em sua solidão, por existir algo em si que deseja sair dela. Justamente tal desejo, se dele se servir tranqüila e sossegadamente como de um instrumento, há de ajudá-lo a estender a sua solidão sobre um vasto território. Os homens, com o auxílio das convenções, resolveram tudo facilmente e pelo lado mais fácil da facilidade; mas é claro que nós devemos agarrar-nos ao difícil. Tudo o que é vivo se agarra a ele, tudo na natureza cresce e se defende segundo a sua maneira de ser; e faz-se coisa própria nascida de si mesma e procura sê-lo a qualquer preço e contra qualquer resistência. Sabemos pouca coisa, mas que temos de nos agarrar ao difícil é uma certeza que não nos abandonará. É bom estar só, porque a solidão é difícil. O fato de uma coisa ser difícil deve ser um motivo a mais para que seja feita. Amar também é bom: porque o amor é difícil. O amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi...
"Maria Amélia lembra de uma brincadeira que fazia com os filhos. Perguntava a cada um o que mais gostava de fazer na vida. Ela nunca se esqueceu da resposta de Chico: 'Eu gosto de rir'". (Perfis do Rio: Chico Buarque, por Regina Zappa, pág. 28)
Negrinha Monteiro Lobato Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças. Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma — “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo. Ótima, a dona Inácia. Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da carne alheia. Assim, mal vagia, longe, na cozinha, a ...
Mais uma de amor Martha Medeiros Que algumas pessoas não acreditem que o homem esteve mesmo na lua, dá até pra entender, mas tem gente que não acredita em amor, e isso é imperdoável. Podemos não acreditar no que nossos olhos vêem, mas não podemos desacreditar no que sentimos. Você já ficou com a boca seca diante de uma pessoa? Já teve receio de ela estar ouvindo as batidas do seu coração? Bem, isso tudo não é prova de amor, apenas de ansiedade. Amor é outra coisa. Amor é quando você acha que a pessoa com quem você se relacionava era egoísta, possessiva e infantilóide e isso não reduz em nada a sua saudade, não impede que a coisa que você mais gostaria neste instante é de estar tocando os cabelos daquela egoísta, possessiva e infantilóide. Amor é quando você não compreende direito algumas coisas, mesmo tendo o QI mais elevado da turma, mesmo dominando o pensamento de Sócrates, Plutão e Nietzche. Perguntas simples ficam sem resposta, como por exemplo: como é que eu, sendo tão boa gente, ...
Amor Bastante Paulo Leminski quando eu vi você tive uma idéia brilhante foi como se eu olhasse de dentro de um diamante e meu olho ganhasse mil faces num só instante basta um instante e você tem amor bastante um bom poema leva anos cinco jogando bola, mais cinco estudando sânscrito, seis carregando pedra, nove namorando a vizinha, sete levando porrada, quatro andando sozinho, três mudando de cidade, dez trocando de assunto, uma eternidade, eu e você, caminhando junto
Essa negra fulo Jorge de Lima Ora, se deu que chegou (isso já faz muito tempo) no bangüê dum meu avô uma negra bonitinha, chamada negra Fulô. Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá) — Vai forrar a minha cama pentear os meus cabelos, vem ajudar a tirar a minha roupa, Fulô! Essa negra Fulô! Essa negrinha Fulô! ficou logo pra mucama pra vigiar a Sinhá, pra engomar pro Sinhô! Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá) vem me ajudar, ó Fulô, vem abanar o meu corpo que eu estou suada, Fulô! vem coçar minha coceira, vem me catar cafuné, vem balançar minha rede, vem me contar uma história, que eu estou com sono, Fulô! Essa negra Fulô! "Era um dia uma princesa que vivia num castelo que possuía um vestido com os peixinhos do mar. Entrou na perna dum pato saiu na perna dum pinto o Rei-Sinhô me mandou que vos contasse mais cinco". Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! Vai botar para dormir esses meninos, Fulô! ...
Anias Ninn “É como uma doença, o desejo de ver alguém, o anseio profundo e forte. E você acabou de vê-lo, e vê-lo amanhã não vai satisfazer, e a mesma doença, como uma fome, chegará até você, mais forte a cada vez que você o vê. Não, eu não expliquei isso. Eu estava trabalhando hoje, escrevendo. Minha cabeça estava ocupada: minha mente estava repleta do trabalho. Ainda assim, todo o tempo, eu estava ciente de uma dor - corrosiva - como se um pedaço de mim tivesse sido arrancado. E a mente não pudesse fazer nada sobre isso. Era físico: estava nas veias, no sangue, na pele. Eis por que as relações humanas são tão perigosas - porque a mente não tem poder sobre elas”. “Estou diabolicamente só. O que eu precisava era de alguém que pudesse me dar o que eu dou a Henry: essa atenção constante. Eu leio cada página do que ele escreve, eu acompanho suas leituras, eu respondo a suas cartas, eu o ouço, eu lembro de tudo que ele diz, eu escrevo sobre ele, eu lhe faço presentes, eu o protejo, estou p...
Como será a nova namorada dele Martha Medeiros Aí terminaram o namoro. Você ficou meio magoada, ele se sentindo meio culpado, mas deram meia-volta, volver e cada um tomou seu rumo. Passam-se uns dias e surpresa: ele tem nova namorada. Claro que você foi a primeira a saber, suas amigas fizeram questão de lhe contar, afinal, adoram você. Tudo bem, tudo bem, que eles sejam felizes. Tudo bem uma pinóia. Você já arrancou toda a cutícula com a boca. Está se mordendo para saber como é sua rival. Mais bonita? Mais feia? Caiu aqui: você vai odiá-la do mesmo jeito. Digamos que ela seja mais bonita. O cabelo é mais bonito. O corpo é mais bonito. E ainda por cima o nome dela é Paula e você é Ludislene Gorete. Enfim, o cara te trocou por uma gataça. “Que deve ser burríssima. Que deve ter mau-hálito. Que deve ser sofrível na cama. E ele, francamente, tem titica de galinha na cabeça. Coisa mais fora de moda dar valor para a aparência. Está se achando o rei da cocada preta com essa 'zinha' co...
Oração ao pé feminino Henfil Vem com pés de lã passear pelo meu peito. Vem de manso ou de repente, pé de anjo, vem de qualquer jeito Domar o meu espanto de ser subjugado sob os pilotis das coxas do objeto amado. Vem com uma pulseira de cobre nos artelhos, exorcizar os mil demônios que se enroscam entre os meus pentelhos. Vem ser lambido, lambuzado, entre os dedos, vem girar os calcanhares no meu rosto, torturador sádico querendo extorquir segredos. Vem me submeter a tua tirania sem idade, vem violentar e ser violentado, cair de pé, em pé de igualdade. Vem com teu exército de dedos sobre mim perplexo. Vem pedestal. Vem sereníssimo esmagar a cabeça de serpente do meu sexo.