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Em busca da civilidade (im)possível
por Nina Lemos, do blog "02 Neurônio"

Três semanas sem vê-lo depois que o mundo desabou sobre nós. Voltei a viver e a gostar da minha vida. Acordo bem. ELE não é a primeira coisa em que penso quando acordo.
Aquele top fofo que comprei na Fashion House não me lembra ele. Me lembra apenas que eu gosto da roupa. Coloco sem culpa, para ser elogiada por outros homens, não por ele, que elogiou - um dos últimos elogios enquanto o mundo desabava sobre nós.
Minhas calcinhas bonitas não me lembram mais ele. Nem a rua dele, nem nada. Recuperei-me. Recito "as coisas não precisam de você". É isso mesmo. Não precisam.
Ele deixa um recado na secretária. Eu não ouço. Olha só, não ouvi porque não estava esperando. Mas ligo para ele. Temos conversa extremamente civilizada e carinhosa, agora, depois que o mundo desabou sobre nós.
E agora, enquanto escrevo, ele acaba de entrar no MSN. É verdade. Pontada de dor no coração. Perdi o ritmo.
Isso porque decidimos ser civilizados. Combinamos que seremos amigos. Ele quer que eu vá no aniversário dele (que só é em junho, olha só). Nos prometemos coisas boas.
E a civilidade depois que o mundo desabou dói. Como assim aniversário? E se ele estiver namorando alguém? E se eu estiver?
Será que eu quero olhar pra ele e ver a cara do amor que deu errado? Ou será que eu quero ver outras caras que me mostrem que o amor pode dar certo?
Talvez a civilidade não exista para os sentimentais. E, sinceramente, não quero voltar a chorar, agora que eu parei e até voltei a usar meus cremes e meu corretivo MAC.
Por isso, brava que sou, sei que ele está online, mas não falo oi.
No momento, melhor outros "ois". E se acharem isso incivilizado, a minha resposta é: fôda-se.
"Não sentem, porque haveriam de sentir?". Sempre o Pessoa. Sentimental eu sou. Civilizada? Não, obrigado. Eu tenho medo.

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