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Círculo vicioso
Machado de Assis

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
- “Quem me dera que eu fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela !”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

- “Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela...”
Mas a lua, fitando o sol com azedume:

- “Mísera ! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal que toda luz resume !“
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

- “Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume ?”

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"[...] Tio Terêz o levara à beira da mata, ia tirar taquaras. [...]  - Miguilim, este feixinho está muito pesado para você?.  - Tio Terêz, está não. Se a gente puder ir devagarinho como precisa, e ninguém não gritar com a gente para ir depressa demais, então eu acho que nunca que é pesado". Guimarães Rosa, "Manuelzão e Miguilim".