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Às seis da tarde
Marina Colasanti

Ás seis da tarde as mulheres choravam no banheiro.

Não choravam por isso ou por aquilo, choravam porque o pranto subia garganta acima, mesmo se os filhos cresciam com boa saúde, se havia comida no fogo e se o marido lhes dava do bom e do melhor.
Choravam porque no céu, além do basculante, o dia se punha, porque uma ânsia, uma dor, uma gastura era só o que sobrava dos seus sonhos.
Agora às seis da tarde as mulheres regressam do trabalho, o dia se põe, os filhos crescem, o fogo espera, e elas não podem, não querem chorar na condução.

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