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:: Hoje ::
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Desencontro Marcado (Aldir Blanc): É, não vem, / não vou. / Deixa pra lá, / depois se vê. / Você queima / e eu não ponho / a mão no fogo por você.
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A Hora do Cansaço (Carlos Drummond de Andrade): As coisas que amamos, as pessoas que amamos são eternas até certo ponto. Duram o infinito variável no limite do nosso poder de aspirar a eternidade. Pensá-las é pensar que não acabam nunca, dar-lhes moldura de granito. De outra matéria se tornam, absoluta, numa outra (maior) realidade. Começam a esmaecer quando nos cansamos, e todos nos cansamos, por um outro itinerário, de aspirar a resina do eterno. Já não pretendemos que sejam imperecíveis. Restituímos cada ser e coisa à condição precária, rebaixamos o amor ao estado de utilidade. Do sonho de eterno fica esse gosto acre na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
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A despedida do amor (Martha Medeiros): (...) É uma dor mais amena, quase imperceptível. Talvez, por isso, costuma durar mais do que a dor-de-cotovelo propriamente dita. É uma dor que nos confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: eu amo, logo existo. Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente.
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Carta de navegação de um caso que acaba (Carlos Heitor Cony): (...) Nada. Deste meu nada, receba este amontoado de pranto que foi o meu amor. E por toda a vida, toma a minha vida.
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Tolerância pro amor (Martha Medeiros): (...) Até onde podemos ir? Até o limite do suportável. Um belo dia, depois de inúmeras repetições do mesmo erro, a gente desiste. Com tristeza pela perda, mas com alegria pela descoberta, diz pra si mesmo: “cheguei até aqui”. E, então, a vida muda.
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(Pablo Neruda): Já não se encantarão meus olhos em teus olhos, já não se achará doce minha dor a teu lado. / Mas por onde eu caminhe levarei teu olhar e para onde tu fores levarás minha dor. / Fui teu, foste minha. Que mais? Juntos fizemos um desvio na rota por onde amor passou. / Fui teu, foste minha. Tu serás de quem te ame, do que corte em teu horto aquilo que eu plantei. / Eu me vou. Estou triste: mas eu sempre estou triste. / Eu venho dos teus braços. Não sei para onde vou. / ...Desde teu coração diz adeus um menino. E eu lhe digo adeus.


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Lo que me gusta de tu cuerpo es el sexo. Lo que me gusta de tu sexo es la boca. Lo que me gusta de tu boca es la lengua.  Lo que me gusta de tu lengua es la palabra. (Julio Cortázar)
‎"[...] ousei escrever, em algum lugar, 'Freud e eu'. [...] Por que haveria algo de escandaloso, por parte de alguém que passou a vida inteira ocupado com a contribuição de Freud, em dizer 'Freud e eu'?". Lacan, "Seminário 16".
Ambiciosa Florbela Espanca Para aqueles fantasmas que passaram, Vagabundos a quem jurei amar, Nunca os meus braços lânguidos traçaram O voo dum gesto para os alcançar ... Se as minhas mãos em garra se cravaram Sobre um amor em sangue a palpitar ... - Quantas panteras bárbaras mataram Só pelo raro gosto de matar ! Minh’ alma é como a pedra funerária Erguida na montanha solitária Interrogando a vibração dos céus ! O amor dum homem ? - Terra tão pisada, Gota de chuva ao vento baloiçada ... Um homem ? - Quando eu sonho o amor de um Deus ! ...