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Nu

Manuel Bandeira


Quando estás vestida,

Ninguém imagina

Os mundos que escondes

Sob as tuas roupas.


(Assim quando é dia,

Não temos noção

Dos astros que luzem

No profundo céu.


Mas a noite é nua,

E, nua na noite,

Palpitam teus mundos

E os mundos da noite.


Brilham teus joelhos

Brilha o teu umbigo.

Brilha toda a tua

Lira abdominal.


Teus seios exiguos

- Como na rijeza

Do tronco robusto

Dois frutos pequenos -


Brilham.) Ah teus seios!

Teus duros mamilos!

Teu dorso! Teus flancos!

Ah, tuas espáduas!


Se nua, teus olhos

Ficam nus também;

Teu olhar mais longo,

Mais lento, mais líquido.


Então, dentro deles,

Bóio, nado, salto

Baixo num mergulho

Perpendicular!


Baixo até o mais fundo

De teu ser, lá onde

Me sorri tua alma,

Nua, nua, nua.

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